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Na Inglaterra, uma em cada cinco mulheres diz sentir pressão no trabalho para alisar os cabelos (CoffeeAndMilk/Getty Images)
Rodrigo Caetano
Publicado em 8 de janeiro de 2021 às 10h52.
Última atualização em 8 de janeiro de 2021 às 10h53.
O racismo estrutural assume diversas formas. Uma das mais enraizadas no mundo inteiro diz respeito aos cabelos. O padrão de beleza mais difundido pela indústria e pela mídia sempre foi o de cabelos lisos ou, no máximo, cacheados. Isso exclui os cabelos negros, mais enrolados. A pressão por se enquadrar no que é considerado fashion em termos de penteado deixou marcas profundas na comunidade negra, especialmente entre as mulheres.
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O ator e comediante Chris Rock lançou, em 2009, o documentário "Good Hair", que mostra a cultura do alisamento de cabelos entre as mulheres negras americanas. De forma bem humorada e profunda, o filme mostra como mulheres chegam a assumir riscos de saúde em busca de um padrão irreal de penteado. Rock apresenta os efeitos do uso do hidróxido de sódio, mais conhecido como soda cáustica, para o relaxamento dos fios, prática que pode causar ferimentos graves. Ao final, o comediante apresenta sua filha com um belo penteado afro e diz: “ela não terá de passar por isso.”
Em busca de uma solução para o problema, a anglo-holandesa Unilever, uma das maiores empresas de bens de consumo do mundo, dona das marcas de shampoos Dove e Seda, entre outras, está apoiando iniciativas para acabar com a discriminação contra os cabelos negros e os penteados afro. Na Inglaterra, onde fica sua sede, a companhia acaba de lançar um fundo para apoiar iniciativas de orgulho negro, no valor de 170 mil libras, o equivalente a 1,2 milhão de reais.
O objetivo é aumentar a autoestima das meninas negras, para que elas se sintam seguras em mostrar sua verdadeira identidade e tenham orgulho de seus corpos e cabelos. Em dezembro, a empresa passou a apoiar oficialmente a campanha Halo Code, criada por uma organização britânica, que promove a aceitação dos penteados afro. Uma pesquisa realizada pela entidade aponta que uma em cada cinco mulheres negras britânicas diz sentir pressão no trabalho para alisar o cabelo.
A situação é pior entre os mais jovens. Quase 60% dos negros e negras pesquisados afirmam que foram xingados ou ganharam apelidos relacionados aos seus cabelos na escola, e 46% dos pais de alunos negros disseram que as escolas que seus filhos frequentam possuem políticas que penalizam os cabelos afro.
No Brasil, a companhia adota uma estratégia semelhante. Em janeiro e fevereiro desde ano, a marca Seda irá realizar uma série de mentorias com meninas negras. Serão disponibilizadas 2 mil vagas para os workshops, que serão realizados pelo Whatsapp. A iniciativa, batizada de Planejando Meus Sonhos, é feita em parceria com o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) e o Instituto Plano de Menina.
A indústria, no entanto, está demorando para acordar para as oportunidades de negócios entre a comunidade negra. Segundo o instituto de pesquisas Locomotiva, a população negra mundial consome, por ano, 1,5 trilhão de reais. Se formassem um país único, negros e negras estariam no G20 das economias globais. No Brasil, o consumo das favelas, de população majoritariamente negra ou parda, é de 150 bilhões de reais por ano. É mais do que países como o Paraguai e a Bolívia.
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