ESG

NEOM, na Arábia Saudita: como criar uma cidade 100% sustentável do zero?

O propósito do projeto, de acordo com os responsáveis por ele, é mostrar que é possível seres humanos conviverem em harmonia e respeito com o meio ambiente

The Line (a linha), contará com diversas vilas interconectadas por uma linha de metrô subterrânea (NEOM/Divulgação)

The Line (a linha), contará com diversas vilas interconectadas por uma linha de metrô subterrânea (NEOM/Divulgação)

LB

Leo Branco

Publicado em 27 de março de 2021 às 11h15.

Última atualização em 13 de abril de 2021 às 17h20.

NEOM é um território na Arábia Saudita, onde pesquisadores de vários lugares do mundo estão se juntando para construir uma cidade totalmente sustentável. O projeto surgiu como iniciativa do governo da Arábia Saudita e hoje já conta com o lançamento da sua primeira cidade inteligente, a chamada The Line (“A Linha”) – uma cidade de 170 quilômetros conectados sem necessidade do uso de carros.

O propósito do projeto, de acordo com os responsáveis por ele, é mostrar que é possível seres humanos conviverem em harmonia e respeito com o meio ambiente, e é esse o objetivo que move todos os colaboradores do projeto não só no desenvolvimento 100% verde de infraestrutura e planejamento urbano, como também em pesquisa a favor da criação de novas matérias primas e produtos que facilitem essa convivência.

De acordo com Peter Terium, Diretor de Energia, Água e Alimentação do NEOM, a cidade será a primeira a ser construída para pessoas e não para carros, e tem como foco a população jovem da Arábia Saudita, para a qual querem oferecer um mundo novo de inovação e sustentabilidade.

Terium, que já estava pronto para fechar o capítulo profissional em sua vida quando surgiu a oportunidade de se juntar ao time do NEOM, hoje lidera o desafio de mudar a visão de um setor de mais de 100 anos: o sistema de energia.

São alguns os pontos positivos desse projeto citados pelo diretor de Energia: a Arábia Saudita está entre os cinco países com maior disponibilidade de energia solar e vento termal – essenciais para geração de energias renováveis Além do planejamento urbano sendo construído do zero, o projeto também inclui a minuta de legislação própria, criada do zero, para acomodar as inovações sendo implementadas.

E as inovações com certeza não se mantêm apenas no setor de energia, com mobilidade ganhando foco nas estratégias da cidade. Florian Lennert, Head de Mobilidade do NEOM e fundador do Instituto Grantham de Pesquisa de Clima e Meio Ambiente na London School of Economics, contou à EXAME Invest Pro um pouco sobre seus planos de manter locomoção com carros e transporte público em andar subterrâneo e desenhar a cidade de forma a anular a existência de trânsito.

Lennert acredita que cidades inteligentes envolvem muito mais do que a infraestrutura sustentável, devendo ter também como core o uso de tecnologia e planejamento que colaborarem na diminuição do estresse diário do ser humano, o que afeta diretamente sua qualidade de vida.

“A nossa ambição sempre foi de pensar o design da cidade junto com o sistema de transporte”, de forma a cortar o tempo de locomoção da casa ao trabalho e a espera em filas, por exemplo. É por isso que a The Line foi feita literalmente em formato de uma linha, permitindo a criação de um sistema de transporte de alta velocidade e alta eficiência que nasce do centro dessa linha e alimenta ambos os lados com a mesma potência.

Além disso, NEOM é todo pensado como a cidade dos “5 minutos” – tudo que você precisa no seu dia a dia está a cinco minutos a pé da sua casa ou do seu trabalho -, e o sistema de transporte é penado de forma a valorizar o transporte público e compartilhável, sempre dando prioridade ao pedestre, seja esse a pé, de bicicleta ou patinete.

Como a cidade funcionará: no térreo estarão as casas, já no primeiro subsolo estarão os serviços essenciais, no andar abaixo, a linha de metrô irá conectar os vilarejos (NEOM/Divulgação)

O trabalho de Terium e Lennert também contempla um sistema de energia e de transporte todo alimentado por energia verde. E com isso, um primeiro obstáculo: a cidade até pode dizer que é sustentável, mas se não tiver matéria-prima, recursos ou tecnologia o suficiente, dificilmente ela será sustentável.

É por isso que o projeto do NEOM investe também em pesquisa. Nas palavras de Peter, “inovação não tem passaporte”, e o sucesso do projeto depende da capacidade do time de inovar. Quando falamos de sustentabilidade, ainda falamos de recursos mal explorados e matéria-prima cara, e essas são barreiras que têm que ser quebradas com novas tecnologias.

Os times do NEOM vêm trabalhando em alguns projetos de inovação, como o desenvolvimento do hidrogênio verde como nova fonte de energia, e a possibilidade de produção de “carros voadores” para incentivarem o turismo e visita às maravilhas da Arábia Saudita sem que seja necessária a construção de estradas e a intervenção pesada no meio ambiente hoje ainda intocado.

Ainda enxergam no projeto a oportunidade única de inovar no conceito das cidades inteligentes: afinal, o que faz uma cidade inteligente?

Nos dias de hoje, a tecnologia nos permite sonhar com a evolução dos nossos espaços urbanos, mas é essencial termos como prioridade um planejamento também inteligente – e é aqui que a conversa com a NEOM realmente nos fez pensar. Terem como projeto o desenvolvimento do zero de uma cidade, que lhes concede a oportunidade de fazer o que nossas cidades não tiveram a chance de pensar todo o seu design com o mesmo propósito e objetivo.

Muito como um time, todos os sistemas de uma cidade têm de estar alinhados de forma a serem otimizados, e a tecnologia bem aproveitada. É o que o Floriam chama de “self-organizing sustainability”, em português sustentabilidade auto-organizada. Hoje, conseguimos analisar o trânsito, entender a movimentação das pessoas, suas preferências e rotinas só com o GPS do seu celular. E é com o uso dessas informações que conseguimos começar a prever, automatizar e otimizar os nossos sistemas.

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