Índia quer transformar fibra natural de juta em alternativa ao plástico (Abhaya SRIVASTAVA/AFP)
AFP
Publicado em 6 de outubro de 2021 às 10h27.
A fibra natural de juta, da qual a Índia é a maior produtora mundial, está entrando na moda em todo planeta e pode gerar uma importante demanda como alternativa duradoura ao plástico - afirmam especialistas.
Eles acreditam que apenas o mercado de sacolas pode alcançar até 2,5 bilhões de euros (US$ 3 bilhões) até 2024.
A fibra de juta também tem sido protagonista das linhas de roupas de grandes estilistas indianos, como Ashish Soni e Pawan Aswani, além de aparecer em lojas de marcas de luxo como Christian Dior, e até no casamento de Meghan Markle e do príncipe Harry, quando os convidados foram presenteados com bolsas com as iniciais H&M.
De fato, a juta está cada vez mais na moda.
A grande maioria das plantações de juta no mundo está em Bengala Ocidental (leste da Índia) e Bangladesh, onde se beneficiam de um clima úmido.
Tudo pode ser aproveitado na planta da juta: a camada externa produz fibra; o caule interno é usado para a fabricação de papel; e as folhas são comestíveis.
A juta também é elogiada pelos ambientalistas, pois suas plantações reciclam carbono.
"Um hectare de cultivo de juta pode absorver até 15 toneladas de dióxido de carbono e emitir 11 toneladas de oxigênio no decorrer de uma temporada, reduzindo, assim, as emissões de gases do efeito estufa", declarou Swati Singh Sambyal, especialista em economia circular, de Nova Délhi.
O algodão, a mais abundante fibra natural do mundo à frente da juta, precisa do dobro de terras cultiváveis e de muito mais água e produtos químicos.
A Companhia Britânica das Índias Orientais é responsável pela descoberta e pela exploração da fibra da juta na Índia, no século XVIII. Também foi esta organização comercial que a introduziu na Europa, onde começou a fazer sucesso apenas a partir dos anos 1860, com as sacolas destinadas ao transporte de grãos.
Hoje, a Índia tenta promover a juta como o têxtil do futuro, que respeita o meio ambiente, com a esperança de tirar partido da preocupação com o plástico.
De acordo com um relatório recente da Research and Markets, o mercado mundial de sacolas de juta alcançou US$ 1,7 bilhão em 2020 e pode chegar a US$ 3 bilhões até 2024, pois os consumidores devem renunciar ao plástico de uso único.
O governo indiano exige, hoje, que todos os cereais destinados a alimentos e 20% do açúcar sejam embalados em sacolas de juta.
Para responder à demanda mundial de produtos diversificados à base de juta, porém, esta indústria envelhecida deverá transformar em larga escala toda sua cadeia de produção, afirmam os especialistas indianos.
O país precisa modernizar práticas agrícolas, melhorar a qualificação da mão de obra e lançar novos produtos, detalha o diretor do Central Research Institute for Jute and Allied Fibres, Gouranga Kar.
"É um grande motivo de preocupação para nós", admite.
"A juta tem um grande futuro (...) o governo deve se concentrar neste setor", disse à AFP Supriya Das, presidente da Meghna Jute Mills, uma das 70 fábricas de Bengala Ocidental.
Centenas de operários trabalham sem parar no local, em turnos de oito horas, em velhas máquinas que parecem da época da Revolução Industrial.
"A juta tem um potencial enorme no mercado internacional", declarou o presidente da empresa.
Ele alerta, contudo, que "a indústria não será viável, se não introduzirmos produtos com valor agregado".