ESG

Na falta de gás natural, Europa volta a queimar carvão

O uso de carvão no continente aumentou de 10% a 15% este ano depois que um inverno mais frio e mais longo que o normal esgotou os estoques de gás no continente

Vapor saindo das torres de resfriamento da usina a carvão na Alemanha (Bernhard Lang/Getty Images)

Vapor saindo das torres de resfriamento da usina a carvão na Alemanha (Bernhard Lang/Getty Images)

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Bloomberg

Publicado em 15 de junho de 2021 às 11h13.

A escassez de gás natural na Europa é tamanha que o continente — geralmente o mais visivelmente empenhado na luta global contra emissões de poluentes — está recorrendo ao carvão para suprir a demanda por eletricidade, que voltou aos níveis anteriores à pandemia.

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O uso de carvão no continente aumentou de 10% a 15% este ano depois que um inverno mais frio e mais longo que o normal esgotou os estoques de gás, explicou Andy Sommer, líder da equipe de análise fundamental e modelagem da corretora suíça Axpo Solutions. À medida que as economias reabrem e as pessoas voltam aos escritórios, países como Alemanha, Holanda e Polônia recorreram ao carvão para manter as luzes acesas.

Há muito tempo, a Europa está na vanguarda do movimento para reduzir o aquecimento global. O continente tem o maior mercado de créditos de carbono do mundo e impõe cobranças a distribuidoras de eletricidade, siderúrgicas e fabricantes de cimento que poluem o meio ambiente. Mas mesmo com os créditos de carbono batendo recordes neste ano, a redução dos estoques de gás tornou novamente generalizada a prática de queimar carvão, que é o mais sujo dos combustíveis fósseis.

“A demanda por energia tem sido muito forte na Europa e temos visto uma recuperação desde a pandemia”, disse Sommer em entrevista. “O armazenamento de gás está tão baixo agora que a Europa não pode se dar ao luxo de operar geração de energia extra com o combustível.”

A volta do carvão é um revés para uma Europa que se prepara para negociações climáticas em Glasgow ainda este ano. Líderes das maiores economias do planeta não conseguiram definir uma data firme para encerrar a queima de carvão quando o Grupo dos Sete se reuniu no fim de semana na Cornualha, Reino Unido.

A Europa enfrentou temperaturas congelantes no início do ano, impulsionando a demanda por aquecimento em um momento em que as cargas de gás natural liquefeito eram enviadas para a Ásia. A Rússia enviou menos gás para o continente através da Ucrânia e ainda não começou as operações do gasoduto Nord Stream 2, que levará gás russo para a Alemanha, o que deve acontecer ainda este ano.

Diante de todos esses fatores, o nível dos estoques europeus está 25% abaixo da média de cinco anos e o preço do gás holandês, que é referência nesse mercado, subiu mais de 50% este ano. Os contratos futuros são negociados perto da maior cotação para esta época do ano desde 2008.

“As pessoas achavam que a Rússia reservaria mais capacidade via Ucrânia e isso não aconteceu de forma significativa”, disse Trevor Sikorski, responsável pela área de transição energética e gás natural da consultoria Energy Aspects em Londres. “O mercado está muito apertado e tenta colocar menos gás no setor elétrico.”

A demanda por eletricidade recuou quando o coronavírus forçou o lockdown de cidades como Frankfurt e Londres, mas agora está de volta. Os níveis de utilização em países como Alemanha, Espanha e República Tcheca superam a média de cinco anos, mas permanecem estáveis na Itália e França, de acordo com relatório divulgado pelo Morgan Stanley na segunda-feira.

Com o suprimento de gás já restrito por intensos trabalhos de manutenção que reduzem os fluxos da Noruega, as distribuidoras de eletricidade recorreram novamente ao carvão para manter as luzes acesas. Embora os créditos de carbono sejam negociados perto do maior preço em registro, muitas companhias fizeram operações de hedge com anos de antecedência, o que significa que queimar carvão ainda pode ser lucrativo.

Geradoras com novas usinas “altamente eficientes” provavelmente conseguirão produzir energia a partir do carvão até 2023, mesmo com os preços altos do carbono, disse Sommer, da Axpo.

Em seu comunicado final, o G-7 reconheceu que o carvão é a maior causa única das emissões de gases do efeito estufa.

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