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Depois de ter 17.000 consultoras isoladas pela seca na Amazônia, Natura &Co foca em regeneração

Em entrevista exclusiva à EXAME, na COP28, Ângela Pinhati, diretora de sustentabilidade da Natura &Co aborda plano de regeneração da Amazônia, das comunidades e das vendas; executiva comenta ainda os desafios a partir da seca na região Norte

Angela Pinhati, diretora de sustentabilidade da Natura &CO, na COP28 (Leandro Fonseca/Exame)

Angela Pinhati, diretora de sustentabilidade da Natura &CO, na COP28 (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 10 de dezembro de 2023 às 08h10.

De Dubai*

Em cerca de duas décadas de trabalho na Natura &Co, Ângela Pinhati, diretora de sustentabilidade da companhia, nunca tinha visto os impactos das mudanças climáticas na operação de forma tão extrema quanto neste ano. “A gente sentiu na pele a seca na Amazônia, em novembro. Ao todo, 17.000 consultoras ficaram completamente isoladas, sem conseguir receber ou vender os produtos pela seca do rio e a inascessibilidade logística", diz.

O mesmo aconteceu com fornecedores de matéria-prima da região. "Ao menos três deles não conseguiam nos enviar os insumos". Agora, em Dubai, a executiva, que recém assumiu o cargo, participa da sua primeira COP e busca conectar todas as discussões que tem acompanhado com o aprimoramento de práticas sustentáveis da Natura &Co, especialmente quando o assunto é regeneração.

"O conceito da regeneração passa a ser o principal tema não só da agenda da Natura, mas de toda a companhia. Toda a estratégia da está em fase de revisão para ser relançada no início de 2024, quando as metas desenhadas para 2050 completarão 10 anos. Além disto, participamos de três paineis por aqui para difundir o conceito".

Além da natureza

O conceito da regeneração vem sendo tratado de uma forma holística, baseada em desenvolvimento, na cura de pessoas, das relações e da natureza, nas palavras da diretora. “Tudo que toca ou é tocado pelo nosso ecossistema de negócios deveria sair melhor do que entrou. Toda relação tem de ser de mútuo enriquecimento. Eu me beneficio porque uso bioativo da Amazônia, mas eu deixo lá o compromisso de floresta em pé, de gerar renda para a família e melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano das comunidades”, detalha a diretora.

Em maio, a companhia divulgou que em uma escala de zero a um, o IDH médio das vendedoras ficou em 0.632, com um aumento de 3,6%, a maior elevação já registrada e equivalente a duas vezes a média de crescimento anual. O índice é baseado no IDH medido pela ONU, mas não é comparável por seguir uma metodologia própria. A Natura considera três pilares: saúde, conhecimento e trabalho. No documento, os dois primeiros apresentaram crescimento em relação à pesquisa de 2020, de 6,7% e 8,9%, respectivamente. Na dimensão trabalho, houve uma queda de 7,2%, puxada pela rápida substituição de modelos de trabalho tradicionais por novos modelos digitais, o que motivou uma elevação nas experiências negativas das consultoras. 

Agora, segundo Ângela, o momento pede urgência. “Em um mundo em que teremos provavelmente o ano mais quente em 125 anos, quase oito guerras ao mesmo tempo, o sustentar não é mais suficiente para darmos conta dos desafios. Por isso, acreditamos que esta seja a oportunidade de restaurar, de curar a natureza, as pessoas e suas relações, a cultura e, em termos de governança, estamos trazendo este tema”, diz.

Angela Pinhati, diretora de sustentabilidade da Natura &Co, em entrevista à EXAME, na COP28 (Leandro Fonseca/Exame)

Regeneração na prática

Do ponto de vista de negócio, as principais materializações da regeneração estarão em frentes como Amazônia, com a escalada do desenvolvimento de bioativos para a linha Ekos e outros produtos. A meta da companhia é passar de 42 bioativos para 55 até 2030.

Em outra frente, a Natura atua com a implementação do sistema agroflorestal para óleo de palma, um dos principais bioativos da empresa. O projeto é 100% ancorado em regeneração. "As áreas que foram usadas como pastagens passam pelo processo de restauração, trazendo de volta à área as características de uma floresta graças à misturada a 5 a 18 espécies nativas da floresta", diz Ângela.

O processo, explica, ajuda a descarbonizar a cadeia de valor da empresa em 30%. "A prática tem um impacto importante na recuperação do CO2 da companhia, trazendo a descarbonização para a cadeia e gerando créditos de carbono. É uma forma de 'social nature based solutions' (solução baseada na natureza e sociedade, em tradução livre), porque a gente restaura a floresta e compartilha valor com as comunidades que, no final das contas, mantêm as florestas de pé. Garantir um salário digno para essas comunidades e manter a proteção é uma das nossas metas", diz. Atualmente, a Natura protege 1,8 milhão de hectares na Amazônia e quer chegar a 3 milhões em 2030.

Paralelamente, a companhia tem dedicado tempo à descarbonização levando em consideração a cadeia de valor (escopo 3). A Natura tem a meta de reduzir os escopos 1 e 2 - descarbonização direta até 2030, além de entregar a redução de 42% de escopo 3, também até 2030. Também está incluída a descarbonização de 100% até 2050 com o Science Based Targets (SBTi), continuando a com neutralização do remanescente.

A empresa estipulou ainda o compromisso de ter 50% dos projetos para neutralização baseados nas comunidades amazônicas para criar mais uma forma de renda, contribuir com a retenção das pessoas em suas comunidades e assim ter o apoio para manter a floresta de pé.

A justiça climática também entra no novo projeto da empresa, desenhada por meio do mapeamento dos principais riscos da América Latina, que são cruzados com as comunidades, os fornecedores, os colaboradores e a força de venda -- hoje são 4 milhões de consultoras na América Latina.

A relação entre as consultoras e os consumidores vem sendo desenhada para estar alinhada a esse momento da Natura &Co, com as relações passando pelo processo de regeneração com a ajuda da empresa. "Diferentemente das relações do dia a dia, muito dependentes ao distanciamento gerado por uma rotina digital, a ideia é ter as consultoras regenerando relações com quem compra seus produtos".

Desenvolvimento das consultoras

O olhar da empresa também é dirigido às consultoras para quem a empresa mantenha uma série de instrumentos de desenvolvimento, como a geração de renda e conhecimentos sobre educação financeira, além do desenho de um modelo ligado ao tema da seguridade social.

A executiva cita ainda a atenção com diferentes recortes de diversidade e inclusão, como análises que comparem o início da jornada como consultora a partir da análise racial. “Identificamos que a mulher negra é menos produtiva no início de carreira. Mas quando damos educação financeira e noções sobre aplicativos que permitam fazer um negócio melhor, ao subir para os níveis prata e ouro, a mulher negra é, em média, 20% mais produtiva. É mais um exemplo de como a regeneração representa também a inclusão a partir do uso dos dados, entendimento das estratégias e olhar para o desenvolvimento”, exemplifica.

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