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Mundo caminha para um aumento catastrófico de 3,1°C com políticas climáticas atuais, alerta ONU

Às vésperas da COP29, novo relatório mostra que ainda é possível alcançar a meta de 1,5ºC do Acordo de Paris, mas apenas se países reduzirem 42% das emissões anuais de gases estufa até 2030

 (UniversalImagesGroup/Getty Images)

(UniversalImagesGroup/Getty Images)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 24 de outubro de 2024 às 11h55.

Última atualização em 24 de outubro de 2024 às 14h19.

“É um ano trágico, que deixou muito claro para a humanidade o abismo para o qual estamos caminhando”, disse Alexandre Prado, líder em mudanças climáticas do WWF-Brasil, à EXAME. Isso porque o relatório anual divulgado nesta quinta-feira, 24, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), não traz boas notícias: se as nações continuarem com as políticas atuais, o mundo irá enfrentar um aumento catastrófico da temperatura de até 3,1°C ainda nesta década. Caso cumpram de fato com as promessas climáticas, a alta seria limitada a 2,6-2,8°C. . O cenário traz impactos drásticos para as pessoas, para o planeta e para as economias, alerta a ONU.

Por outro lado, ainda há uma pequena janela de oportunidade: é tecnicamente possível atingir a meta de 1,5°C, mas apenas com uma mobilização global e ação rápida. Segundo o relatório, os países precisariam se comprometer coletivamente a reduzir 42% das emissões anuais de gases de efeito estufa até 2030 e 57% até 2035, na próxima rodada de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) submetidas em 2025, antes da COP30 no Brasil.

Já em um cenário de limitar o aquecimento global a menos de 2°C, as emissões devem cair 28% até 2030 e 37% dos níveis de 2019 até 2035.

Embora adicionar compromissos de neutralidade de carbono à implementação total das NDCs incondicionais e condicionais possa limitar o aquecimento global a 1,9°C, a ONU destaca que atualmente há baixa confiança na implementação.

“Chegou a hora decisiva para o clima. Precisamos de uma mobilização em uma escala e ritmo nunca vistos antes – começando agora, antes da próxima rodada de promessas climáticas – ou a meta de 1,5°C logo estará morta, e a de bem abaixo de 2°C ficará na unidade de cuidados intensivos,” escreveu em nota, Inger Andersen, Diretora Executiva do Pnuma.

Em 2023, as emissões de gases estufa bateram um recorde de 57,1 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente. Este atraso na ação significa que 7,5% das emissões devem ser reduzidas a cada ano até 2035 para a meta de 1,5°C, e 4% para a de 2°C, acrescentou o relatório.

Neste sentido, Alexandre destacou que o ano passado já foi bastante alarmante, e se soma ao que aconteceu nos últimos 12 meses, com desastres climáticos em todo mundo. "No Brasil, enfrentamos enchentes, secas, queimadas, entre outros eventos extremos. Ou agimos, ou o futuro será ainda mais trágico. E aí entra a (in)justiça climática: os mais vulneráveis e menos responsáveis pelo abismo, são os primeiros a cair".

Mas ao mesmo tempo que o relatório mostra a profundidade desse abismo e o tamanho da crise, também aponta o esforço que precisa ser feito — traçando algumas soluções e caminhos, complementou Alexandre. 

O aumento da implantação de tecnologias fotovoltaicas solares e energia eólica poderia fornecer 27% do potencial total de redução em 2030 e 38% em 2035. Já a ação sobre florestas poderia fornecer cerca de 20% do potencial em ambos os anos. Outros caminhos incluem medidas de eficiência, eletrificação e substituição de combustíveis nos setores de edifícios, transportes e indústrias.

Todo este potencial ilustra que é possível fazer a transição energética para fontes limpas, atingir as metas da COP28 de triplicar a capacidade de energia renovável até 2030, dobrar a taxa média anual global de melhorias de eficiência energética e conservar a natureza e os ecossistemas, reitera a ONU.

Além da ação imediata de governos, a mitigação exige reformas na arquitetura financeira global, forte ação do setor privado e cooperação internacional. O financiamento, pauta central da COP29 em Baku, também é peça-chave. Será preciso um aumento mínimo de seis vezes nos investimento para que o mundo alcance o zero líquido. E os membros do G20, maiores emissores globais, precisam liderar e aumentar a ambição.

O documento também aponta que as NDCs devem incluir todos os gases listados no Protocolo de Quioto, cobrir todos os setores e definir metas específicas e transparentes. Para os mercados emergentes e economias em desenvolvimento, também devem incluir detalhes sobre o apoio internacional e financiamento.

O relatório foi divulgado a menos de um mês da Conferência do Clima da ONU, que será de 11 a 22 de novembro no Azerbaijão, momento em que líderes tem a oportunidade de atualizar suas metas para combater a crise climática.

“Chega de conversa fiada, por favor. Usem as conversações da COP29 para aumentar a ação agora, preparar o terreno para NDCs mais fortes e, em seguida, ir com tudo para entrar no caminho de 1,5°C”, destacou Inger, na nota.

Segundo Alexandre, é preciso de ousadia política para alcançarmos a descabonização. “Existem interesses consolidados em uma economia de alta emissão, e no Brasil não é diferente. Precisamos de lideranças capazes de alterar essa rota para alcançarmos o que se espera de desenvolvimento econômico no século 21”, concluiu. 

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