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"Não fazemos pirotecnia": Marina Silva justifica cautela na criação de órgãos ambientais

Em Brasília, ministra afirma que respaldo do presidente está garantido, mas implementação de novas iniciativas ambientais segue ritmo próprio

Marina Silva: "Mudanças estruturais não se fazem da noite para o dia". (Leandro Fonseca/Exame)

Marina Silva: "Mudanças estruturais não se fazem da noite para o dia". (Leandro Fonseca/Exame)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 25 de fevereiro de 2025 às 12h05.

Última atualização em 25 de fevereiro de 2025 às 13h58.

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*De Brasília

Marina Silva discursou nesta manhã, em Brasília, na abertura do evento "Adaptação como prioridade para a COP30", promovido pelo Instituto Talanoa.

A ministra do Meio Ambiente focou em destacar o panorama das iniciativas governamentais em curso para enfrentar a emergência climática, enfatizando sobretudo a necessidade de equilibrar medidas de mitigação, adaptação e transformação ecológica diante dos desafios ambientais cada vez mais intensos que o país enfrenta.

A fala teve tom de prestação de contas, destacando os dados de combate ao desmatamento em diversos biomas brasileiros - como Marina já vem fazendo desde a COP29, no ano passado, em Baku. Em paralelo, a parlamentar reconheceu que o momento atual exige não apenas celebrar conquistas, mas acelerar a implementação de políticas públicas baseadas em evidências científicas.

A ministra detalhou ainda os elementos centrais da estratégia ambiental brasileira, incluindo o programa de adaptação às mudanças climáticas, atualmente em fase de consulta pública, que abrange 16 planos específicos, complementados pela agenda de mitigação com oito eixos setoriais. "Temos um plano de transformação ecológica de concreto", ressaltou.

Marina apontou também a contradição histórica na abordagem das questões climáticas. Em seu discurso, ela relembrou que já em 1896, o físico sueco Svante Arrhenius havia publicado um artigo científico alertando que o ritmo de uso dos recursos naturais e as consequentes emissões aqueceriam o planeta.

Esse conhecimento foi posteriormente reforçado na década de 1970 e pelo relatório Brundtland, culminando na Conferência do Rio em 1992.  "Mas muito do que deveria ter sido implementado ficou pendente", lamentou.

"Se tivéssemos feito o dever de casa no tempo adequado, hoje não estaríamos tão preocupados com adaptação, mas sim celebrando nossas conquistas", completou, evidenciando que a atual urgência de medidas adaptativas é resultado direto da inação global diante dos avisos da comunidade científica.

Sobre a COP30, a ministra defendeu uma Conferência "sóbria", considerando o "contexto de emergência climática, sofrimento e dor, especialmente em um dos ecossistemas mais frágeis do planeta", afirmou.

"Lula está sensibilizado"

Ao longo de seu discurso, Marina enfatizou a necessidade de novas estruturas institucionais para lidar com a emergência climática.

"Para além de termos um novo marco regulatório, precisamos de um conselho nacional de segurança climática, um comitê científico para dar suporte às ações e uma autoridade para a emergência climática", defendeu a ministra, reconhecendo que esse processo de criação de novos órgãos enfrenta desafios significativos dentro do governo.

De fato, implementação dessas estruturas é complexa por envolver diferentes setores e interesses. Para exemplificar esta ponderação, Marina lembrou o desenvolvimento do plano de combate ao desmatamento, que levou mais de um ano para ser finalizado.

"Não fazemos pirotecnia para apresentar qualquer coisa que depois não fique de pé", justificou, destacando a importância de estabelecer políticas públicas baseadas em "evidências, bom senso e ética".

Questionada por EXAME sobre se a criação dessas estruturas poderia ter um destino parecido com o da autoridade climática - compromisso assumido durante a campanha presidencial que nunca saiu do papel -, Marina contemporizou: "não falemos de passado. Essa não é uma mudança que se faz da noite para o dia", disse a ministra

"Precisamos criar um novo paradigma institucional e estrutural. Quando se estabelece uma agência para emergências climáticas, surgem implicações para diversos setores, como o mercado de seguros", completou, afirmando em seguida que o presidente Lula está sensibilizado para o tema, mas que o arranjo adequado exige planejamento cuidadoso.

"É uma questão de finalizar o modelo mais apropriado, não de convencimento", afirmou. Indagada se a proximidade da COP30 poderia acelerar essa decisão, Marina indicou que o debate interno segue seu curso próprio, independentemente do calendário internacional.

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