Guilherme Weege, CEO do Grupo Malwee: “Não adianta ser o mais sustentável sozinho” (Leandro Fonseca/Exame)
Rodrigo Caetano
Publicado em 23 de junho de 2022 às 20h41.
Em novembro do ano passado, durante a COP26, a Conferência do Clima da ONU, realizada em Glasgow, na Escócia, a fabricante de roupas Malwee lançou o seu Plano ESG 2030. Na primeira versão desse plano, cujo ciclo se encerrou em 2020, os resultados foram expressivos e comemorados pela companhia. Nos últimos cinco anos, o Grupo Malwee reduziu as emissões dos gases do efeito estufa em 75%. O investimento em novos processos produtivos fez com que a Malwee passasse a ter o jeans mais sustentável do país e o consumo de água por peça ficasse 36% menor do que cinco anos atrás. Tão importante quanto os números foi a certeza de ter influenciado a cadeia da moda — motivo de celebração por parte da empresa. “Não adianta ser o mais sustentável sozinho”, afirma Guilherme Weege, CEO do Grupo Malwee.
A empresa tem se lançado em uma série de desafios e investido em tecnologia para tornar a indústria da moda, a segunda que mais polui no mundo, mais amigável ao meio ambiente. Em maio, por exemplo, ela lançou o movimento DES.A.FIO, cuja intenção é promover a moda circular partindo do desenvolvimento de fios feitos de roupas descartadas. A Malwee, inclusive, apresentou seu primeiro moletom feito com esse tipo de matéria-prima. O DES.A.FIO mostra o pioneirismo da Malwee no uso da malha de fio desfibrado de pré-consumo para o pós-consumo, e nasceu de forma colaborativa, como resultado de mais de um ano de pesquisa e desenvolvimento.
Para desenvolver o moletom, a Malwee recolheu peças sem condições de uso em algumas lojas pelo Brasil e do Repassa, maior brechó online do país e um de seus parceiros. O montante de roupas foi encaminhado diretamente para o Grupo EuroFios, empresa especializada na reciclagem e produção de fios sustentáveis (parceira da marca em projetos fabris inovadores e sustentáveis há mais de dez anos) que fez todo o processo de desfibragem e fiação e, junto com a Malwee, criou o “fio do futuro”.
A matéria-prima foi fabricada com 70% de resíduo têxtil pós-consumo e 30% de uma fibra complementar usada para fortalecer a estrutura e a qualidade. O moletom emite 44% menos dióxido de carbono e consome 30% menos água em sua produção. Esse é apenas um exemplo do que Weege chama de moda consciente. “Não fazemos moda descartável”, diz ele. “Esse movimento de conscientização tem de partir das empresas; caso contrário, as mudanças não acontecem na velocidade adequada.”
Pensar o negócio dessa forma também ajuda nos resultados. O jeans sem água desenvolvido pela empresa era caro no início, mas hoje o processo é mais barato do que o tradicional. O uso de ozônio e laser substitui a lavagem na confecção dos detalhes de cada peça produzida pela empresa. O fio feito à base de peças usadas deve seguir o mesmo caminho sustentável. Foram dois anos de estudos até chegar a uma gramatura adequada para produzir uma peça de roupa de qualidade. E vem mais por aí. Weege afirma que a empresa está testando um tingimento natural feito com amoras e um amaciante de roupas produzido com cupuaçu. “Nosso negócio é pura inovação”, garante o CEO.