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Na luta entre princípios e lucro, 77% dos investidores preservam os ideais

Estudo mostra que, mesmo entre os que aceitam comprometer seus valores, o retorno do investimento deve ser substancialmente maior do que o normal

Os brasileiros seguem o padrão mundial. O porcentual dos que não trocam princípios por retorno também é de 77% (Richard Drury/Getty Images)

Os brasileiros seguem o padrão mundial. O porcentual dos que não trocam princípios por retorno também é de 77% (Richard Drury/Getty Images)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 9 de novembro de 2020 às 10h56.

Última atualização em 9 de novembro de 2020 às 11h19.

Todo mundo tem um preço, dizem os mais céticos. Mas, se isso for verdade, “me pergunto como eles dormem à noite, quando as vendas vêm em primeiro lugar e a verdade em segundo”, questiona a cantora Jesse J, em seu hit “Price Tag”. Pare por um segundo e reflita: o dinheiro é mais importante que valores e princípios? “Não se trata de grana”, canta Jesse J. “Só queremos fazer o mundo dançar. Esqueça o preço na etiqueta.”

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J não é a única cansada dessa obsessão por dinheiro. Uma pesquisa da gestora britânica Schroders mostra que os investidores também só querem fazer o mundo dançar -- ok, talvez não da mesma maneira. O estudo, conduzido em 32 localidades globalmente e com 23 mil pessoas, aponta que 77% dos investidores não investiriam contra suas convicções pessoais. Para a maioria, princípios e valores vêm em primeiro lugar. 

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Mesmo entre aqueles que admitem que trocariam seus ideias por dinheiro, o preço na etiqueta é salgado. Em média, o investimento teria de ser 21% mais rentável para compensar o peso na consciência. “Convicções e preferências pessoais são cruciais nos investimentos”, afirma Daniel Celano, diretor-presidente da Schroders Brasil. 

Os brasileiros seguem o padrão mundial. O porcentual dos que não trocam princípios por retorno também é de 77%. Na comparação entre países, China, Itália e Portugal são os mais propensos a manter suas convicções. Americanos, cingapurenses e tailandeses, por outro lado, são os mais “vendidos” e, na visão de Jesse J, os que dormem pior. 

A pesquisa traz uma surpresa em relação às gerações. Os millennials, jovens conhecidos pelo ativismo socioambiental, são os mais propensos a abandonar seus ideais pela grana. Um quarto deles considera a possibilidade. Quanto mais velho for o investidor, na realidade, menos propenso a fazer a troca. Entre as pessoas com mais de 71 anos, apenas 16% se venderiam. Talvez seja pela experiência de vida, que traz a certeza de que o dinheiro não compra felicidade. 

Para a Schroders, que administra 16 bilhões de reais no Brasil, os números deixam clara a importância de se incorporar os fatores ESG (meio ambiente, social e governança, na sigla em inglês) na gestão de portfólios. A gestora incorpora o ESG no processo de decisão de investimentos de renda variável. “O investimento sustentável muitas vezes tem significados diferentes. Para alguns, pode ser colocar uma maior ênfase nos investimentos em empresas que têm as questões ambientais no topo de suas agendas corporativas, enquanto outros podem buscar o desinvestimento em produtores de combustíveis fósseis”, explica Hannah Simons, diretora de estratégia de sustentabilidade da Schroders.

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Seja como for, o que parece fundamental é a transparência. Mais de 90% dos entrevistados pela Schroders querem ter mais informações sobre a sustentabilidades dos seus investimentos. No Brasil, 75% acreditam que disponibilizar esses dados é responsabilidade do governo ou dos órgãos reguladores, 74% acreditam que é das companhias e 53%, das gestoras de investimentos ou de grandes acionistas. Os céticos, ao que parece, vão ter de entrar na dança.  

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