"Precisamos pensar a Amazônia como um lugar histórico, não só natural. A floresta é um legado dos povos do passado e patrimônio biocultural", disse em entrevista à EXAME, Eduardo Góes Neves, arqueólogo e professor e diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP).
Há mais de 30 anos desvendando os mistérios do bioma, Eduardo se dedica a arqueologia para estudar culturas e costumes de civilizações antigas e compreender aspectos culturais, sociais, econômicos e tecnológicos.
Em 2021, a National Geographic o procurou, após ter lançado uma nova modalidade de financiamento para proteger locais históricos ameaçados pelo mundo e o fez 'a pergunta de milhões': "Se você tivesse dinheiro, o que faria"?. Foi esta provocação que motivou Eduardo a criar o projeto "Amazônia Revelada", que tem como missão localizar sitios arqueológicos em áreas de floresta ao longo do arco do desmatamento e fazer seu registro como patrimônio cultural do Brasil.
Pela legislação brasileira, ao registrar estes territórios, se adiciona uma camada extra de proteção. "Nos últimos 40 anos, perdemos mais de 20% da floresta. Eu sou testemunha de parte desta história de destruição que começou há 500 anos atrás. Nossa ideia é usar a arqueologia como uma ferramenta de preservação, além de criar um vínculo com as populações que vivem ali", contou.
Na primeira fase com início em 2023, a iniciativa recebeu um investimento de R$ 9 milhões e utilizou a tecnologia Lidar (light detecion and ranging) -- um sensor que pode voar em um helicóptero, avião ou drone -- para sobrevoar as terras e realizar o mapeamento. Entre os parceiros, estão o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), Museu da Amazônia, Instituto Arapyau, Mapbiomas, Instituto Socioambiental e outras organizações.
Segundo Eduardo, a tecnologia apresentou resultados maravilhosos, mas é bastante custosa e ainda pouco escalável. Na prática, é como se fosse um raio laser acoplado em um avião ou outro objeto voador. Ao sobrevoar, emite milhares de ondas por segundo: a maior parte bate na copa das árvores, mas outra permite que os pesquisadores vejam a topografia das superfícies encobertas pela vegetação.
Até então, já foram 4 áreas de 400 mil km² mapeadas. Em 2025, o projeto entra em uma nova fase de análise e processamento dos dados coletados -- e busca novos parceiros no Brasil.
"Nem sempre a lei impede a destruição do patrimônio, mas é uma maneira de no mínimo dificultar. A ideia também é aumentar a conexão das populações com seus territórios e dar um sentido histórico mais profundo", destacou.
Para desbravar e estudar o território amazônico, o projeto pediu permissão e entendeu o interesse dos seus grandes guardiões: os povos indígenas. Isto porque Eduardo acredita fortemente na arqueologia como o resgate de um conhecimento tradicional e ancestral.
"Não é um processo linear, mas sim uma troca muito bacana. Serve como uma espécie de gatilho para lembranças e memórias que estão ali, mas muitas vezes ficam esquecidas. É uma questão de identidade, de resgatar o que se perde.", complementou.
Em um ano marcado pela Conferência do Clima da ONU (COP30) em Belém, no Pará, o cientista acredita que a solução para os problemas ambientais está justamente nos territórios, suas populações e na aliança com acadêmicos e ativistas. Mirando o futuro, ele deseja que o projeto tenha vida longa e vire um programa maior de mapeamento.
Visão colonialista e quebra de mitos
Na Amazônia, esta história é construída pelos povos originários: sua presença começa há pelo menos 13 mil anos. Em 1492, quando Cristóvão Colombo chegou às Antilhas, já haviam entre 8 e 10 milhões de indígenas em toda a região amazônica. Em Santarém, no Pará, Eduardo ressalta existir um solo muito escuro que conhecemos como 'terra preta' e está cheio de fragmentos de cerâmicas produzidas por quem já vivia ali há pelo menos 800 anos.
