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Miguel Krigsner, fundador do Grupo Boticário: "Precisamos começar a traçar um plano coletivo, um plano que revela e coloca em prática a verdadeira vocação de um país como o nosso (Leo Feltran/Divulgação)
Rodrigo Caetano
Publicado em 12 de agosto de 2020 às 09h17.
Última atualização em 12 de agosto de 2020 às 12h48.
Estamos vivendo uma crise diferente de todas as crises que o mundo já viu. Vamos precisar de muita resiliência, criatividade e união para lidar com a enorme recessão e taxa de desemprego causadas pelos efeitos do coronavírus na economia mundial. E, junto com a crise, vemos também um mundo em transformação pela 4ª revolução industrial que substitui homens por máquinas, muito mais rápidas e eficientes, ocupando cargos que, geralmente, são ocupados por pessoas mais humildes e que não tiveram acesso à educação ou formação especializada.
Além disso, a conjuntura também revela problemas estruturais e éticos da nossa sociedade. Como principal ponto de atenção, a situação evidencia ineficiência presente na gestão da saúde pública do Brasil e como isso afeta, principalmente, as populações mais vulneráveis que vivem de forma desumana e mais expostas ao vírus. Desde o início da pandemia, o Grupo Boticário busca diminuir os riscos destas populações da forma que pode, com doações de produtos de higiene e também adquirindo respiradores para hospitais públicos. Mas sabemos que é complicado falar em medidas de higiene para gente que não tem água nem para beber. É preciso reconhecer que a complexidade da situação está muito além do álcool em gel.
Mas então qual a saída? O que podemos fazer para apoiar todas essas pessoas desempregadas? Como nós, enquanto iniciativa privada, podemos ajudar a encontrar soluções para estes problemas estruturais que persistem em nosso país?
O que me vem à cabeça é que precisamos começar a traçar um plano coletivo, um plano que revela e coloca em prática a verdadeira vocação de um país como o nosso e, assim, proporcionar às pessoas possibilidades de viver uma vida que faça sentido à elas e ao país. E para entendermos a vocação de um país, precisamos identificar o que há de mais abundante nele e como estes recursos estão conectados com a garantia de futuro para todo o planeta. Logo, sendo o Brasil a maior reserva hidrológica e o país com a maior biodiversidade do mundo, fica fácil perceber que a nossa vocação está na preservação da natureza.
No entanto, para colocar essa vocação em prática, o brasileiro em geral precisa perceber o valor que há no ato de preservar. Do empresário ao trabalhador, todos precisam entender que é possível trabalhar e ganhar o seu sustento cuidando da natureza. Com essa visão, desde 2016, a Fundação Grupo Boticário passou a apoiar o ecossistema de investimentos e negócios de impacto positivo no Brasil, um segmento que possui função extremamente relevante e com potencial de direcionar o mundo dos negócios para uma economia que respeite e contribua para a manutenção e recuperação dos limites ecológicos do planeta e, ao mesmo tempo, gere prosperidade socioeconômica.
Em 2019, três iniciativas alinhadas com este propósito foram lançadas: O Movimento Viva Água, voltado a promover a transformação da realidade socioeconômica e ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Miringuava (São José dos Pinhais/PR), por meio de ações que contribuam para a segurança hídrica da Região Metropolitana de Curitiba; o Programa Natureza Empreendedora, com o propósito de apoiar e fortalecer empreendedores e negócios que atuam de forma a gerar impacto positivo na conservação da Grande Reserva Mata Atlântica, região com o maior remanescente contínuo deste bioma em nosso país, e que busca utilizar-se deste ativo para imprimir uma nova forma de desenvolvimento regional; e a Rede de Investimento de Impacto em Conservação da Natureza, com o objetivo de influenciar e engajar investidores na pauta dos negócios com este propósito. Já em 2020, a Teia: soluções para a proteção da natureza coloca-se como o nosso novo formato de apoio financeiro às iniciativas que têm como objetivo a conservação da natureza. Serão diferentes oportunidades ao longo do ano, com formatos e temas distintos para que mais pessoas trabalhem juntas em práticas de conservação da natureza que contribuam com os principais desafios da economia e da sociedade.
Como podem ver, temos muito trabalho a fazer e um longo caminho a se percorrer para criar uma economia regenerativa baseada na natureza. No entanto, a necessidade é urgente e quanto mais atores, seja iniciativa privada, governos ou sociedade civil, se engajarem e compreenderem essa vocação do nosso país, mais rápido desenvolvemos um mercado de trabalho com oportunidades para as pessoas cuidarem da natureza, do que é essencial para a manutenção da vida, enquanto as máquinas desempenham as atividades desumanas, que não requer o pensar e o sentir humano em sua execução.
*MIGUEL KRIGSNER é fundador e presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário