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Lula na COP27: o que esperar da visita do presidente eleito ao Egito

Lula encontrará um cenário em que há três espaços brasileiros na COP: um falando mal do outro

Os pavilhões da COP27: conferência está mais lotada na segunda e decisiva semana (Leandro Fonseca/Exame)

Os pavilhões da COP27: conferência está mais lotada na segunda e decisiva semana (Leandro Fonseca/Exame)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 15 de novembro de 2022 às 10h16.

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente eleito do Brasil, está em Sharm el-Sheikh, no Egito, para participar da COP27, a conferência do clima da ONU. Ele chegou nesta terça-feira, 15, em um avião particular. Sua agenda inclui encontros bilaterais, participação em eventos nos estandes dos governos da Amazônia e da sociedade civil brasileira, e um pronunciamento em uma das salas da conferência, a convite do governo egípcio. Mas, o que esperar dessa visita, que vem sendo aguardada com ansiedade pelos participantes do evento?

O presidente eleito terá à sua disposição um palco global para dar início a sua terceira jornada como líder nacional. Mais do que isso, ele chega ao Egito com o status de potencial salvador da Amazônia, bandeira que ele empunhou com firmeza durante a campanha. O fracasso do atual governo em conter a escalada na destruição da floresta nos últimos anos o ajuda nessa tarefa. Nunca foi tão fácil, para Lula, se colocar como defensor de uma causa social e humanitária.

Lula contará, ainda, com Marina Silva, ex-ministra do meio ambiente em seu primeiro governo, que possui uma enorme credibilidade junto aos organismos internacionais de defesa da causa climática, das ONGs aos diplomatas. Silva criou, em 2004, o que é considerado, até hoje, o mais completo plano de controle do desmatamento, chamado Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm).

A ex-ministra, eleita deputada federal por São Paulo nas últimas eleições, é cotada para assumir o Ministério do Meio Ambiente novamente. Mas, antes mesmo da nomeação, ela já trabalha nas negociações para a redação do texto final do documento oficial da COP27, como observadora. Marina Silva também vem trabalhando num acordo entre Brasil, Indonésia e Congo. Os três países concentram quase a totalidade de todas as florestas tropicais do mundo.

Negociações estão travadas

No campo diplomático, há grande dificuldade de avanço em assuntos centrais, como o financiamento das medidas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas nos países de menor renda. A expectativa é de que a conferência termine sem grandes anúncios, um contraste com a COP26, em Glasgow, Escócia, que terminou com um acordo histórico para a criação de um mercado global de carbono.

Há impasses, ainda, nas conversas sobre mecanismos de proteção de floresta e pagamento por serviços ambientais. O governo brasileiro insiste na ampliação do REDD+, mecanismo para pagamento por resultados de redução de emissões por desmatamento, um tipo de crédito de carbono florestal. Na COP passada, havia a expectativa de incluir o REDD+ na regulação do artigo 6 do Acordo de Paris, que trata do mercado de carbono, o que não aconteceu.

Lula terá pouca ou nenhuma influência nessas negociações, que são conduzidas pelo Itamaraty, ainda sob comando do governo atual. Sua presença, de certa forma, trava ainda mais as negociações. A participação do Brasil na COP27 vem sendo criticada pela falta de unidade. Governo Federal, governos subnacionais e a sociedade civil parecem não se entender, o que tira qualquer credibilidade da representação oficial. Lula deve fazer muitos encontros, mas qualquer decisão só será tomada na COP28.

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Falta de unidade

O Brasil é o único país a ter mais de um estande na Blue Zone, onde ficam as representações dos países e da sociedade civil. Pode parecer algo positivo, como se a presença brasileira fosse intensa, mas não é. Os três espaços – o oficial do governo brasileiro, o dos governos da Amazônia Legal e o da sociedade civil – não se conversam. Na realidade, pode-se dizer que um fala mal do outro. A situação insólita tem gerado incômodo em alguns empresários que conversaram com a EXAME.

Lula chegará no centro dessa confusão. Sua primeira aparição na Blue Zone será no estande dos governos da Amazônia Legal, com os governadores do Acre, Amapá, Mato Grosso, Pará, Roraima e Tocantins. Para chegar ao local, o presidente eleito terá de passar, inevitavelmente, em frente ao estande oficial do governo brasileiro.

No mesmo dia, Lula fará seu pronunciamento, em uma pequena sala destinada a coletivas de imprensa e outros eventos do tipo. O local também fica na Blue Zone, longe das plenárias, onde as representações oficiais discursam. Na quinta-feira, ele terá um encontro com representantes da sociedade civil no Brazil Climate Hub, espaço organizado por entidades do terceiro setor, e que também fica bem próximo do estande oficial do Brasil.

Esse espaço surgiu na COP25, em que o governo brasileiro não montou estande e sequer enviou uma delegação -- apenas o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o Itamaraty estiveram presentes. Anteriormente, a delegação brasileira contava com empresas e sociedade civil juntos do governo, como acontece em todos os outros países presentes na Blue Zone.   

Agenda pode mudar

Apesar da agenda estar, teoricamente, fechada, os auxiliares de Lula ressaltam que ela poderá sofrer alterações. Há grande expectativa pela presença do presidente eleito na COP, e não apenas por parte do Brasil. É grande a chance de aglomerações.

Há mais participantes circulando pela Blue Zone nesta semana, e se locomover às vezes é um desafio. Na semana passada, alguns líderes se arriscaram no meio do povão e não tiveram problemas. Emmanuel Macron, da França, distribuiu sorrisos e posou para fotos na área externa aos pavilhões. Nicolás Maduro, da Venezuela, caminhou tranquilamente, com um ou outro segurança, até o estande da Colômbia. Lula, certamente, vai gerar mais barulho.

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