Apesar de ameaças de boicote, as vendas da Adidas na CHina aumentaram 156% no primeiro trimestre (Foto/Getty Images)
Na reunião de acionistas da Adidas, que será realizada nesta quarta-feira, 12, um número divulgado na semana passada trará certo alívio aos investidores. As vendas na China, mercado estratégico para qualquer empresa do setor, cresceram 156% no primeiro trimestre do ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. A ansiedade em relação a esse indicador tem um motivo: desde o final de 2019, a companhia protesta contra o tratamento dado à minoria étnica Uigur, que habita região de Xinjiang, no oeste da China, importante polo produtor de algodão.
Entidades internacionais acusam a China de adotar uma política de trabalho forçado contra os uigures, o que levou Canadá, Reino Unido e Estados Unidos a divulgarem uma declaração conjunta expressando “profunda preocupação” com as acusações. “A Adidas explicitamente requer que nossos fornecedores de tecido não utilizem qualquer algodão proveniente da região de Xinjiang”, declarou a companhia.
O governo chinês classificou as alegações como “maliciosas” e, nas redes sociais do país, foi organizado um boicote à marcas que se posicionaram em defesa dos uigures. As ameaças, no entanto, parecem não ter surtido efeito. Kasper Rorsted, CEO da Adidas, disse ainda esperar forte crescimento da empresa no mercado asiático. “É um tema delicado e estamos fazendo tudo o que podemos para proteger os direitos humanos”, disse Rorsted. O executivo credita à inovação dos produtos da Adidas o sucesso entre os consumidores chineses, apesar da polêmica.
Marca que ainda pertence à Adidas, a Rebook também se posicionou em defesa da minoria uigur e, assim como a sua atual controladora (a marca foi colocada à venda no início do ano), a aposta para superar as controvérsias está na inovação. Mais precisamente, no desenvolvimento de materiais sustentáveis e renováveis. Para fomentar a discussão ética da produção de algodão em território chinês, Adidas e Rebook aderiram à Better Cotton Initiative (BCI), organização que garante boas práticas de plantio e manuseio da fibra e que assume papel central na defesa dos direitos uigures.
Há um mês, a Rebook lançou o NanoX1, versão vegana do principal tênis de performance da marca, composto por materiais sem origem animal, e com 40% dos componentes sendo de origem vegetal, como parte da visão sustentável de longo prazo.
Também neste ano, a marca anunciou uma linha inteira de calçados “verdes”, com ao menos 50% dos materiais de base vegetal, que dispensam o uso de combustíveis fósseis. Alguns exemplos desses materiais são o algodão, óleo de mamona, milho e borracha natural, que serve como substituta à borracha sintética - que leva petróleo em sua composição. A mesma linha também inclui modelos de tênis circulares, com 30% dos materiais sendo de origem reciclada.
Do lado da Adidas, a novidade recente foi o lançamento do Stan Smith Mylo, um calçado feito com um material semelhantes ao couro, obtido do micélio, uma espécie de raiz dos cogumelos. “O Mylo é uma ilustração das inovações que vão nos colocar no caminho para o futuro”, afirmou à EXAME David Quass, diretor de sustentabilidade de marca da empresa. “Há muitas frentes para inovar, inclusive em modelos de negócios.”
Lucas Ribeiro, gerente de marketing da Reebok no Brasil, afirma que o mercado produz bilhões de calçados por ano e, por isso, é fundamental ter um olhar mais sustentável para os produtos. “Sustentabilidade é uma das prioridades da Reebok, está presente em nosso portfólio e no plano estratégico da companhia”, disse o executivo.