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Os mangues estão entre os sumidouros de carbono mais eficientes do planeta, capazes de absorver mais do que as florestas tropicais (Ricardo Lima/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 12 de outubro de 2025 às 20h00.
Última atualização em 12 de outubro de 2025 às 20h14.
*Por Pedro Plastino, executivo de negócios climáticos
Nos últimos anos, os créditos de carbono consolidaram-se como um dos principais instrumentos de apoio à transição climática.
Dentro desse cenário, o segmento azul, associado à preservação e regeneração de manguezais, pradarias marinhas e ecossistemas costeiros, começa a ocupar posição de destaque. Esses ambientes estão entre os sumidouros de carbono mais eficientes do planeta, capazes de estocar grandes volumes de forma contínua e muitas vezes em taxas superiores às das florestas tropicais.
Sua preservação e recuperação configuram, portanto, uma estratégia de alto impacto para o enfrentamento das mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, uma via para transformar recursos naturais em ativos econômicos com potencial de atrair investimentos e gerar desenvolvimento para comunidades costeiras.
A valorização do carbono azul não ocorre de forma isolada. Iniciativas globais, como o Blue Catalytic Fund, a Ocean and Climate Platform e o Mangrove Breakthrough, têm estabelecido métricas, metodologias e estruturas que permitem quantificar de maneira robusta os serviços ambientais prestados por esses ecossistemas e, assim, ampliar sua inserção nos mercados de carbono.
O Brasil, por sua vez, já começa a se alinhar a esse movimento.Em junho, durante a 3ª Conferência do Oceano da ONU, o governo anunciou a adesão ao Mangrove Breakthrough, sinalizando compromisso com a agenda internacional e reforçando a presença do país em uma coalizão global voltada à proteção de manguezais.
O país tem atributos naturais que o colocam em posição privilegiada. Com uma das maiores linhas costeiras do mundo e o maior manguezal contínuo do planeta, o Brasil possui condições únicas para assumir protagonismo global em carbono azul.
No campo institucional, o governo federal já demonstra movimentos nesse sentido, incorporando o tema em mesas de negociação e estratégias oficiais.
No setor privado, porém, o avanço ainda é tímido. Poucas empresas estruturaram projetos consistentes, embora alguns exemplos iniciais, como os da Ocean Pact, apontem um caminho possível.
É fundamental que investidores, companhias e instituições financeiras brasileiras compreendam que o carbono azul não se restringe a uma pauta ambiental, mas representa também uma plataforma de inovação, um vetor de impacto social e um diferencial competitivo para o posicionamento econômico do país no cenário global.
O mercado de créditos de carbono azul ainda é incipiente, mas cresce em relevância e se projeta como uma agenda estratégica nos próximos anos. Os agentes que se moverem primeiro terão vantagens competitivas claras, seja pelo pioneirismo, seja pela capacidade de estruturar modelos mais eficientes de governança e monetização.
Para o Brasil, a oportunidade é histórica. Unir ativos naturais singulares, como manguezais e ecossistemas costeiros, a uma agenda internacional que valoriza soluções baseadas na natureza significa não apenas conservar ecossistemas, mas também transformar biodiversidade em capital climático, gerar novas fontes de receita para comunidades tradicionais e consolidar o país como referência em uma emergente economia azul que conecta preservação, inovação e desenvolvimento.