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Não é fácil ser verde: entenda o que é ‘greenwashing’, ‘greenwish’, ‘greenhush’ e ‘greenlash’

Desafios para um futuro sustentável são cada vez mais complexos

Infelizmente, a situação atual é de reviravolta e recuo nas ações climáticas. (TravelCouples/Getty Images)

Infelizmente, a situação atual é de reviravolta e recuo nas ações climáticas. (TravelCouples/Getty Images)

Mario Veiga
Mario Veiga

Colunista

Publicado em 8 de julho de 2024 às 14h00.

It’s not easy being green é a canção tema do Kermit, o icônico sapo marionete dos Muppets. Nos dias atuais este tema se aplicaria a todos os agentes que promovem estratégias de descarbonização e ESG (sigla para questões ambientais, sociais e de governança corporativa).

Há apenas quatro anos, o sentimento geral era de otimismo, por diversas razões:

1 - Os custos das renováveis tinham caído para valores mais baixos do que o de geradores fósseis a carvão e gás natural, o que permitia a descarbonização do setor de energia de maneira competitiva;

2 - Os veículos elétricos mostraram ser uma solução também competitiva para o transporte, deslocando gasolina e diesel;

3 - Houve um grande alinhamento das empresas e investidores em torno dos princípios ESG, liderados por Larry Fink, CEO da Blackrock, uma gestora “peso pesado” de US$ 10 trilhões em ativos, e por Mark Carney, ex-diretor do Bank of England e organizador do GFANZ (Glasgow Financial Alliance for Net Zero, que agregava grande parte das instituições financeiras mundiais, com 150 empresas e US$ 70 trilhões em ativos);

4 - Até as “Big Oil” (gigantes petrolíferas) anunciaram planos de redução das emissões de suas atividades de exploração de óleo e gás e investimentos significativos em energia renováveis, sinalizando uma transição para energia limpa. Um exemplo desta movimentação foi a BP, que adotou o “slogan” Beyond Petroleum.

Infelizmente, a situação atual é de reviravolta e recuo nas ações climáticas. A União Europeia, grande “motor” da transformação energética, está reduzindo muitos programas, sob pressão dos partidos populistas de extrema direita, que vêm recebendo uma votação expressiva com as bandeiras anti-imigração e de que o dinheiro das medidas de descarbonização deveria ser empregado em benefícios sociais como pensões para os aposentados.

Nos Estados Unidos, por sua vez, a questão climática sofreu uma politização extrema e quase surrealista: governadores de estados republicanos como a Flórida, curiosamente um dos mais afetados por furacões e aumento do nível do mar, proibiram não só ações como até menções a medidas de combate ao clima por parte do governo, e retiraram investimentos em fundos ESG.

A “cereja do bolo” é que comprar um veículo elétrico passou a ser visto como ação de democratas “woke”, (termo que indica pessoas que têm preocupações ambientais ou sociais). E isto sem falar na ameaça explícita de Donald Trump de fazer “terra arrasada” com o IRA (Inflation Reduction Act), programa de centenas de bilhões de dólares de incentivo a tecnologias limpas do governo Biden. Esta reviravolta, ou “backlash”, em inglês, ganhou o apelido de “greenlash”.

Paralelamente, está ocorrendo também uma “fuga das galinhas” das empresas que estavam nos grupos liderados pelo Fink, Carney e outros, por diversas razões. A primeira é que as Big Oil tiveram lucros estratosféricos com o aumento do preço do petróleo devido à guerra da Ucrânia. Isto fez muitos investidores pularem do verde ambiental para o verde do dólar. A segunda é que, devido à pressão política contra as empresas que praticam o ESG, muitas deixaram de divulgar suas atividades, na esperança de ficar “fora do radar”. Isto passou a ser conhecido por “greenhush”, do inglês “hush”, sinônimo de “quietinho”.

Para piorar, diversas iniciativas “verdes” foram desacreditadas, muitas vezes com razão, porque eram só enfeite. Estas iniciativas passaram a ser conhecidas como “greenwashing”, ou pintar de verde. Os principais alvos de críticas são os “carbon offsets”, créditos resultantes de atividades de descarbonização que as empresas compram para dizer que têm emissões zero.

Um exemplo típico é a plantação de árvores. À primeira vista, é uma atividade legítima de descarbonização porque as árvores de fato crescem absorvendo CO2. No entanto, se a plantação for desativada no futuro, ou houver um incêndio, o CO2 volta para a atmosfera, o que anula o benefício. Portanto, é muito difícil garantir que o CO2 vai ficar armazenado por centenas de anos. A própria Apple, que há cerca de um ano fez um comercial de TV caprichado para anunciar seus avanços na redução de emissões, foi criticada justamente pela compra de “offsets” duvidosos, curiosamente no Brasil.

Finalmente, chegamos ao “greenwishing”, que é o apelido de anúncios bem-intencionados, porém totalmente irreais, de medidas de descarbonização por parte de governos ou organizações. O contraste entre a grandiosidade dos anúncios e os resultados pífios têm dado muita munição aos adversários das medidas de descarbonização.

As empresas e organizações ambientalistas acusaram o golpe do “greenwashing” e estão propondo medidas de certificação de redução mais estritas, apoiadas em instituições com grande reputação como o Science Based Targets Initiative.

Estas medidas são obviamente importantes, mas o quadro geral é, infelizmente, de retrocesso nas ações de mitigação das mudanças climáticas. Este retrocesso é muito preocupante, porque coincide com o aparecimento de eventos extremos como ondas de calor, secas, furacões e inundações no mundo inteiro,  que em grande parte foram atribuídos ao efeito das mudanças climáticas por organizações científicas como o World Weather Attribution. E, como sabemos, a natureza não se importa com as nossas opiniões.

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