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Mariana Mazzucato, em Davos: é preciso rever a origem da riqueza

A economista ítalo-americana, uma das vozes mais importantes do novo capitalismo, afirma que as empresas não são as únicas fontes de renda e prosperidade

Mariana Mazzucato: “Não podemos compartilhar a riqueza se não admitirmos que a criamos coletivamente" (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

Mariana Mazzucato: “Não podemos compartilhar a riqueza se não admitirmos que a criamos coletivamente" (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 25 de janeiro de 2021 às 19h12.

Última atualização em 25 de janeiro de 2021 às 21h30.

A economista ítalo-americana Mariana Mazzucato não costuma dourar a pílula. À parte de seu profundo conhecimento sobre as relações entre os setores público e privado, Mazzucato, professora de economia da inovação na Universidade College London, no Reino Unido, é conhecida pela assertividade. Sua capacidade de descrever cenários complexos em poucas frases rendeu admiradores, como Bill Gates, fundador da Microsoft, e o Papa Francisco, para quem a visão da economista é “interessante para o futuro”.

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No Fórum Econômico Mundial, cuja versão online está acontecendo esta semana, Mazzucato mais uma vez foi direta ao debater com Klaus Schwab, fundador e chairman do Fórum, as mudanças na economia promovidas pelo “grande reset” proposto pela organização. “Não acredito que teremos um capitalismo de stakeholder, Klaus, se continuarmos a dizer que a geração de riqueza acontece apenas nas empresas”, afirmou a economista. “O ponto central do novo sistema é admitir que a riqueza é produzida coletivamente.”

O que Mazzucato defende é que nenhuma conquista do setor privado, desde o iPhone até a Alexa, acontece sem alguma ajuda dos governos. A internet, inovação da qual toda a indústria de tecnologia depende, é o melhor exemplo dessa dinâmica – afinal, ela foi criada pelo governo americano.

“Mariana, se você olhar para os stakeholders, verá que o governo é um deles. É um stakeholder crucial”, rebateu Schwab.

“Me desculpe, Klaus, mas não apenas por causa dos impostos. Também pelos investimentos. Esse é meu ponto”, contestou Mazzucato.

Em seu novo livro, Mission Economy: A Moonshot Guide to Changing Capitalism, ainda sem tradução em português, a economista compara o momento atual com a corrida espacial da década de 60. Mazzucato lista “20 coisas que não existiriam sem as viagens espaciais”, entre elas tênis esportivos, papinha para bebê, isolamento térmico e tomografia. Seu principal argumento é que um grande projeto governamental, como a missão Apolo, que levou os seres humanos à lua, é necessário para movimentar as engrenagens da inovação e do desenvolvimento.

“Não podemos compartilhar a riqueza se não admitirmos que a criamos coletivamente. As discussões mais vanguardistas, hoje, apontam para o fim da dicotomia entre geração e distribuição de riqueza. Pensamos na direção do investimento público e em maneiras como ele pode contribuir para o desenvolvimento empresarial, em um ambiente livre de corrupção”, afirmou Mazzucato.

Schwab aquiesceu. “Estou concordando com você”, finalizou.

Democracia e excluídos

No mesmo painel, o CEO do PayPal, Dan Schulman, levantou outro questionamento a respeito de um componente caro aos defensores do capitalismo de stakeholder: a defesa da democracia. “Mais de 7 bilhões de pessoas no mundo estão fora do sistema financeiro. Nos Estados Unidos, dois terços dos adultos têm dificuldade em pagar as contas”, afirmou Schulman, ferrenho defensor do capitalismo de stakeholder. “Como esperar que as pessoas defendam a democracia se não acreditam que o sistema funciona para elas?”

Esse dilema entre viver a liberdade democrática, porém não perceber os benefícios dela, é o que, na visão de Schulman, tem gerado tanta instabilidade política atualmente. Ele também conclamou o setor privado a trabalhar em conjunto com governos e chamou a ideia de que lucro e responsabilidade social não podem caminhar juntos de “ridícula”. “Essas duas coisas têm de andar juntos”, definiu.

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