Em um cenário de alta dos riscos climáticos globais e crescente pressão sobre recursos financeiros, um novo estudo do World Resources Institute (WRI) lançado nesta terça-feira, 3, traz evidências robustas de que investir em adaptação e resiliência climática é bem mais interessante economicamente do que esperar o desastre acontecer.
Isto porque, cada dólar investido nessa área pode gerar mais de US$ 10 em benefícios ao longo de dez anos. Já a inação pode custar caro: os desastres relacionados à mudança do clima causaram mais R$ 21 trilhões em prejuízos desde o início dos anos 2000 e perdas de até 22% no PIB, alertou recentemente o Boston Consulting Group (BCG).
A nova análise considerou 320 investimentos distribuídos em 12 países, totalizando US$ 133 bilhões. Os resultados apontam para um ganho potencial de mais de US$ 1,4 trilhão (R$ 7,94 trilhões), com retornos médios de 27%.
A adaptação é um conceito que abrange uma série de ações concretas que visam minimizar os impactos já previstos em consequência da crise climática, como eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos.
Neste guarda-chuva de medidas, estão aquelas voltadas à infraestrutura e planejamento das cidades, visando torná-las mais resilientes frente a nova realidade do clima. A exemplo, estão a construção de diques e barreiras, sistemas de drenagem e até edificações resistentes ao calor.
Entre os setores analisados na pesquisa, o da saúde se destaca com retornos superiores a 78%. A alta rentabilidade está relacionada aos significativos benefícios de proteger vidas humanas dos impactos climáticos, frente ao estresse térmico ou doenças de maior propagação a altas temperaturas como a malária e a dengue.
Outros investimentos em gestão de riscos de desastres, particularmente sistemas de alerta precoce, também demonstraram retornos elevados ao preservar tanto vidas quanto infraestrutura.
Benefícios constantes, independente de desastres
A avaliação foi feita em um conceito de "triplo dividendo da resiliência", que engloba três tipos principais de retorno: perdas evitadas por desastres climáticos, ganhos econômicos induzidos (geração de empregos e aumento da produtividade agrícola) e benefícios sociais e ambientais mais amplos (melhoria dos sistemas de saúde e biodiversidade).
Um dos destaques é que mais de 50% dos benefícios documentados ocorrem mesmo na ausência de desastres climáticos. O pesquisador sênior do WRI, Carter Brandon, explica que os projetos de adaptação produzem retornos diários através da geração de empregos, melhoria da saúde e fortalecimento das economias locais.
Infraestruturas projetadas para eventos extremos mantêm valor constante: sistemas de irrigação sustentam colheitas diversificadas durante todo o ano, enquanto centros de evacuação podem funcionar como centros comunitários.
Já as soluções baseadas na natureza, como proteção de bacias hidrográficas e zonas costeiras, frequentemente oferecem benefícios ecológicos e recreativos adicionais.
Relação entre adaptação e mitigação climática
Além disso, metade dos investimentos analisados também contribui para a redução de gases de efeito estufa, revelando importantes sinergias entre adaptação e mitigação climática.
A relação aparece em setores como energia, florestas, transporte, cidades e agricultura, frequentemente através de soluções baseadas na natureza, incluindo plantio urbano, restauração florestal e proteção costeira.
Casos de sucesso no mundo
O WRI traz quatro projetos bem-sucedidos em diferentes países.
No Brasil, um de desenvolvimento urbano sustentável em Fortaleza, focado em resiliência a inundações, duplicou o retorno.
Na China, uma iniciativa rural de desenvolvimento verde em Yichang, com investimento em agricultura climática, gerou retorno quase duas vezes maior que o valor aplicado.
O Quênia implementou um projeto de inclusão social e econômica, fortalecendo sistemas de saúde com três vezes o retorno do investimento.
Por último, a África do Sul desenvolveu ações de gerenciamento de rios em Durban, alcançando retorno seis vezes maior que o custo inicial, com benefícios ecológicos e sociais.
Rumo à COP30
Em ano de COP30 em Belém do Pará, as conclusões reforçam a importância de destravar financiamento para medidas de adaptação climática, especialmente em países mais vulneráveis.
Dan Ioschpe, Campeão de Alto Nível do Clima da COP30, considera que as evidências fornecem um argumento econômico claro para ampliar ações.
Sam Mugume Koojo, co-presidente da Coalizão de Ministros das Finanças para Ação Climática de Uganda, também destacou o verdadeiro valor da resiliência e defendeu que os líderes reconheçam a adaptação climática não apenas como rede de segurança, mas como plataforma para o desenvolvimento.
