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Maria Netto, diretora do Instituto Clima e Sociedade: "Quando falamos de minerais críticos essenciais para a transição energética, Trump já disse que quer a Groenlândia" (Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 18 de julho de 2025 às 15h30.
Última atualização em 18 de julho de 2025 às 16h34.
Você sabia que os desastres climáticos já custaram mais de 730 bilhões à economia brasileira em 12 anos? "A conta" da emergência do clima, literalmente chegou: o prejuízo é na casa de bilhões e investir em resiliência e adaptação se torna uma questão de sobrevivência tanto para governos como negócios.
Na transição rumo à economia de baixo carbono, o Brasil enfrenta um dilema: como transformar sua abundância em soluções verdes em vantagem competitiva global?
A provocação é de Maria Netto, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade, organização filantrópica que acaba de lançar um hub para integrar as agendas de economia e clima.
Em entrevista à EXAME para o videocast "Negócios Sustentáveis", ela questiona: "A pergunta de trilhões é quando vamos ser inteligentes o suficiente para fazer com que a agenda de recursos naturais agreguem valor para a nossa economia e que não sejamos um mero exportador de commodities."
Apesar dos desafios, a executiva enxerga oportunidades únicas para o país no cenário geopolítico atual: abundância em terras raras, potencial gigantesco de produção de alimentos e de conservação da Amazônia, além da restauração de florestas.
"O ponto é: como transformar esta vantagem comparativa em competitividade no mercado e isso vai depender muito de como nos prepararmos", ponderou.
Em meio a guerras, insegurança energética e Trump no poder nos Estados Unidos, o mundo tenta driblar retrocessos na agenda climática e na expansão de renováveis, e Maria destaca que no fundo o que vamos ver a longo prazo é uma "briga por recursos naturais".
"Quando falamos de minerais críticos essenciais para a transição energética, Trump já disse que quer a Groenlândia", exemplifica.
Segundo ela, o setor do agronegócio brasileiro será parte fundamental da solução no combate à crise climática e não deve ser visto como 'vilão ambiental'. Para além de frear o desmatamento, ela defende seu papel para agregar valor na restauração florestal, agricultura regenerativa e resiliência frente aos impactos mais severos.
"O agronegócio tem um potencial tremendo de reduzir emissões. O Brasil tem mais de 100 milhões de hectares de áreas degradadas identificadas", lembrou.
A menos de quatro meses da COP30 em Belém do Pará, ela acredita em virar a chave da negociação para a implementação dos compromissos. O maior desafio? A governança e estrutura que vamos seguir nos próximos 10 anos em cada país e governo, com o envolvimento também de atores não estatais.
Confira o episódio completo do videocast no Youtube da EXAME:Com eventos climáticos extremos cada vez mais intensos e frequentes, o custo da inação é alto: não só de vidas, mas na economia. Segundo Maria, deveria ser óbvio dizer que economia e clima são intrinsicamente conectados, porque esses impactos tem um custo econômico que pode impactar o PIB, o preço dos alimentos e por aí vai.
"Historicamente, se olharmos as perdas financeiras causadas por desastres climáticos, são todos na ordem de bilhões. Ao mesmo tempo, menos de 50% foram asseguradas a nível global", ressaltou.
Nas enchentes históricas do Rio Grande do Sul, a situação foi ainda mais crítica: o rombo foi superior a R$ 70 bilhões e as infraestruturas brasileiras asseguradas representavam apenas 5%. "Isso significa que não havia uma preparação e entendimento de que estes eventos vão ocorrer mais vezes", comenta.
A executiva também alerta que governos não estão priorizando a adaptação climática como deveriam para tornar as cidades mais resilientes, e que a forma tradicional de análise de riscos não funciona mais.
"Não podemos mais só depender de dados históricos. Vamos ter que olhar para esse novo cenário futuro que é causado pela atividade humana e emissão de gases estufa e que tem um impacto de médio e longo prazo", explicou.
Para implementar as soluções em escala, ela enxerga o financiamento climático como peça-chave. Na última COP29 em Baku, no Azerbaijão, os países desenvolvidos chegaram a um acordo de financiar 300 bilhões de dólares anuais, valor muito aquém dos necessários 1.3 trilhão de dólares para os emergentes investirem em adaptação e mitigação.
A diretora citou a plataforma de investimentos para transição ecológica e clima do Brasil (BIP) como uma iniciativa inovadora do governo, mas alertou que não adianta você ter recursos e fundos e não ter capacidade do ecossistema nacional de absorvê-los para ações efetivas.
Em relação aos negócios, Maria frisou a necessidade de mudança de mentalidade: "Quem investe em infraestrutura vai ter que começar a pensar mais em adaptação climática, caso contrário irá perder muito mais dinheiro lá na frente", disse.
O hub lançado pelo Instituto Clima e Sociedade pretende justamente facilitar a integração da agenda de economia e clima, produzindo relatórios trimestrais sobre o impacto de eventos extremos no PIB brasileiro e no preço dos alimentos, além de oferecer prêmios para pesquisas na área.
"O grande desafio é começar a entender melhor as duas coisas como uma só, até para poder planejar melhor o nosso orçamento, o planejamento fiscal, os investimentos, mas também comunicar de forma mais efetiva a população e o que significa para o seu bolso", concluiu Maria.