Apoio:
Parceiro institucional:
As docas de uma mina abandonada em Moengotapoe, Suriname, em 16 de dezembro de 2020. O surgimento da nação como uma potencial estrela na produção de petróleo poderia ajudar um novo governo que tenta reconstruir o país. (Adriana Loureiro Fernandez/The New York Times)
As águas do Atlântico ao largo da Guiana se tornaram uma das zonas de perfuração de petróleo mais agitadas do mundo. Agora, executivos internacionais do setor estão de olho no vizinho Suriname.
A Exxon Mobil, a Royal Dutch Shell, a Total, a Apache e várias outras empresas estão preparando operações ao largo da costa do Suriname. Elas esperam que o país sul-americano, que recentemente emergiu de décadas de governos autoritários e corruptos, seja a próxima grande fonte de petróleo.
Mas o mundo tem petróleo mais do que suficiente, e os preços dos produtos petrolíferos estão relativamente baixos. Além disso, o interesse dos investidores nas companhias petrolíferas está diminuindo à medida que as preocupações com as mudanças climáticas incentivam a adoção de veículos elétricos e energia renovável.
Essas preocupações não afetam o interesse no Suriname. As companhias petrolíferas dizem que podem ganhar dinheiro lá mesmo que o preço do petróleo seja de 30 a 40 dólares por barril, por causa dos custos mais baixos. Isso é aproximadamente equivalente ao valor na Guiana e bem abaixo do preço atual do petróleo. Também está abaixo dos níveis que compensam investimentos em muitos lugares, incluindo alguns campos de xisto dos EUA, onde os custos geralmente chegam quase a 50 dólares por barril.
Uma das razões pelas quais é mais fácil ganhar dinheiro é que o Suriname exige uma participação menor das companhias petrolíferas do que vários outros países da América Latina, incluindo o Brasil, a Bolívia e o México. O Suriname quer atrair investimentos e impulsionar uma economia problemática, que o Fundo Monetário Internacional prevê que vá se contrair 13,1% este ano, e corrigir suas finanças doentes.
Os acordos de compartilhamento de produção por 30 anos que o Suriname oferece às companhias petrolíferas também são cerca de cinco a dez anos a mais do que os propostos por outras nações latino-americanas, dando às empresas mais tempo para investir, prospectar e produzir.
"O Suriname pode ser grande. Em quase todos os cenários, o mundo vai usar menos petróleo ao longo do tempo. Os vencedores na corrida para compartilhar o que resta dele serão aqueles que puderem produzi-lo a baixo custo", disse David Goldwyn, consultor que foi o principal diplomata de energia do Departamento de Estado dos EUA nos primeiros anos do governo Obama.
A recente retomada do interesse na Guiana e no Suriname é um tanto surpreendente, porque sua promessa como produtores de petróleo muitas vezes se mostrou vazia. As empresas perfuraram, sem sucesso, mais de cem poços lá, a maioria em águas rasas, de 1950 a 2014. Mas, depois que campos ricos foram encontrados nas águas profundas do Brasil, a Exxon Mobil e outras empresas voltaram a pesquisar. A Exxon achou petróleo nas águas da Guiana em 2015, abrindo a atual onda de exploração.
O Suriname, a Guiana e o Brasil estão atraindo mais investimentos do que o Golfo do México e outros campos petrolíferos mais estabelecidos. E estão ajudando a manter os preços globais relativamente baixos, minando os esforços da Rússia e seus aliados na Opep, como a Arábia Saudita, para gerenciar a oferta global e aumentar os preços.
Na Guiana, as companhias petrolíferas encontraram mais de dez bilhões de barris de prováveis reservas de petróleo e gás acessíveis, de acordo com a IHS Markit, empresa de consultoria energética. A produção começou em 2019 e está aumentando rapidamente. A Guiana já é responsável por uma das 50 maiores bacias petrolíferas do mundo, segundo consultores.
