JBS (Patrick Hamilton/AFP/Getty Images/Getty Images)
Rodrigo Caetano
Publicado em 23 de junho de 2022 às 21h20.
Última atualização em 1 de julho de 2022 às 19h13.
Existe uma relação óbvia entre escala e impacto. A sigla ESG surgiu em 2004, de uma provocação do ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan. Ele falava a um grupo de 50 CEOs e perguntou se alguém ali sabia como integrar a sustentabilidade aos critérios de investimentos. James Gifford, economista que fundou o Principles for Responsible Investment (PRI), no mesmo ano participou do grupo de estudos que usou as três letras pela primeira vez em um documento. Em entrevista à EXAME, ele resumiu o que a sigla significa: “Se você tem uma responsabilidade fiduciária, como no caso de um fundo de pensão, não deveria estar pensando num horizonte de nove meses, e sim de nove anos, ou de 20 anos. E, quando se considera esse horizonte, temas como mudanças climáticas, riscos sociopolíticos etc. se tornam relevantes”, afirmou. “Não é sobre ética. O ponto central é a incorporação de fatores socioambientais nos investimentos para gerenciar riscos.” ESG é mais prática do que teoria. O que importa são os resultados, e eles só podem ser alcançados por meio de uma atuação ética e que considere todos os stakeholders. Para todas as empresas, de qualquer setor, o primeiro passo é sempre o compromisso com a agenda. Em seguida, é preciso medir o impacto e, a partir dos dados, definir metas públicas, para que a sociedade acompanhe sua evolução. Nesse processo contínuo, algumas empresas terão mais trabalho; e outras, menos. Alguns setores se beneficiarão das mudanças, outros precisarão reinventar o negócio. Mas tudo começa com a frase “eu me comprometo”.
Neste ano, a EXAME adicionou uma categoria ao guia Melhores do ESG. O objetivo é reconhecer as empresas que, diante do desafio de reinventar seus negócios, se comprometeram com a mudança. O primeiro reconhecimento vai para a JBS, a maior empresa de proteína animal do mundo. Seus desafios são conhecidos. A cadeia da pecuária, no Brasil, tem problemas que vão do desmatamento ao trabalho análogo à escravidão. O rebanho brasileiro, o maior do mundo, é também o maior emissor de gás metano, um dos mais poluentes. Mas há soluções, e elas passam por investimentos em tecnologia e mudança de mentalidade.
1 - Investir 1 bilhão de dólares em projetos de redução de emissões
2 - Zerar o balanço de emissões de gases de efeito estufa até 2040
3 - Investir 100 milhões de dólares em práticas de agricultura regenerativa
4 - Reduzir em 30% as emissões nos escopos 1 e 2 até 20301
5 - Eliminar o desmatamento ilegal na cadeia de gado até 2025
6 - Usar 60% de energia renovável até 2030
7 - Reduzir em 15% o uso de água até 20301
(1) Em relação a 2019. Fonte: empresa.
Em 2020, a JBS divulgou uma série de compromissos e metas ESG (veja quadro). Entre elas está a de investir 1 bilhão de dólares em ações para a redução das emissões — a empresa quer chegar ao carbono zero até 2040. Também vai investir 100 milhões de dólares no desenvolvimento da agricultura regenerativa em sua cadeia. “Estão todos enxergando o mesmo caminho, e é quando as coisas acontecem. Ninguém vai ganhar ou perder: ou ganhamos todos ou perdemos todos”, disse Gilberto Tomazoni, CEO da companhia, durante a COP26, a Conferência do Clima da ONU, realizada em novembro do ano passado, na Escócia. Como a maior compradora de gado do país, os critérios estabelecidos pela JBS reverberam em toda a cadeia. Quando uma empresa desse tamanho muda, o mercado acompanha. E a sociedade terá como acompanhar essa evolução.
É disso que se trata o ESG.