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Mudanças climáticas e expansão do agro favorecem queimadas no Pantanal, diz especialista

Maior planície tropical alagada do mundo e hábitat de milhares de espécies de plantas e animais, o bioma sofre com a explosão de focos de incêndio

Origem: "Basicamente todos esses incêndios são focados na expansão da agricultura", diz Artaxo (AFP/AFP Photo)

Origem: "Basicamente todos esses incêndios são focados na expansão da agricultura", diz Artaxo (AFP/AFP Photo)

AFP
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Agência de notícias

Publicado em 22 de junho de 2024 às 16h28.

A forte seca que afeta parte do Brasil, vinculada às mudanças climáticas, assim como a expansão dos cultivos agrícolas, são os principais motivos do recorde de queimadas no Pantanal, afirma o físico Paulo Artaxo. Especialista em física aplicada a problemas ambientais e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), Artaxo considera chave que o governo use todos os métodos possíveis de fiscalização para evitar os incêndios causados pelo homem, especialmente para recuperar terras para o agronegócio.

Maior planície tropical alagada do mundo e hábitat de milhares de espécies de plantas e animais, o Pantanal registrou, entre 1º e 20 de junho, 1.729 focos de incêndio, o maior número para este mês desde que os dados começaram a ser compilados, em 1998.

Além disso, desde janeiro foram detectados mais de 2.600 focos de incêndio nesta região ao sul da Amazônia, superando os dados do primeiro semestre de 2020, que acabou sendo o pior ano para o bioma, com um quarto da superfície do Pantanal carbonizado. A seguir, a entrevista com Artaxo.

O que explica tantos incêndios no Pantanal este ano?
Artaxo: "O Pantanal, assim como toda a região do Brasil Central, está sofrendo, em 2024, uma das maiores secas de sua história causada pelas mudanças climáticas. Estamos observando uma redução muito forte da precipitação, que certamente está causando estes incêndios. Agora, é importante enfatizar que a maior parte desses incêndios são criminosos. Esses incêndios trazem prejuízos enormes para o ecossistema".

A maioria destas queimadas é provocada pelo agronegócio?
Artaxo: "Sim, basicamente todos esses incêndios são focados na expansão da agricultura".

Em maio, as cheias históricas no Rio Grande do Sul, vinculadas por especialistas às mudanças climáticas e ao fenômeno El Niño, têm alguma relação com estes incêndios?
Artaxo: "Não há dúvida que há conexão importante com as mudanças climáticas e sua ciência é muito, muito clara (...) Com as enchentes no Rio Grande do Sul, o que acontece é que um centro de alta pressão estacionou na região do estado de São Paulo e do estado de Mato Grosso, que agravou a situação de precipitação no Rio Grande do Sul.

Isto fez com que a região de São Paulo e a do Mato Grosso, onde fica o Pantanal, tivessem uma redução importante na precipitação com secas e temperaturas extremas que aceleraram a evapotranspiração. Com isso, a região se tornou mais seca e mais propensa a incêndios, como estamos observando atualmente".

O que se pode fazer para evitar que 2024 seja o pior ano de incêndios da história do Brasil?
Artaxo: "Basicamente mobilizar a Polícia Federal, o Exército, os meios legais que o Brasil tem para inibir incêndios criminosos, já que a grande maioria dos incêndios que ocorrem na Amazônia não são autorizados legalmente e constituem crimes ambientais".

É possível fiscalizar áreas tão extensas como a Amazônia?
Artaxo: "Sim, é possível fiscalizar, isso se faz definindo áreas prioritárias, definindo áreas onde a probabilidade de incidência desses incêndios criminosos é maior".

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