O arqueólogo conta que houve uma grande mudança na visão que se tinha sobre seu passado. Até os anos 90, a própria ciência entendia a Amazônia como um lugar marginal e periférico, muito moldado pela visão colonialista.
"Quando passamos a entender que a floresta que conhecemos foi formada por estes povos e é um centro importante de cultivo de plantas e cerâmicas antigas, aconteceu uma virada de chave. Aquela imagem de um lugar atrasado, que até hoje é muito forte no Brasil, a arqueologia ajudou a mudar", ressaltou Eduardo.
Segundo ele, é preciso mostrar que a floresta não é este espaço esvaziado, mas sim ocupado e moldado por muitas culturas e diversidades. Antigamente, por exemplo, não se sabia que estruturas de terras ou estradas eram construídas pelas próprias comunidades. E foi justamente esta imagem de uma região esvaziada que justificou sua destruição pelo desmatamento.
“A imagem pessimista que se tinha no passado neste território, também reflete sobre o futuro. E a grande mudança que apostamos é em quebrar estes mitos e levar a novas formas de pensar”, concluiu.
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Rio Amazonas -Amazonia - ribeirinhas - agro - boi - gado -fazenda - boiada - agronegocio - pecuaria -
Foto: Leandro Fonseca
data: 02/072023
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Rio Amazonas -Amazonia - ribeirinhas -
Foto: Leandro Fonseca
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Amazonia
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Amazonia
(Amazonia)
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Rio Amazonas -Amazonia - ribeirinhas - canoa
Foto: Leandro Fonseca
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Rio Amazonas -Amazonia - ribeirinhas - canoa
Foto: Leandro Fonseca
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Embarcação no Rio Amazonas -Amazonia - ribeirinhas - barco navegando rio amazonas
Foto: Leandro Fonseca
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Barco da marinha do Brasil - Embarcação no Rio Amazonas -Amazonia - ribeirinhas -
Foto: Leandro Fonseca
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Embarcação no Rio Amazonas
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Barco da marinha do Brasil - Embarcação no Rio Amazonas -Amazonia - ribeirinhas -
Foto: Leandro Fonseca
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Rio Amazonas -Amazonia - ribeirinhas -
Foto: Leandro Fonseca
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Comunidade ribeirinha no Rio Amazonas, entre Manaus e Parintins (Leandro Fonseca/EXAME)
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Rio Amazonas -Amazonia - ribeirinhas - canoa
Foto: Leandro Fonseca
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Ribeirinhos aguardam a passagem dos barcos na volta de Parintins (Leandro Fonseca/EXAME)
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Embarcação no Rio Amazonas -Amazonia - ribeirinhas -
Foto: Leandro Fonseca
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Embarcação no Rio Amazonas -Amazonia - ribeirinhas -
Foto: Leandro Fonseca
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Barco no Rio Amazonas
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Ribeirinhos aguardam a passagem dos barcos na volta de Parintins (Leandro Fonseca/EXAME)
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Rio Amazonas -Amazonia - ribeirinhas -
Foto: Leandro Fonseca
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Rio Amazonas -Amazonia - ribeirinhas - canoa
Foto: Leandro Fonseca
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Embarcação - caminhões tanque de combustivel - Rio Amazonas - Amazonia - ribeirinhas -
Foto: Leandro Fonseca
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Foto: Leandro Fonseca
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Rio Amazonas -Amazonia - ribeirinhas - canoa
Foto: Leandro Fonseca
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Ribeirinhos no rio Amazonas
(Rio Amazonas -Amazonia - ribeirinhas - Foto: Leandro Fonsecadata: 02/072023)
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Trecho de floresta no Pará
(Abaetuba no Pará - Amazonia -Foto: Leandro Fonsecadata: outubro 2022)
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(Notiê Amazonia -3 Crédito Wesley Diego Emes)
