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André Corrêa do Lago, presidente da COP30: "O TFFF vai ajudar em uma das tarefas mais difíceis hoje na proteção das florestas: quantificar o preço da árvore em pé" (Rafa Neddermeyer / cop30)
Repórter de ESG
Publicado em 4 de novembro de 2025 às 11h18.
Última atualização em 4 de novembro de 2025 às 11h24.
Para o embaixador e presidente da COP30, André Corrêa do Lago, a maneira encontrada pelo Brasil para proteger a COP30 dos retrocessos de países como Estados Unidos e Argentina é nortear a conferência pela “lógica econômica do combate às mudanças climáticas”. A afirmação aconteceu durante o evento pré-COP da Bloomberg em São Paulo.
Corrêa do Lago afirmou que embora alguns países acreditem que deixar o Acordo de Paris resolve o problema climático, cada vez mais organizações especializadas em clima avaliam que a COP deixa de ser apenas vista pelo âmbito climático e ambiental, mas também nos impactos à economia dos países. “Estamos em um novo estágio do debate. Todo país chega a COP influenciado pelos grandes setores da sua economia, mas até mesmo os grupos mais conservadores passam a temer as perdas que podem ser causadas pelo clima”, explica.
Mesmo assim, ele afirma que a saída de países-chave para as negociações é muito negativo para o futuro da Conferência. “Vejo que os demais países desenvolvidos se sentem responsáveis por suprir o que vai acontecer com a saída dos EUA do Acordo de Paris”, conta. Apesar da saída, anunciada no começo deste ano, o país ainda precisa seguir as regras do acordo por mais um ano.
A visibilidade que a COP30 tem conquistado também pode ser, para o presidente da Conferência do Clima, uma das formas de atingir mais setores e conquistar novos públicos na agenda. “Empresas, sociedade civil e países em desenvolvimento satisfeitos: é só assim que vamos conquistar uma COP bem-sucedida, não privilegiando um único setor”, disse.
Para o embaixador, a COP30 ainda tem a responsabilidade de resgatar a confiança no multilateralismo e da capacidade de articulação dos países antes dos 45 minutos do segundo tempo. Ele afirmou que atingir o consenso entre países é uma dificuldade, mas garantir que todas as nações possam ler e discutir os documentos que estão assinando é ainda mais crítico.
“Vamos conseguir uma COP que traga resultados reais. Precisamos convencer as pessoas que vale a pena seguir negociando o clima, mostrar que as negociações foram suficientes para que possamos agir”, explica.
O embaixador afirmou para jornalistas que nos próximos dias, o governo deve publicar um relatório, elaborado entre as presidências da COP29 e COP30, sobre como acelerar o financiamento em países em desenvolvimento para US$ 1,3 trilhão por ano até 2035. Nos países mais pobres, o impacto seria de multiplicar o investimento privado entre 15 e 20 vezes. O chamado, Roadmap Baku-Belém, deve ser divulgado ainda nesta semana, e vai focar em países com oportunidades econômicas para a transição energética.
O embaixador também comentou uma fala do ministro da Fazenda durante esta segunda-feira, 3. Fernando Haddad afirmou que o TFFF já seria um marco se no primeiro ano de operação do fundo fosse atingido a quantia de US$ 10 bilhões, mas especialistas afirmam que a meta inicial seria de US$ 25 bilhões para atrair US$ 100 bilhões em recursos privados. “O TFFF vai ajudar em uma das tarefas mais difíceis hoje na proteção das florestas: quantificar o preço da árvore em pé. É algo que todos querem fazer há anos, mas ninguém consegue”, explica.
Corrêa do Lago também falou sobre uma possível alteração nas regras do Fundo Florestas Tropicais para Sempre para incorporar as necessidades de países em desenvolvimento, como os africanos. “Algumas nações têm um enorme potencial para investimento em energia limpa, por exemplo, mas não têm as circunstâncias necessárias para atrair investimentos nas regras atuais. O sistema precisa se adaptar para essas pessoas, afinal, os países e populações mais vulneráveis são os que menos contribuem para a mudança do clima”, explica.
Em um mundo que vive a urgência climática, é cada vez mais urgente implementar iniciativas que possam resolver parte do problema, mesmo que no cenário local. “Nos podemos mais operar pela solução perfeita, porque não existe mais tempo para esperar por ela”, afirmou o embaixador.
Uma dessas medidas que deve ser discutida durante a COP é o mercado de carbono integrado entre países, projeto da agenda de ação que pode ajudar a mexer o ponteiro regionalmente. “Hoje, a principal maneira de capturar emissões encontrada pelo Brasil é graças às florestas. Por isso seria fantástico avançar essa discussão a COP30, mesmo que não seja uma questão global”, explica.