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Cristina Reis, secretária extraordinária do Mercado de Carbono: “O Brasil deixou para trás uma abordagem puramente sobre clima e ambiente e passou a tratar a agenda como vetor econômico e social” (Agência Gov)
Repórter de ESG
Publicado em 18 de novembro de 2025 às 16h50.
Última atualização em 18 de novembro de 2025 às 17h06.
Belém - O governo brasileiro chega à COP30 com uma estratégia que combina ambição climática, protagonismo internacional e uma guinada econômica baseada no mercado de carbono. A avaliação é de Cristina Reis, nova Secretária Extraordinária do Mercado de Carbono do Ministério da Fazenda
“O Brasil não está passando o chapéu para ninguém. Estamos fazendo uma política soberana”, disse em entrevista à EXAME durante a conferência climática em Belém.
A economista que acaba de assumir a pasta para acelerar a implementação da lei do mercado de carbono regulado nacional aprovado em 2024, revelou a estratégia que se apoia em três pilares: o Plano de Transformação Ecológica, novos mecanismos financeiros como o Fundo de Florestas Tropicais (TFFF), e a Coalizão Aberta de Mercados Regulados de Carbono anunciada durante a COP30.
Para a secretária, o país deixou para trás uma abordagem puramente sobre clima e ambiente e passou a tratar a agenda como vetor econômico e social
“Os mercados de carbono são oportunidades de negócio, emprego, inovação e tecnologia", destacou.
O TFFF é apresentado como principal aposta da estratégia. Lançado na Cúpula dos Líderes e já com R$ 6,6 bilhões em compromissos de países interessados, o fundo busca valorizar a floresta em pé e remunerar aqueles que a preservam.
"O Brasil foi o primeiro a aportar, o que mostra que não estamos pedindo doação para países ricos. Estamos liderando", disse a secretária.
O mecanismo inovador se soma a outros como pagamento por serviços florestais, créditos de conservação e restauração e à expectativa de que os créditos brasileiros de restauro passem a ter valor maior de mercado.
No nível internacional, o destaque é a Coalizão Aberta de Mercados Regulados de Carbono, proposta brasileira que já reúne entre 16 e 18 países. A iniciativa pretende aproximar regras e metodologias de contabilidade de carbono e criar maior previsibilidade entre diferentes sistemas nacionais.
“Se cooperarmos desde já, podemos desdobrar um mercado mais pujante e colaborativo, para que os países se desenvolvam e a desigualdade diminua”, afirmou Reis.
Cristina conta que a equipe encontrou “condições muito difíceis” na nova pasta do Ministério da Fazenda, citando sistemas de dados apagados e extinção de comitês de governança ambiental após o governo de Jair Bolsonaro.
“O primeiro ano foi para organizar a casa; o segundo, para implementar os planos dialogados; e neste terceiro ano começamos a apresentar resultados”, garantiu.
Entre eles estão os mais de R$ 300 bilhões em investimentos do BNDES em indústria e inovação, os R$ 75 bilhões captados nos quatro leilões do Ecoinvest — o último dedicado à bioeconomia amazônica — e um portfólio de R$ 473 bilhões em investimentos elegíveis para indústria e bioeconomia lançado durante a COP30.
Para a executiva, o fortalecimento da indústria é fundamental para uma política sustentada. "Precisamos olhar para “estes novos mercados”, como o de tecnologias verdes e o próprio mercado de carbono, hoje reconhecido como ativo econômico e de investimento.
Na COP30, a secretaria publicou o 'roadmap' de implementação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), que detalha a missão do órgão — “estruturar e fomentar mercados de carbono prósperos, avançando na transformação ecológica e garantindo benefícios econômicos, sociais e ambientais”.
Há a definição de metas como escopo setorial, gases cobertos, monitoramento e verificação, comitês consultivos, proposta de órgão gestor permanente e a regulamentação do artigo que destina R$ 10 bilhões das seguradoras para projetos com retornos públicos.
“Faremos uma regulamentação estratégica e eficiente para a nossa realidade”, afirmou Cristina, que pretende tornar a secretaria “uma das mais ágeis do Poder Executivo”.
A secretária reforça que o Brasil está pronto para protagonizar a pauta global. Para ela, o mercado de carbono reúne o que o país precisa para entrar em uma nova etapa: “uma grande fonte de renda e oportunidades — que ainda por cima regenera e conserva o meio ambiente”.