O Suriname tem pelo menos de três bilhões a quatro bilhões de barris de reservas, segundo especialistas em energia, ou quase metade do petróleo e do gás descobertos em todo o mundo no ano passado.
No entanto, explorar essas reservas de uma forma que beneficie seu povo poderia ser um desafio para o Suriname, ex-colônia holandesa politicamente volátil e governada durante grande parte dos últimos 40 anos por Desire Bouterse, ex-sargento do exército que assumiu o poder com um golpe de Estado. Em 1999, um tribunal dos Países Baixos condenou Bouterse por tráfico de drogas. Em 2019, um tribunal do Suriname o condenou pelo assassinato de 15 opositores políticos em 1982, sentenciando-o a 20 anos de prisão. Ele perdeu uma eleição e se aposentou no ano passado, mas acabou não sendo preso.
O novo presidente, Chan Santokhi, ex-chefe de polícia e ministro da Justiça, enfrenta muitos desafios, incluindo a pandemia do coronavírus e uma crise fiscal. A taxa de desemprego no ano passado foi de 11,2 por cento, e a inflação é extremamente alta; o FMI espera que os preços ao consumidor saltem quase 50 por cento este ano.
A exploração de petróleo e gás natural poderá facilmente tirar cerca de 600 mil habitantes do país da pobreza se o governo de Santokhi tomar as atitudes corretas. A história, porém, está repleta de exemplos de países que falharam em gerenciar adequadamente as riquezas energéticas e minerais, fenômeno que os economistas chamam de "maldição dos recursos".
Uma vantagem para o Suriname é que ele tem experiência na produção de pequenas quantidades de petróleo para uso doméstico e conta com uma companhia petrolífera nacional própria, a Staatsolie.
"Todos esperam o mesmo sucesso da Guiana. Todo mundo quer encontrar petróleo em uma nova bacia. Por quê? Porque, quando você está disposto a trabalhar em uma bacia dessas, os termos são melhores", disse Raoul LeBlanc, vice-presidente da IHS Markit.
Em vários contratos, o Suriname concordou em aceitar royalties equivalentes a 6,25 por cento da receita das companhias petrolíferas. Isso é mais do que na Guiana, mas menos da metade da taxa média no mundo em desenvolvimento, que é de cerca de 16 por cento. Nos Estados Unidos, as companhias petrolíferas normalmente pagam algo em torno de 12 por cento pelo petróleo que encontram em terras públicas.
"Baixo custo e baixo carbono é a fórmula daqui para a frente", afirmou Doug Leggate, chefe de pesquisa de equidade de petróleo e gás dos EUA no Bank of America Merrill Lynch, que acrescentou que descobertas futuras podem reduzir ainda mais os custos.
A perfuração no Suriname está apenas começando, mas crescendo rapidamente. Várias companhias petrolíferas planejam perfurar pelo menos 15 poços para avaliação e produção nos próximos dois anos.
"Estamos em uma superbacia – bem grande. Temos um produto muito bom, e estamos satisfeitos", declarou John J. Christmann, executivo-chefe da Apache, em uma teleconferência com analistas em novembro.
Como a principal exploradora de petróleo das águas do Suriname, a Apache começou a avaliar o campo há oito anos e fez do país uma peça fundamental para seu futuro, enquanto gastou menos em outros lugares. A Total, gigante francesa de energia com muito dinheiro e experiência em águas profundas, deve ajudar a Apache a acelerar a perfuração, atuando como a nova operadora de campo em uma grande área.
Outras empresas europeias estão vindo. A Royal Dutch Shell concluiu sua aquisição da posição da Kosmos Energy em águas do Suriname em dezembro, quando a Kosmos, com sede no Texas, decidiu cortar investimentos. "Estamos entusiasmados com a participação em uma nova bacia altamente promissora no Suriname, que viu algumas das maiores descobertas de petróleo do mundo em 2020", disse Marc Gerrits, vice-presidente executivo de exploração da Shell, em um e-mail.