ESG

O mundo quer salvar a Amazônia, mas, antes, precisa conectar a Amazônia, diz CEO da Azul

Em Nova York, onde participou da semana do clima, John Rodgerson defende a estratégia da empresa de voar para cidades menores e diz que o que vai salvar o setor da crise dos combustíveis são as pessoas

John Rodgerson, presidente da Azul: "O Brasil não é Faria Lima, ou Brasília, ou Rio de Janeiro. Não podemos perder a noção da grandeza do país" (Leandro Fonseca/Exame)

John Rodgerson, presidente da Azul: "O Brasil não é Faria Lima, ou Brasília, ou Rio de Janeiro. Não podemos perder a noção da grandeza do país" (Leandro Fonseca/Exame)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 23 de setembro de 2022 às 12h18.

O americano John Rodgerson está no Brasil há 14 anos. “Sofrendo junto com vocês”, afirma o presidente da companhia aérea Azul, em um português correto e bem-humorado. Rodgerson encontrou a reportagem da EXAME no roof top do prédio da ONU, em Nova York, onde participou de um evento promovido pelo Pacto Global da ONU no Brasil, braço das Nações Unidas que congrega o setor privado. O mesmo local em que, pouco depois, chefes de estado do mundo todo discursaram durante a Assembleia Geral da entidade.

Rodgerson também assistiu, no local, a uma apresentação de artistas indígenas em conjunto com o DJ e produtor musical Alok (assista ao vídeo abaixo). É o tipo de produção amazônica que, na sua visão, deveria ser mais exportada. O executivo acredita que para salvar a Amazônia, primeiro, é preciso conectá-la. Não apenas tecnologicamente, mas a partir da logística de pessoas e mercadorias. A Azul é a companhia aérea que mais voa para a região e, recentemente, inaugurou um voo direto entre Manaus e Miami.

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Da sala de imprensa da ONU, Rodgerson falou à EXAME. Confira:

A Azul é a companhia aérea que mais voa para a Amazônia. Qual é a estratégia da empresa para a região?

O mundo quer salvar a Amazônia, mas antes precisa conectar a Amazônia. Ela precisa ser vista. Servimos 16 cidades da Amazônia Legal e, agora, temos um voo direto de Manaus para Fort Lauderdale, na Flórida. Tem tanta coisa boa acontecendo na Amazônia, com os povos originários, o meio ambiente. É possível desenvolver o turismo, da pesca, do ecoturismo. Muita gente não conhece, mas há uma produção artística e cultural intensa na Amazônia. A partir dos nossos voos, um artesão em um lugar remoto pode vender seu trabalho para um “gringo”, isso gera renda e desenvolvimento sustentável. Além disso, com nossas operações, criamos empregos qualificados nos centros urbanos.

Essa é a estratégia original da Azul, de atuar em regiões não atendidas pelas outras companhias aéreas. Com todas as mudanças no setor de transportes dos últimos anos, essa estratégia continua válida?

Costumo dizer que somos uma empresa de pessoas, não de transportes aéreos. Nascemos assim. Buscamos ajudar pessoas por meio da conexão. Conectamos 154 cidades no Brasil, sendo que nosso concorrente mais próximo está em cerca de 50. O Brasil não é Faria Lima, ou Brasília, ou Rio de Janeiro. Não podemos perder a noção da grandeza do país. Somos a maior companhia aérea em todos os estados. Voamos para diversas cidades em cada unidade da federação. E o que o Brasil precisa fazer é gerar emprego nesse interior. As pessoas no Norte, no Nordeste, precisam de uma carreira, de um plano de saúde. Esse é o nosso foco.

Qual é a relação dessa estratégia com a gestão de pessoas na Azul?

Durante a pandemia, eu liguei diretamente para mais de mil funcionários. Se o seu maior ativo é pessoas, você precisa se conectar com elas. Temos o maior NPS (índice que mede a satisfação de consumidores e empregados) do setor aéreo. Isso acontece porque nossos tripulantes são engajados. Quem a gente contrata precisa gostar de pessoas. Não adiante ser o melhor piloto do mundo se não gosta de gente. Quando a Azul foi criada, em 2008, foram estabelecidas duas metas: oferecer o melhor emprego do mundo e a melhor experiência de voo do mundo. Só teremos a melhor experiência se tivermos o melhor emprego.

O setor aéreo enfrenta um momento complicado, com aumento dos custos do combustível, diminuição das viagens em função da pandemia e do home office e guerra na Europa. Como a Azul encara esse cenário?  

Todas as empresas aéreas da Europa e dos Estados Unidos são subsidiadas pelo governo. Nós não. No auge da crise da pandemia, em 2020, pedimos ajuda aos nossos funcionários. Naquela época, tínhamos 13 mil empregados, e 11.716 tiraram licença não remunerada voluntariamente. Quando você encara o desafio do combustível alto, se o nosso piloto é engajado, ele se lembra de quando sacrificou o próprio bolso para salvar a empresa e vai economizar combustível. Esse desafio existe para todos, a diferença é como você enfrenta. A demanda no Brasil, atualmente, está forte. Nós sobrevivemos sete meses sem demanda alguma. E todo esse contexto de guerra acaba por promover mais o Brasil. Os brasileiros estão, finalmente, amando e conhecendo as belezas do país. Às vezes, sentimos a necessidade de vir para Nova York para salvar o mundo. Mas podemos fazer o mesmo indo para Pernambuco. O dinheiro do turismo precisa ficar no país.

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