Recomendações para políticas públicas
Com base nos resultados, o WRI apresenta três recomendações principais para formuladores de políticas públicas:
- Tratar a adaptação como motor de oportunidade econômica;
- Integrar a resiliência nas estratégias nacionais de desenvolvimento;
- Adotar metodologias padronizadas de medição e relatório;
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Imagem aérea de sobrevoo do presidente Lula em Canoas (RS)
(Imagem aérea de sobrevoo do presidente Lula em Canoas (RS))
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Homens movem pacotes em um barco através de uma rua inundada no centro histórico de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em 14 de maio de 2024. Crédito: Anselmo Cunha / AFP)
(Homens movem pacotes em um barco através de uma rua inundada no centro histórico de Porto Alegre)
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Vista das áreas inundadas ao redor do estádio Arena do Grêmio em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, tirada em 29 de maio de 2024. A água e a lama tornaram os estádios e sedes do Grêmio e Internacional inoperáveis. Sem locais para treinar ou jogar futebol, os clubes brasileiros tornaram-se equipes itinerantes para evitar as enchentes que devastaram o sul do Brasil. (Foto de SILVIO AVILA / AFP)
(Vista das áreas inundadas ao redor do estádio Arena do Grêmio em Porto Alegre)
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Vista aérea do centro de treinamento do Internacional ao lado do estádio Beira Rio em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, tirada em 29 de maio de 2024. Foto de SILVIO AVILA / AFP
(Vista aérea do centro de treinamento do Internacional ao lado do estádio Beira Rio em Porto Alegre)
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Pessoas atravessam uma ponte flutuante para pedestres sobre o rio Forqueta, entre os municípios de Lajeado e Arroio do Meio, no Rio Grande do Sul, Brasil, em 21 de maio de 2024. O Rio Grande do Sul experimentou um desastre climático severo, destruindo pelo menos seis pontes e causando interrupções generalizadas no transporte. O exército respondeu construindo pontes flutuantes para pedestres, uma solução temporária e precária para permitir que a infantaria atravesse rios durante conflitos. (Foto de Nelson ALMEIDA / AFP)
(Pessoas atravessam uma ponte flutuante para pedestres sobre o rio Forqueta)
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Ana Emilia Faleiro usa um barco para transportar suprimentos em uma rua inundada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, em 26 de maio de 2024. O estado sulista do Rio Grande do Sul está se recuperando de semanas de inundações sem precedentes que deixaram mais de 160 pessoas mortas, cerca de 100 desaparecidas e 90% de suas cidades inundadas, incluindo a capital do estado, Porto Alegre. (Foto de Anselmo Cunha / AFP)
(Ana Emilia Faleiro usa um barco para transportar suprimentos em uma rua inundada em Porto Alegre)
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Um homem limpa sua casa atingida pela enchente no bairro Sarandi, um dos mais atingidos pelas fortes chuvas em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em 27 de maio de 2024. Cidades e áreas rurais no Rio Grande do Sul foram atingidas por semanas por um desastre climático sem precedentes de chuvas torrenciais e enchentes mortais. Mais de meio milhão de pessoas fugiram de suas casas, e as autoridades não conseguiram avaliar completamente a extensão dos danos. (Foto de Anselmo Cunha / AFP)
(Um homem limpa sua casa atingida pela enchente no bairro Sarandi)
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Alcino Marks limpa corrimãos sujos de lama após a enchente no bairro Sarandi, um dos mais atingidos pelas fortes chuvas em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em 27 de maio de 2024. Esta é a segunda enchente histórica que Marks enfrenta aos 94 anos de idade. A primeira foi em 1941, quando ele morava no centro de Porto Alegre. Cidades e áreas rurais no Rio Grande do Sul foram atingidas por semanas por um desastre climático sem precedentes de chuvas torrenciais e enchentes mortais. Mais de meio milhão de pessoas fugiram de suas casas, e as autoridades não conseguiram avaliar completamente a extensão dos danos. (Foto de Anselmo Cunha / AFP)
(Alcino Marks limpa corrimãos sujos de lama após a enchente no bairro Sarandi)
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(Um trabalhador usa uma mangueira de alta pressão para remover a lama acumulada pela enchente)
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(Destruição no RS após chuvas e enchentes)
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Vista da estátua de José e Anita Garibaldi na inundada Praça Garibaldi, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, tirada em 14 de maio de 2024. Foto de Anselmo Cunha / AFP
(Vista da estátua de José e Anita Garibaldi na inundada Praça Garibaldi)
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Resgate de pessoas afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul, na Base Aérea de Santa Maria (RS).
(Resgate de pessoas afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul, na Base Aérea de Santa Maria)
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Eduardo Leite: “Faremos de tudo para garantir que a reconstrução preserve nossas vocações”
(Eduardo Leite: “Faremos de tudo para garantir que a reconstrução preserve nossas vocações”)
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Imagem aérea de sobrevoo do presidente Lula em Canoas (RS)
(Imagem aérea de sobrevoo do presidente Lula em Canoas (RS))
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(Imagem aérea da destruição no Rio Grande do Sul - Força Aérea Brasileira/Reprodução)
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Vista aérea mostrando a estrada ERS-448 inundada em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em 13 de maio de 2024. Foto de Nelson ALMEIDA / AFP
(Vista aérea mostrando a estrada ERS-448 inundada em Canoas)
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(Vista aérea mostrando a estrada ERS-448 inundada em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul)