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Valéria Michel, diretora de sustentabilidade da Tetra Pak: "A demanda precisa crescer para a indústria produzir mais” (Tetra Pak/Divulgação)
Rodrigo Caetano
Publicado em 10 de março de 2022 às 18h24.
Última atualização em 14 de março de 2022 às 10h31.
Uma pesquisa da Tetra Pak, fabricante de embalagens que popularizou os produtos longa vida, aponta que 90% dos brasileiros consideram muito importante que as embalagens de alimentos sejam recicláveis ou produzidas de material reciclado. O percentual é semelhante ao dos que se dizem conscientes das questões ambientais (87%). Apenas 5% estão desconectados dessa pauta.
Os dados representam um desafio para a indústria de alimentos e, em especial, para a de embalagens. Ainda mais quando se constata que um percentual muito baixo de consumidores está disposto a pagar mais para receber um invólucro ambientalmente correto. O consumidor se preocupa com a questão, prefere a embalagem sustentável, mas desde que não custe mais caro.
Esse cenário gera uma corrida para desenvolver a solução ideal que atenda às especificações de higiene e segurança da indústria de alimentos. “Temos um plano para desenvolver a embalagem mais sustentável do mundo”, afirma Valéria Michel, diretora de sustentabilidade da Tetra Pak Brasil. “Pode parecer arrogante, mas, quando se sabe os degraus que precisa subir, conseguimos enxergar o resultado.”
Uma embalagem sustentável, segundo Michel, é feita de material reciclado ou de fontes renováveis, e está inserida em uma cadeia que viabilize sua reciclagem. As embalagens longa vida da Tetra Pak, atualmente, são compostas de 75% papel, 20% polietileno (plástico) e 5% alumínio. O plástico, grande vilão ambiental, por incrível que pareça, não é o maior desafio. Já existem soluções feitas de fontes renováveis, como a cana-de-açúcar, que estão sendo gradativamente incluídas na cadeia da empresa.
O maior problema é o alumínio, curiosamente o material mais reciclado do país. As caixas longa vida possuem uma fina camada de alumínio em seu interior que impede a entrada de luz. É essa folha, mais fina que um fio de cabelo, que permite a conservação dos alimentos por um período estendido, sem adição de conservantes. Separá-la do restante da embalagem, no entanto, é difícil — quanto menor for o número de componentes em uma embalagem, maior é a possibilidade de reciclagem.
A Tetra Pak está desenvolvendo um material para substituir o alumínio. Essa “barreira alternativa” será feita, preferencialmente, de fibras, como um papelão. O processo para chegar ao componente passa, primeiro, por desenvolver uma base polimérica, ou seja, um plástico. Em seguida, evoluir para matérias-primas renováveis para, enfim, alcançar o objetivo. A empresa lançou, no ano passado, um primeiro piloto, no Japão.
A entrada desse novo material no mercado não depende apenas do fabricante. “A demanda precisa crescer para a indústria produzir mais”, diz Michel. “Há empresas fabricando, por exemplo, plástico verde, porém, um aumento de produção não seria absorvido.”
O papel do consumidor, nesse caso, é fundamental. Apesar de que a maioria ainda não aceita pagar mais por uma embalagem sustentável, essa parcela vem diminuindo. A pesquisa da Tetra Pak mostra que, ao escolher um produto, o consumidor costuma olhar para o perfil ambiental da embalagem. Mas falta informação.
“É difícil engajar a população. Quase metade dos consumidores faz coleta seletiva em casa, porém, esse é o único indicador que não evoluiu de um ano para outro”, diz a diretora. Nessa equação, também entra a estruturação da cadeia de reciclagem. A Tetra Pak busca se aproximar dos catadores, que não costumam recolher embalagens longa vida.
O problema, diz Michel, é a baixa liquidez do material. Para resolver o problema, a empresa criou um projeto piloto que subsidia a compra das embalagens em R$ 0,50, metade para o catador, metade para o comprador. O programa teve a parceria da ONG Cataki. A taxa de reciclagem do longa vida no ano passado ainda será fechada, mas deve ficar entre 35% e 37%, o equivalente a 100 mil toneladas.