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Mundo vive 'crise de ganância', diz ex-CEO da Unilever

Paul Polman, referência internacional em sustentabilidade nos negócios, participou do Fórum Ambição 2030 do Pacto Global em São Paulo

Paul Polman é referência internacional em sustentabilidade nos negócios (Goncalo Silva/NurPhoto/Getty Images)

Paul Polman é referência internacional em sustentabilidade nos negócios (Goncalo Silva/NurPhoto/Getty Images)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 8 de março de 2023 às 10h46.

Paul Polman, ex-CEO da Unilever considerado referência internacional na área de sustentabilidade nos negócios, fez um duro diagnóstico da situação atual.

Para ele, muitos falam que esta é uma crise de mudança climática, de desigualdade ou de segurança alimentar, mas a crise é outra, afirma: "Quanto mais eu olho, mais acredito que, no fundo, a maior crise que o mundo enfrenta é a da ganância, da apatia e da preocupação exclusiva com o interesse próprio."

Ele também é autor de um livro que tem norteado empresas do mundo todo em sua trajetória de engajamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas — conjunto de metas para o enfrentamento dos problemas socioambientais: “Impacto positivo: como empresas corajosas prosperam dando mais do que tiram”, escrito em coautoria com o consultor de estratégia empresarial sustentável Andrew Winston.

Polman, que veio a São Paulo para participar do Fórum Ambição 2030, evento promovido pelo Pacto Global da ONU no Brasil, em parceria com a AYA Earth Partners, avaliou que a humanidade encara hoje um grande desafio moral.

"Precisamos de lideranças morais, mais humildes, mais humanas, que coloquem a pessoa à frente do interesse do acionista. Porque temos uma crise de ordem moral", disse.

Ele diz que o problema não é de ordem tecnológica. Sabemos como construir banheiros em áreas necessitadas, mas ainda assim, mais de 1,5 bilhão de pessoas não têm acesso a eles. Sabemos construir casas, mas o número de moradores de rua só aumenta. Sabemos prover educação, ainda assim 246 milhões de crianças no mundo são estão nas escolas:

"É sempre bom ter tecnologia, é excitante, facilita muito nosso trabalho. Mas a maioria dos desafios — a falta de coesão social, a destruição das democracias, a erosão da confiança— é infligido pelo ser humano. E só poderão ser resolvidos com força de vontade humana."

Polman lamenta os retrocessos nos esforços globais por uma nova economia causados pela pandemia, que, para ele, fez o mundo retroceder dez a 20 anos no que se refere às metas para o desenvolvimento sustentável. Mas ele diz que não significa que temos que abandoná-las, “mas que temos que trabalhar mais ainda para compensar o tempo perdido”, afirma.

Apesar dos obstáculos, Polman se mostra otimista com os avanços obtidos na Agenda 2030, o plano de ação traçado pela ONU para uma economia mais justa e sustentável em que se incluem os ODS:

"Em algumas áreas, isso já está acontecendo. Na transição energética, você vê as iniciativas se intensificando, apesar das guerras e das disrupções na oferta de energia. Nos Estados Unidos, temos o inflation reduction act (ato de redução da inflação, em português), iniciativa do governo de Joe Biden para a transição para energias renováveis e limpas, que mobilizará US$ 700 bilhões em investimentos."

Na Europa, ele cita o Pacto Ecológico Europeu, que define um roteiro para a transição para um futuro sustentável e favorável ao clima. “As ações se intensificam.”

Para o executivo, porém, já não é suficiente investir apenas na transição de modelos, mas pensar em como fazer uma “transição justa”.

"Não adianta fechar uma mina de carvão e não pensar que isso vai causar um grande desemprego. Precisamos começar a pensar simultaneamente em como ajudar os que ficarão desempregados."

Ele afirma que não adianta querer uma agricultura regenerativa sem pensar em como prover alimento para os 500 milhões de pequenos fazendeiros que existem no planeta:

"Quando estávamos celebrando a globalização não refletimos sobre aqueles que estávamos deixando para trás."

No Brasil, ele diz que percebeu um aumento do interesse das ONGs, do setor acadêmico, dos cientistas, além de empresas e governos, em saber mais sobre os caminhos a perseguir: "Estou energizado por este momento e pelo que estou vendo acontecer aqui."

Ele cita as ações que considera rápidas que foram tomadas pelo novo governo, traçando planos para desenvolver a bioeconomia da Amazônia, investindo para mudar o modelo econômico baseado em exploração e extrativismo, “que beneficia somente uns poucos, para um novo modelo, mais sustentável, inclusivo e que vai garantir um futuro próspero”.

"Estou convencido de que o mundo sai ganhando quando o Brasil avança, o que faz com que essa agenda ultrapasse as fronteiras do país."

Bomba-relógio

Polman afirma ter a impressão de que a humanidade está sentada sobre uma bomba-relógio.

"Ou seguimos com o business as usual arrogantes e cuidando dos próprios interesses, sem ligar para os stakeholders ou para as futuras gerações, encarando resultados catastróficos — muitos já inclusive acontecendo — ou usamos este momento para repensar nossas ações e fazemos as grandes mudanças necessárias. Tudo vai demandar sacrifício, trabalho duro. Nenhuma mudança dessa magnitude jamais foi fácil, mas é possível.

Para ele, a adesão de tantas empresas ao Pacto Global da ONU já sinaliza uma mudança de chave.

O Fórum Ambição 2030 reuniu no hotel Rosewood São Paulo, ontem, cerca de 500 lideranças empresariais, de ONGs, setor público e acadêmico para uma série de painéis e mesas de conversas focadas na Agenda 2030. O evento marcou o primeiro ano da estratégia Ambição 2030, iniciativa lançada pelo Pacto Global da ONU no Brasil e que tem 185 empresas engajadas em várias ações.

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