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NEGÓCIOS SUSTENTÁVEIS: Fafá de Belém e a missão de fazer a Amazônia ser ouvida

Há 15 anos realizando o Fórum Varanda da Amazônia, a cantora revela os desafios de empreender na região

Fafá de Belém: "A Amazônia só vai com os amazônicos juntos" (Leandro Fonseca/Exame)

Fafá de Belém: "A Amazônia só vai com os amazônicos juntos" (Leandro Fonseca/Exame)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 10 de outubro de 2025 às 06h50.

Última atualização em 10 de outubro de 2025 às 11h09.

Fafá de Belém considera ter uma missão muito além dos palcos. Há 15 anos, a cantora paraense criou o Fórum Varanda da Amazônia, um evento que nasceu de uma inquietação simples, mas poderosa: por que o Círio de Nazaré, a maior manifestação religiosa do Brasil com até 3 milhões de pessoas, aparecia apenas alguns segundos nas televisões, enquanto festas menores ganhavam minutos de cobertura?

"Cada vez que eu voltava, eu pensava: por que o Círio só aparece 10 segundos?", relembra a artista.

A resposta veio com o tempo e se transformou em trabalho persistente de mostrar ao Brasil e ao mundo o que é a Amazônia real, o território de pensadores, empreendedores e guardiões de saberes ancestrais.

O ano da COP 30 e a urgência do protagonismo amazônico

Em 2025, ano da COP 30, principal conferência climática do mundo que nesta edição acontece em Belém do Pará, a Fafá vê uma oportunidade inédita de fortalecer o lema que considera permear tudo sobre a região amazônica: "Nada sobre nós, sem nós".

"Faltava sermos olhados", afirma. "A nossa caricatura era usada, mas não se falava do nosso pensamento. É como se nós não tivéssemos pensadores."

A artista destaca que Belém é a segunda cidade do Brasil onde as pessoas mais procuram uma segunda graduação - um dado que revela a profunda sede de conhecimento de uma população frequentemente invisibilizada.

"Nós fazíamos moda para o Rio de Janeiro nos anos 20. Ditávamos a moda. Mas isso foi sendo apagado."

15 anos construindo pontes entre saberes

Convencer pessoas a irem para Belém durante o Círio para um Fórum não foi tarefa fácil no início. Enquanto outras festas ofereciam diversão descomplicada, a Varanda propunha uma imersão cultural intensa, além da procissão a 50 graus.

"A gente levava com bombom de chocolate", brinca Fafá sobre as primeiras edições.

A persistência transformou o evento em referência. Hoje, o fórum - que foi realizado entre os dias 7 e 8 de outubro - promove imersões em igarapés e ilhas, além de reunir pensadores amazônicos em debate com especialistas de todo o país.

A empresária Luiza Helena Trajano, uma das apoiadoras, resumiu a experiência: "Esse foi o maior case que já fiz".

Com o tema "O futuro da Amazônia é hoje", o evento contou com painéis sobre mudanças climáticas, petróleo na Foz do Amazonas e outros temas urgentes.

A cantora Fafá de Belém conta, em entrevista à editora de ESG da Exame Lia Rizzo, o que motivou a criação de seu Fórum Varanda da Amazônia e como espera que a COP30 fortaleça esse legado. (Leandro Fonseca/Exame)

Os desafios de empreender na Amazônia

Transformar a Varanda em realidade não foi fácil. Fafá conta que precisou aprender na prática as particularidades da região. Em uma das primeiras edições, uma profissional de logística de fora pediu que as vans saíssem durante a passagem de Nossa Senhora de Nazaré pela rua.

A reação foi imediata. Os motoristas se recusaram: "Ela é o motivo pelo qual a senhora está aqui", explicou um deles, indignado. Para o povo paraense, nada se move quando a santa passa. E esse conhecimento não estava em nenhum manual de eventos.

O episódio ilustra um aprendizado fundamental sobre Belém. É preciso unir o conhecimento técnico de fora com o saber local.

"Uma junção de coisas chamadas humildade, percepção e validação", resume a cantora, que hoje conta com uma equipe quase 100% paraense para botar seu evento de pé.

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O legado além da COP

Na análise de Fafá, a COP 30 é uma oportunidade passageira, mas cujo legado precisa ser permanente. Consultada por organizadores a cúpula internacional que querem entender como consegue realizar um festival há 15 anos, ela responde com transparência.

São necessárias capacidade de aprender, abertura para críticas e, principalmente, confiar que o povo paraense não vai abrir mão de receber bem. "E esse não é um serviço que se contrata", enfatiza.

A artista também defende que o empresariado local se engaje mais. "A única empresa paraense que nos apoiou e eventualmente nos apoia é a Serpa", revela, destacando que é necessário um esforço conjunto para que a cidade retome sua posição de capital cultural do Brasil.

Bioeconomia e o futuro que já começou

É na bioeconomia que Fafá enxerga uma oportunidade gigantesca para a região, citando exemplos como a Natura, que depende fortemente dos recursos amazônicos, e o trabalho de chefs como Joaninha, do Festival Ver-o -Peso da Cozinha Paraense, que incentivou produtores a voltarem a plantar ingredientes tradicionais.

Mas alerta: "A pergunta de trilhões é quando vamos ser inteligentes o suficiente para fazer com que a agenda de recursos naturais agregue valor para a nossa economia e que não sejamos um mero exportador de commodities."

"A Amazônia só vai com os amazônicos juntos"

Aos 70 anos e com 50 de carreira, Fafá de Belém continua dividindo seu tempo entre os palcos e o ativismo pela Amazônia.

Ela que nasceu na beira do Igarapé e nunca sonhou ser cantora, palestrou nas COPs do Egito e de Dubai, sempre levando a mensagem sobre a mulher amazônica e a urgência climática.

Sobre a COP 30, ela mantém o otimismo temperado com realismo: "Quando chegar outubro, Nazinha vai resolver tudo", diz, referindo-se a Nossa Senhora de Nazaré com a característica do paraense.

Mas além da fé, Fafá acredita no poder do diálogo, da construção coletiva e do respeito aos saberes locais. "A Amazônia é maior que qualquer um de nós. Mas ela só vai com os amazônicos juntos."

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