ESG

O que esperar da sociedade civil na COP27

ONGs, empresas e associações levantam demandas importantes para o debate de mudanças climáticas e justiça social na COP27, da ONU. Desafios do Egito, país sede do evento, também são observados

 (Arte/Exame)

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Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 7 de novembro de 2022 às 06h02.

Entre 6 a 18 de novembro acontece em Sharm El-Sheikh, no Egito, a 27ª edição da Conferência das Partes, a COP27. No evento estão previstas discussões sobre temas relevantes para a mitigação dos efeitos negativos do aquecimento global, acordos para a evolução do mercado de carbono, diminuição do desmatamento e mais.

A EXAME está na COP27, da ONU. Acesse a página especial e saiba tudo o que acontece no mais importante evento de mudanças climáticas, sustentabilidade e sociedade

Para além das plenárias compostas, em geral, por chefes de estados, há uma grande expectativa em relação ao papel da sociedade civil. Isto porque empresários, executivos, ativistas e lideranças de organizações não governamentais entendem a importância de ter diferentes atores nas conversas sobre o futuro da humanidade.

A delegação indígena, por exemplo, que no ano passado teve 40 participantes, deve seguir forte neste ano. De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), a pauta será a demarcação de território.

“No Brasil não há solução para a crise climática sem a demarcação de terras e, consequentemente, a proteção dos povos indígenas. Nós temos uma relação íntima com a Mãe-natureza e vemos de perto os efeitos da destruição ambiental que Bolsonaro causou, agora com Lula esperamos trabalhar juntos para que a situação mude”, diz Dinamam Tuxá, coordenador executivo da APIB.

A Amazônia, mais uma vez, é central no debate de mudanças climáticas, e deve ser observada por representantes de todos os países. "No Egito a gente repete pela terceira vez a organização desse espaço da sociedade, que está, a cada COP, se consolidando como um espaço plural, um espaço livre de ideias, apresentação de ideias e de debate. Neste ano, no Egito, a ideia do hub é mobilizar o Brasil para que se reencontre na agenda climática, reencontre seu protagonismo. A mensagem mais forte do Brazil Hub da sociedade civil este ano é a volta do Brasil para as negociações do clima. Há uma grande expectativa com o novo governo, com as primeiras ações em prol do combate ao desmatamento, do desenvolvimento sustentável da Amazônia", diz André Guimarães, diretor executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

Já para a  Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, movimento multissetorial composto por mais de 340 organizações, "embora a COP 27 já tivesse sido desenhada para ser uma conferência de ação, e não de demonstração de intenção, o que nela acontecer estará sob pressão não só dos desdobramentos para o clima, mas também para a equidade, para a natureza e a perda de biodiversidade. O sucesso ou não das ações propostas terá que responder a essas três dimensões".

Para Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, que tem 1700 empresas signatárias no país, há uma participação cada vez maior da sociedade civil nas COPs e agora não será diferente. "A sociedade civil quer e merece estar dentro das decisões e não apenas receber o que foi decidido. E destaco aqui as juventudes e como elas têm ganhado cada vez mais voz. E devem ganhar mais voz. Na COP26 já foi assim e agora devemos ter mais. As pessoas precisam estar nas mesas de negociação, com toda a certeza. Ainda não chegamos a esse ponto, mas esse é o caminho. E as empresas também devem bater recordes de participação. Elas são fundamentais nessa agenda e nos compromissos assumidos por governos, então é natural e muito importante que elas estejam também na Conferência", afirma.

O executivo lembra ainda que essa participação vai ser tão grande que o Pacto Global da ONU no Brasil vai ter um evento próprio pela primeira vez na história das COPs justamente para mostrar e debater o papel do setor privado em todas essas ações.

Desafios

O primeiro desafio se deu pelo deslocamento, especialmente de ativistas e organizações brasileiras sem fins lucrativos, uma vez que dois voos ou mais são necessários do Brasil até o destino final, encarecendo os custos.

Em seguida, há também uma questão financeira relacionada às acomodações. Apesar da libra egípcia valer alguns centavos de reais, organizações hoteleiras estabeleceram um valor mínimo de 250 dólares a diária para quem visita a cidade no período da COP27. No ano passado jovens fizeram "vaquinhas" para conseguir participar da COP26 e o movimento se repete neste ano.

Além disto, questões culturais do Egito estão sendo discutidas entre os participantes. Uma delas é sobre a repressão contra atitudes menos conservadoras. "Essa onda segue anos de repressão persistente e sustentada à sociedade civil e defensores dos direitos humanos usando uma segurança como pretexto para minar os direitos legítimos da sociedade civil de participar dos assuntos públicos no Egito", disse o O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos por meio de nota.

Já segundo publicação da Reuters, neste mês, cerca de 70 pessoas foram presas por ligação com protestos relacionados à COP27. Enquanto que, na COP26, em Glasgow, manifestantes se pronunciavam na frente do evento, sob a vigilância da guarda local.

De acordo com o embaixador da República Árabe do Egito Achraf Ibrahim haverá um espaço específico para manifestações. Assim como questões de gênero e orientação sexual serão asseguradas. 

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