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Casas ribeirinhas da Amazonia - AM
foto: Leandro Fonseca
data: 04/2022
(Casas ribeirinhas da Amazonia - AM foto: Leandro Fonsecadata: 04/2022)
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Casas ribeirinhas da Amazonia - AM
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Amazonia - AM - Rio Negro - Selva - Expedição Katerre - Natureza - ribeirinha
foto: Leandro Fonseca
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Airão Velho - Ruinas de Airão Velho - Amazonia - AM - Rio Negro - Selva - Expedição Katerre - Natureza -
foto: Leandro Fonseca
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Ribeirinhas do Parque Nacional do Jau - ICMBIO - Rio Jaú - Amazonia - AM - Rio Negro - Selva - Expedição Katerre - Natureza -
foto: Leandro Fonseca
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Comunidade Ribeirinha Cachoeira do Parque Nacional do Jau - ICMBIO - Rio Jaú - Amazonia - AM - Rio Negro - Selva - Expedição Katerre - Natureza -
foto: Leandro Fonseca
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Comunidade Ribeirinha Cachoeira do Parque Nacional do Jau - ICMBIO - Rio Jaú - Amazonia - AM - Rio Negro - Selva - Expedição Katerre - Natureza - futebol
foto: Leandro Fonseca
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Comunidade Ribeirinha Cachoeira do Parque Nacional do Jau - ICMBIO - Rio Jaú - Amazonia - AM - Rio Negro - Selva - futebol - Expedição Katerre - Natureza -
foto: Leandro Fonseca
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Comunidade Ribeirinha Cachoeira do Parque Nacional do Jau - ICMBIO - Rio Jaú - Amazonia - AM - Rio Negro - Selva - Futebol - Expedição Katerre - Natureza -
foto: Leandro Fonseca
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Amazonia - AM - Rio Negro - Selva - Expedição Katerre - Natureza -
foto: Leandro Fonseca
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Samaúma a grande arvore da Amazônia - Amazonia - Parque Nacional do Jaú - AM - Rio Negro - Selva - Expedição Katerre - Natureza -
foto: Leandro Fonseca
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Rio Negro, na Amazônia
(Amazônia)
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Amazonia - AM - Rio Negro - Selva - Expedição Katerre - Natureza -
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Amazonia - AM - Rio Negro - Selva - Expedição Katerre - Natureza -
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Comunidade Ribeirinha Cachoeira do Parque Nacional do Jau - ICMBIO - Rio Jaú - Amazonia - AM - Rio Negro - Selva - Expedição Katerre - Natureza -
foto: Leandro Fonseca
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Comunidade Ribeirinha Cachoeira do Parque Nacional do Jau - ICMBIO - Rio Jaú - Amazonia - AM - Rio Negro - Selva - Expedição Katerre - Natureza -
foto: Leandro Fonseca
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Turistas na Expedição Katerre - Turismo - Amazonia - AM - Rio Negro - Selva - Expedição Katerre - Natureza -
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Abaetuba no Pará - Amazonia -
Foto: Leandro Fonseca
data: outubro 2022
(Abaetuba no Pará - Amazonia -Foto: Leandro Fonsecadata: outubro 2022)
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Abaetuba no Pará - Amazonia -
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(Abaetuba no Pará - Amazonia -Foto: Leandro Fonsecadata: outubro 2022)
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Foto: Leandro Fonseca
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Abaetuba no Pará - Amazonia -
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(Abaetuba no Pará - Amazonia -Foto: Leandro Fonsecadata: outubro 2022)
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(Abaetuba no Pará - Amazonia -Foto: Leandro Fonsecadata: outubro 2022)
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Abaetuba no Pará - Amazonia -
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(Abaetuba no Pará - Amazonia -Foto: Leandro Fonsecadata: outubro 2022)
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Abaetuba no Pará - Amazonia - barcos - ribeirinhos - ribeirinhas - casas
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Abaetuba no Pará - Amazonia -
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(Abaetuba no Pará - Amazonia -Foto: Leandro Fonsecadata: outubro 2022)