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Potted green plant grows up in arrow shape over blue background. Concept business image (robertsrob/Getty Images)
Editor ESG
Publicado em 12 de abril de 2023 às 11h26.
Última atualização em 17 de abril de 2023 às 16h12.
Pergunte a qualquer pessoa que trabalhe com ESG, o conjunto de métricas socioambientais e de governança que ganhou o mercado nos últimos anos, sobre a frase que mais ouve quando descreve o conceito, e ela te dirá: “só funciona se der dinheiro”. Chega a ser cansativo. Até porque, em nenhum momento, os defensores de um capitalismo humanizado, voltado para o avanço do bem-estar social, propuseram a quebra sistemática de empresas como solução. A ideia é bem mais sofisticada.
O engraçado é que, sempre que um pesquisador resolve olhar para a questão, levantar dados e relacionar desempenho financeiro com aderência aos preceitos da sustentabilidade, o retorno é positivo. Foi assim, por sinal, que surgiu o movimento Capitalismo Consciente, a partir do trabalho do professor Raj Sisodia, da Babson College, sobre empresas com marcas muito fortes e pouco investimento em marketing. O segredo? Colocar o propósito à frente do lucro – o que, ironicamente, aumentava o lucro, descobriu Sisodia.
Na semana passada, um grupo de brasileiros apresentou novas evidências dessa relação simbiótica entre não destruir o único planeta capaz de abrigar vida humana e a rentabilidade das empresas no longo prazo. Carolina Sverner, Andrea Minardi e Fernando Tassinari Moraes, mestrandos do Insper, investigaram se as práticas ESG impactam o valor das ações das companhias.
Spoiler alert: sim, impactam positivamente.
Talvez a dúvida sobre a relação entre ganhos financeiros e práticas ESG seja motivada por uma diferença entre a lógica do mercado de capitais, e o ritmo constante de benefícios econômicos proporcionado pelo investimento em ESG. Afinal, se tem uma coisa que o investidor mais gosta além de retorno financeiro, é retorno financeiro rápido. Isso, empresas ESG dificilmente irão proporcionar. “Geralmente, essas empresas estão bem precificadas, e o investidor prefere manter”, afirma Carolina Sverner, uma das autoras do estudo.
Aí está o pulo do gato. O preço de uma ação, no final do dia, pode ser resumido a uma relação entre risco e retorno. O risco nas empresas ESG é sempre menor, então as oscilações são menores. "As empresas com menor sustentabilidade são mais arriscadas e, por isso, cobra-se um prêmio maior de retorno para investir nessas ações ou pratica-se um preço menor das ações", explica a pesquisadora, que também é analista de investimentos alternativos na Brainvest.
Sverner e seus colegas também identificaram algo mais direto sobre essa relação: o movimento das notas de ratings ESG impacta na mesma direção o valor dos papéis. Se sobe, sobe, e vice-versa. Não espere de uma empresa madura social e ambientalmente grandes saltos de preço – a não ser que essa empresa seja uma grande fabricante de cosméticos que resolve comprar a concorrente e acaba com um problema de endividamento. Já aquelas companhias que estão no meio de uma jornada ESG, e começam a ver suas notas de rating avançarem, se apresentam como boas opções para um retorno seguro e, até certo ponto, rápido.
E aí vem o “X” da questão. Estabelecido que o ESG aumenta o preço da ação, de quanto é esse prêmio? Os resultados mostraram que as ações com maior momentum ESG, ou seja, as que tiveram as maiores variações positivas de rating, têm em média um retorno ao mês entre 0,23% e 0,32% superior às que tiveram as maiores variações negativas. "É uma evidência de que os preços das ações se ajustam positivamente às variações do escore ESG, gerando retorno positivo para o acionista quando há melhora de práticas sustentáveis e um retorno negativo quando há piora", afirma Sverner. “No mínimo, sai de graça”. Se você é da turma do “só acredito vendo”, está aí uma oportunidade: invista em empresas ESG e tire a prova.