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Retrospectiva mundial de 2024 traz aprovação do mercado de carbono, expansão das renováveis, criação do Fundo Cali e ações em prol da conservação dos oceanos
Repórter de ESG
Publicado em 4 de janeiro de 2025 às 08h00.
Última atualização em 4 de janeiro de 2025 às 13h54.
Do Norte ao Sul global, eventos climáticos extremos marcaram 2024 como um reflexo estampado da emergência climática. O ano mais quente da história da humanidade até então levou a enchentes, secas, incêndios e ondas de calor históricas que trouxeram à tona a necessidade urgente de responder à altura do desafio.
Contraditoriamente, as emissões também bateram novos recordes, e a ONU alertou que o mundo caminha para aquecer o dobro do limite de 1,5ºC estipulado pelo Acordo de Paris com as políticas públicas atuais.
Em meio a altas expectativas, a ambição ainda foi tímida e considerada insuficiente frente à tripla crise planetaria: poluição, mudança climática e perda de biodiversidade.
O maior evento que traça o futuro do planeta, a Conferência do Clima da ONU, deixou a desejar em sua 29º edição em Baku, no Azerbaijão. O acordo de financiamento firmado na COP29 destinou apenas 300 bilhões de dólares para países em desenvolvimento até 2035, frente a uma realidade que exigia uma meta de mais de US$ 1 trilhão.
Mesmo assim, alguns avanços em clima e meio ambiente conquistados em 2024 trazem esperança e nos dão uma luz para encarar 2025. Da regulação do mercado de carbono global à expansão das energias renováveis, confira a retrospectiva:
Criado na ECO-92 no Rio de Janeiro e contemplado pelo Artigo 6 do Acordo de Paris, o mercado global de créditos de carbono foi finalmente aprovado na COP29, em Baku. Este mercado, estimado em até US$ 250 bilhões anuais, carecia de regulação para dar segurança a trocas internacionais entre empresas e países para a redução de emissões.
A regulação firmada no primeiro dia da COP definiu regras para a venda de créditos e compra dos famosos créditos de carbono, que representam uma tonelada de CO2 ou gases equivalentes reduzidos, sequestrados ou evitados na atmosfera. O mecanismo é essencial para financiar projetos verdes, mas não deve ser encarado como a única solução e ainda há lacunas no acordo, destacam especialistas.
Dias depois, a Câmara dos Deputados brasileira também aprovou oprojeto de lei que estabelece o marco regulatório para o mercado de carbono nacional. Ambos foram considerados avanços significativos para o combate à crise climática.
Dados da Agência Internacional de Energia (AIE) apontaram que as fontes renováveis estão em alta e podem atender metade da demanda global de eletricidade até 2030. A projeção é que o crescimento seja de 5.500 gigawatts e que a energia solar represente 80% desta produção até o final da década. Quem deve liderar a expansão é a China, com 60% da capacidade.
O Brasil tem protagonismo nesta agenda e liderou a geração de energia com renováveis, segundo dados da Aneel. No país, cerca de 91% da nova potência instalada é proveniente de fontes limpas, como a solar fotovoltaica e a eólica. Isto representaria nove em cada dez megawatts adicionados ao sistema em 2024.
Como ato simbólico deste movimento contra os combustíveis fósseis, o Reino Unido também fechou sua última central elétrica movida a carvão no ano passado.
Embora a Conferência de Biodiversidade da ONU (COP16) tenha frustrado ao encerrar sem um acordo de financiamento para proteção da vida selvagem, um dos avanços 'tímidos' foi a aprovação do Fundo Cali.
O mecanismo visa arrecadar recursos financeiros de organizações que utilizam sequências e dados genéticos de organismos da natureza -- especialmente aquelas dos setores farmacêutico, biotecnológico e de cosméticos -- e estabelece que contribuam com 1% de seus lucros para financiar a conservação.
Da quantia total, 50% deverá ser destinada a populações indígenas e comunidades locais, considerando seu papel como guardiãs do meio ambiente.
O avanço é fruto da COP15, no Canadá, quando os 196 países-membros da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) haviam concordado em criar um mecanismo multilateral para a distribuição dos benefícios derivados do uso de informações de sequência digital sobre recursos genéticos. O chamado "DSI" evoluiu para a aprovação do fundo e expôs a complexidade da luta para reverter o declínio da vida selvagem no mundo.
2024 também foi marcado pela Década do Oceano, declarada pelas Nações Unidas até 2030 para promover o desenvolvimento sustentável das áreas marítimas e ajudar os países em ações visando um oceano limpo, saudável e resiliente.
Em 2023, o tratado internacional para a proteção dos mares foi um marco histórico, e trouxe como principal meta a conservação de cerca de 30% desta área do planeta até o final da década.Já em 2024, a UNESCO destacou que o ano foi de "despertar da consciência global" frente ao desafio: foram mais de 2.600 participantes de 124 países discutindo o futuro na Conferência Década do Oceano e mais de 150 especialistas colaborando para identificar uma medida comum. Entre os avanços, está a formulação da Declaração de Ação Rio, que estabelece um roteiro para a filantropia impulsionar a mobilização de recursos, divulgação, defesa e parcerias.
Além disso, o último relatório de análise sobre a saúde dos oceanos, mostrou alguns progressos importantes rumo à meta estipulada pelo tratado. A cobertura global de Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) continua a aumentar e atingiu aproximadamente 8% dos oceanos em 2024, novas tecnologias foram desenvolvidas e estão sendo usadas para monitorar ecossistemas marinhos e programas de restauração de corais em regiões como o Pacífico e o Caribe mostram sinais promissores de recuperação da biodiversidade.
Outros avanços dizem respeito às negociações da 5ª e última reunião do Tratado Global contra os Plásticos, que aconteceu em Busan, na Coreia do Sul. Os países não chegaram a um acordo, mas o texto final ficou mais maduro e há propostas para banir produtos plásticos de uso único e materiais de difícil reciclagem até 2030, assim como reduzir sua produção.