ESG

O empoderamento feminino na Arábia Saudita

Desde 2015 há um forte movimento de abertura cultural e econômica no país, que tem um impacto direto nas liberdades de direitos da mulher

Comércio Al Yasmin em Jeddah, Arábia Saudita (Tasneem Alsultan/Bloomberg)

Comércio Al Yasmin em Jeddah, Arábia Saudita (Tasneem Alsultan/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 13 de abril de 2022 às 07h00.

Por Carolina Andraus*

Tive uma riquíssima experiência de passar um mês imersa em um projeto de trabalho na Arábia Saudita a poucos meses e com isso há oportunidade de uma imersão incrível, não apenas por ter levado um projeto cultural importante para o Governo Saudita, juntamente com a companhia de teatro Oficina dos Menestréis, (fizemos um treinamento de capacitação para professores de escolas publicas Sauditas em teatro para crianças Autista e com Síndrome de Down),  mas também pelo apoio de grandes amigos e amigas locais, pessoas que puderam me inserir em um contexto ainda mais profundo de todas as nuances das transformação que vem acontecendo no país.

Desde 2015 há um forte movimento de abertura cultural e econômica no país, que tem um impacto direto nas liberdades de direitos da mulher. Foram sancionadas leis importantes, que permitiram avanços ao buscar transformar a realidade feminina, com conquistas importantes que dão as mulheres do país não apenas mais independência e autonomia pessoais, desde liberdades simples como poder dirigir carros em 2018, como terem legalmente o direto de obter passaportes e viajar sem permissão de um responsável masculino em 2019, até ter contas pessoais em banco, mas também finalmente o direito de exercer o direito ao voto.

Desde 2017, o rei Salman aprovou uma ordem permitindo que as mulheres obtivessem serviços governamentais, como saúde e educação, sem a necessidade de permissão de um tutor. Mais recentemente, as mulheres do Reino votaram e foram autorizadas a disputar – pela primeira vez na história do país – eleições municipais.

O que para nós parecem ser, à primeira vista, impensáveis não ter ainda tais liberdades pessoais conquistadas no século passado, para as sauditas é uma brisa de liberdade nunca vista. A grande maioria delas nunca provou dessa independência, e percebem a abertura em seu país de forma muito positiva e empoderada. Sim, acredite ou não as mulheres sauditas são muito fortes, decididas, e não no tempo que passei trabalhando com elas não percebi em nenhum momento submissão ou fragilidade, e sim fortaleza e inteligência de mulheres que, nos bastidores, já tinham um grande impacto em seu país.

Ainda mais impressionante é a quantidade de mulheres que rapidamente passaram a ocupar cargos importantes em departamentos governamentais, no setor privado e no campo da arte e do entretenimento. A ideia de empoderamento das mulheres e maior participação da força de trabalho tomou forma concreta com o lançamento do programa de reforma Visão 2030 do governo saudita em 2016. “Geralmente, o que você está vendo agora é uma taxa de participação mais alta devido ao aumento das oportunidades de emprego para mulheres em geral”, disse Norah Alyusuf, diretora de planejamento de negócios do Centro do Programa de Qualidade de Vida da Visão 2030, e uma das minhas grandes amigas sauditas.

“Há muito espaço para melhorias em ter mulheres em cargos de tomada de decisão em todos os níveis”, disse Alyusuf. “Somente quando você tem uma distribuição igualitária em todos os níveis, você pode obter um ecossistema equilibrado.” Alyusuf é membro do conselho fundador da Federação Saudita de Polo e é um defensora incansável da participação de mulheres e meninas nos esportes. Além disso, ela é a presidente do Desert Polo Event, organizado anualmente pela Royal Commission of AlUla.

De acordo com Alyusuf, historicamente, muitas gerações de mulheres foram limitadas em sua escolha de cursos universitários, devido à inacessibilidade de muitos papéis no ecossistema de emprego feminino na Arábia Saudita. “Mas hoje, o cenário regulatório para o emprego das mulheres empoderou drasticamente as mulheres na força de trabalho em apoio à Visão 2030”, disse ela.

“Esse ecossistema crescente e próspero incentiva e inspira a participação das mulheres em todos os fatores econômicos e regulatórios. Você está vendo mais diversidade, equilíbrio de gênero e competição saudável. As mulheres que vão para a universidade e hoje têm espaço para serem mais criativas, pois têm muito mais opções agora do que no passado.” Segundo ela, as mulheres hoje representam mais de 40% da força de trabalho do Centro do Programa de Qualidade de Vida, e estão conduzindo ativamente as iniciativas de apoio ao mandato de Qualidade de Vida. De acordo com a Autoridade Geral de Estatística, a participação feminina na força de trabalho do Reino aumentou para 33% no final de 2020, acima dos 19% em 2016, e promete continuar crescendo.

Para o período de 2018 a 2022, o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas elegeu a Arábia Saudita para a Comissão da ONU sobre o Status da Mulher e, no Índice de Mulheres, Negócios e Direito de 2021 do Banco Mundial, a Arábia Saudita obteve 80 de 100, bem à frente de a média mundial.  A Arábia Saudita teve uma reunião com a Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW) em 2018. A reunião de acompanhamento entre o Reino e a CEDAW acontecerá este ano para examinar quais das 35 recomendações detalhadas foram abordado.

A transformação vista pelas ruas, com os grandes eventos culturas que estão acontecendo no país, com o planejamento de 2030 que vemos em alguns países árabes, nos traz uma forte esperança em um mundo onde haverá mais oportunidades, mais igualdade de direitos, um maior equilíbrio social no papel das mulheres, que quando se tornam profissionais e têm a oportunidade de seguir carreiras passam também a conquistar a independência financeira, que e o principal alicerce para que possamos viver sendo respeitadas, ouvidas e plenamente experimentando e crescendo em nossos potenciais individuais.

*Carolina Andraus é formada pela FGV, ex-mercado financeiro, empreendedora, desenvolveu e vendeu diversos projetos no mercado imobiliário e de infra-estrutura. Cursou especializações na Harvard University e Columbia University. Recentemente tem se dedicando a projetos ligados à educação e a questões da igualdade de gênero e os direitos da mulher.

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