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Camila Ramos, CEO da CELA: "A COP30 é uma oportunidade única para o Brasil mostrar sua liderança e os caminhos para a descarbonização" (//Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 15 de agosto de 2025 às 16h30.
Última atualização em 15 de agosto de 2025 às 16h37.
O Brasil se consolida como líder em transição energética, mas enfrenta desafios técnicos e pressões geopolíticas que podem afetar o ritmo da descarbonização global.
A avaliação é de Camila Ramos, CEO e fundadora da CELA, consultoria especializada em investimentos em energia renovável na América Latina.
"O discurso de Trump anti-clima nos Estados Unidos é perigoso, tudo que acontece lá impacta o mundo", observou. Mesmo com possíveis efeitos na expansão de renováveis, ela pontua que pode haver uma "reconfiguração positiva" e a China consolidar sua liderança em energias verdes e novas tecnologias.
Em entrevista ao videocast da EXAME, a executiva detalhou como tecnologias emergentes estão revolucionando o setor energético brasileiro, desde a queda dramática nos custos de armazenamento em baterias até o protagonismo dos data centers na contratação de energia limpa.
Apenas em 2024, as baterias tiveram uma queda de preço de 40%. "Minha expectativa para 2025 é que tenhamos uma redução de 15 a 20% novamente", destacou Camila, ao lembrar que os leilões previstos para o segundo semestre devem ajudar a escalar a tecnologia verde.
O governo brasileiro respondeu à competitividade com medidas concretas. Este ano, a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) anunciou o arcabouço regulatório para sistemas de armazenamento, e está previsto um leilão específico para este segundo semestre, além da participação das baterias em leilões na região amazônica.
Segundo a especialista, a tendência segue o mesmo padrão observado nas energias eólica e solar.
"Lá nos anos 2000, começamos a instalar eólicas aqui no Brasil e lá por 2009 esse custo foi caindo e hoje é mais competitivo. A mesma coisa aconteceu com a solar", explicou.
Com vantagens comparativas únicas, o país tem quase 90% da sua matriz vindo de fontes limpas e possui recursos naturais abundantes para a diversificação.
Um dos fenômenos do setor é o protagonismo dos data centers, que em 2024 foi o que mais contratou energia limpa no Brasil (cerca de 1/3 no longo prazo).
Foram cerca de 208 megawatts médios contratados nos próximos 10 a 20 anos, impulsionados pelo crescimento da inteligência artificial.
"Agora que todo mundo usa ChatGPT e a a IA consome muita eletricidade, a questão é: de onde vai vir esta energia?", refletiu a CEO. A Cleantech tem trabalhado para impulsionar a agenda encontrando locais com conexão adequada e contratos mais competitivos no mercado.
Entre as tecnologias emergentes, o hidrogênio verde é uma solução em alta para "setores altamente emissores e de difícil descarbonização", por ser originado de fontes renováveis.
Embora ainda não tenha escala, as aplicações são vastas e estratégicas para o Brasil, destacou Camila. "Podemos produzir fertilizante verde, combustível sustentável de aviação (SAF), aço de baixo carbono e utilizar em diversos outros processos industriais que hoje ainda dependem de combustíveis fósseis", disse.
Por trás dos avanços tecnológicos, permanece a urgência climática. Com a COP30 se aproximando no coração da Amazônia, a executiva reforça que o Brasil enfrenta um dilema fundamental sobre seu posicionamento energético.
"Alguns anúncios importantes como a liberação da exploração de petróleo na margem equatorial de petróleo e gás são sinais de que estamos caminhando na direção contrária", ponderou Camila.
Ela cita outra contradição: um anúncio desde ano de um leilão de compra de térmicas fósseis, no oposto da trajetória de crescimento de renováveis.
Por outro lado, a CEO vê a COP30 como uma oportunidade única: "Devemos mostrar nossa liderança e os caminhos para países buscarem atingir esse nível de descarbonização em suas matrizes", destacou.