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A naja da espécie kaouthia, de origem dos continentes asiático e africano, possui um dos venenos mais mortais do mundo (Ivan Mattos/Zoológico de Brasília/Divulgação)
Rodrigo Caetano
Publicado em 12 de agosto de 2020 às 16h55.
Última atualização em 12 de agosto de 2020 às 17h01.
A naja que picou um estudante em Brasília, responsável por traficar a serpente ao Brasil, foi transferida para o Instituto Butantan, em São Paulo. A serpente realizou a viagem hoje, junto com outras cinco cobras exóticas, também resgatadas.
As cobras chegaram pelo Aeroporto Internacional de Guarulhos, em voo coordenado pelo Ibama. Elas serão registradas e passarão por exames clínicos, além de ficar em quarentena por 40 dias. Após esse período, será decidido se irão para o Museu Biológico ou participarão de atividades científicas e de educação ambiental.
O caso da naja chamou atenção para o preocupante tráfico de animais peçonhentos, um problema que gera riscos para a população e vem crescendo no País. No final de julho, o estudante de veterinária Pedro Henrique Krambeck, 22 anos, foi preso ao deixar o hospital, após quase duas semanas internado em virtude da picada.
Pode parecer um caso isolado, mas a realidade é que a importação ilegal de serpentes e outros animais peçonhentos avança perigosamente no Brasil.
“É muito provável que este não seja o primeiro caso de picada de naja, e é muito improvável que seja o último”, afirma Dener Giovanini, coordenador geral da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), ONG que combate o comércio ilegal de animais.
Durante cinco meses, a Renctas monitorou 250 grupos nas redes sociais ligados à atividade criminosa. Nesse período, foram identificadas 3,5 milhões de mensagens referentes à compra e venda de espécies exóticas, como cobras, aranhas, araras, papagaios e até sapos peçonhentos. Um aspecto chamou atenção da Renctas: é cada vez maior a importação de animais venenosos, prática proibida no Brasil.
Segundo Giovanini, é grande o número de serpentes e outros animais peçonhentos no País, embora não seja possível estimá-lo com precisão. “É uma atividade ilegal sem qualquer registro”, afirma. “E é muito perigosa para a saúde pública e para o meio ambiente”.
Embora seja possível criar algumas espécies em cativeiro, a importação é totalmente proibida, ainda mais de serpentes venenosas. O monitoramento da Renctas, no entanto, já identificou a entrada das cobras mais perigosas do mundo, como a víbora do Gabão, a cobra rei asiática e a temida taipan do interior, natural da Austrália, considerada a serpente mais peçonhenta do mundo. Seu veneno pode matar uma pessoa em menos de 45 minutos.
A importação de cobras atende a demanda de um hobby perigosos e irresponsável. “São colecionadores que competem, especialmente na internet, para ver quem tem a espécie mais perigosa”, diz Giovanini. “A cobra rei asiática e a naja são as mais cobiçadas”. A procura por essas espécies gera uma atividade ainda mais danosa, a criação de cobras estrangeiras em cativeiro. A queda recente no preço da serpente comprova que já existem criadores no País. Há seis anos, para ter uma naja, era preciso gastar pelo menos 15 mil reais. Hoje, é possível encontrar por cerca de 1 mil reais.