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Milhões de pessoas em risco de 'migração climática' no Oriente Médio e norte da África

O Egito, que sedia a Conferência do Clima da Onu, a COP27, é um dos países mais áridos do mundo

Ilha no Egito (Dan Kitwood/Getty Images)

Ilha no Egito (Dan Kitwood/Getty Images)

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AFP

Publicado em 30 de outubro de 2022 às 11h06.

Chuvas cada vez mais raras, ondas de calor e secas fazem do Oriente Médio e do norte da África as regiões com maior escassez de água do mundo, e o risco de mudança climática ameaça deslocar milhões de pessoas.
Hussein Abu Sadam, presidente do sindicato dos agricultores egípcios, disse à AFP que testemunha um êxodo do campo ligado a fatores climáticos.

O Egito, que sedia a COP27 do clima este ano, é um dos países mais áridos do mundo.

Segundo Hussein Abu Sadam, a agricultura se torna menos lucrativa devido aos novos riscos relacionados ao clima, como o surgimento de novos parasitas.

"Os jovens das áreas rurais estão migrando para o exterior ou para as grandes cidades para trabalhar na indústria", disse.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), "cerca de 90% dos refugiados vêm de países mais vulneráveis e menos preparados para se adaptar aos impactos das mudanças climáticas".

"Se as pessoas não podem cultivar, se as pessoas não podem trabalhar, se as pessoas não podem encontrar comida, elas têm poucas alternativas a se deslocar", disse Amy Pope, vice-diretora da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Em 2021, desastres naturais forçaram "quase três milhões de pessoas" a deixar suas casas na África e no Oriente Médio. "E a situação só está piorando", acrescentou.

- Aumento do nível do mar -
Até 2060, o setor agrícola do Egito pode encolher 47%, projetam especialistas.

Além do "declínio da produção agrícola", a migração do campo para a cidade também é incentivada pela "atratividade da vida urbana, da cidade e dos serviços que ela oferece", disse Florian Bonnefoi, pesquisador do Centro de Economia, Estudos Jurídicos e Sociais e Documentação, com sede no Cairo.

Globalmente, o Banco Mundial estima que até 2050, se nada for feito para evitá-lo, haverá 216 milhões de pessoas deslocadas dentro de seus países, incluindo 19,3 milhões no norte da África.

Cerca de 7% da população do norte da África vive a menos de cinco metros acima do nível do mar, segundo o Instituto Europeu do Mediterrâneo (IEMed). Nesta região, as áreas densamente povoadas da costa estão entre as mais ameaçadas do mundo pelo aumento do nível do mar.

- "Conflitos violentos" -
Uma migração para a cidade induzida pelo clima "aumenta a pressão sobre os recursos naturais", segundo o economista Asem Abu Hatab, o que pode levar a "conflitos violentos" em uma região onde a agricultura representa 22% do emprego.

No Sudão, os confrontos entre tribos pelo acesso à água e à terra deixam centenas de mortos todos os anos.

Segundo a Unicef, dos 17 países mais pobres em recursos hídricos do mundo, onze estão no Oriente Médio e no norte da África.

No Iraque, 20% da água doce pode desaparecer se o planeta aquecer em um grau e as chuvas diminuírem em 10%.

A Jordânia - outro dos países mais secos do mundo - teve que dobrar a importação de água de Israel e da Faixa de Gaza em 2021.

A comunidade internacional se comprometeu - primeiro na COP em Copenhague e depois em Paris - a "ajudar os países em desenvolvimento a lidar com o impacto das mudanças climáticas", incluindo o apoio a "diferentes práticas agrícolas e melhor gestão da água", disse Pope.

Será necessário, segundo Pope, "encontrar fontes alternativas de emprego e renda" para conter a migração climática.

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