A hidrovia Paraguai-Paraná sofreu com uma seca histórica que prejudicou a navegação e o transporte de cargas (Hidrovias do Brasil/Divulgação)
Rodrigo Caetano
Publicado em 24 de maio de 2022 às 16h00.
Última atualização em 20 de junho de 2022 às 17h24.
O Brasil tem 60 mil quilômetros de potenciais hidrovias, porém, utiliza menos de um terço delas. As vantagens de transportar grandes volumes por rios são até óbvias. Um comboio, como são chamadas as filas de barcaças de transporte, comporta a carga de 1.200 caminhões. Se for um supercomboio, modelo que a Hidrovias do Brasil, líder do modal no Brasil, vem testando, a soma sobe para 1.500 veículos pesados.
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Criada há 12 anos, a Hidrovias atua em um segmento que, naturalmente, pode se encaixar nos critérios ESG. O transporte hidroviário aproveita a infraestrutura natural, é eficiente e reduz a necessidade de obras de infraestrutura de grande impacto, como rodovias. Porém, por si só, isso não é suficiente para fazer a empresa ser ESG, na visão de seu presidente, Fabio Schettino. “O desafio está na cadeia de valor”, diz ele.
A companhia lança, nesta terça, 24, um conjunto de metas de sustentabilidade baseado em seis pilares. O objetivo é tornar seus compromissos ESG públicos, no espírito da transparência. A Hidrovias também espera ser um agente indutor da pauta sustentável em sua cadeia, incluindo entre os clientes.
Os pilares são os seguintes:
Para colocar o plano em prática, foi criada uma diretoria de sustentabilidade, sob o comando de Fabiana Gomes, executiva com experiência em trabalhos sociais na Amazônia, uma das principais regiões de atuação da companhia. “Esses compromissos são a continuidade da nossa jornada de sustentabilidade, iniciada lá atrás”, diz Gomes.
Essa ideia de que o ESG é uma jornada é o que leva Schettino a dizer que não dá pra ser sustentável isolado do mundo. “Acabou a fase da retórica”, afirma. “Agora, é se unir aos bons e recusar quem não está alinhado, incluindo os clientes. Vamos recusar clientes? Se for preciso, sim.” O que cabe às empresas, segue o executivo, não está mais circunscrito nas cercas da companhia. É preciso olhar para fora.
Isso significa, segundo Schettino, em um novo olhar para o entorno. A Hidrovias mudou seus critérios de investimentos sociais, por exemplo, para sair do assistencialismo e focar na resolução de problemas das comunidades, como a construção de escolas. É uma forma de gerar valor social e, ao mesmo tempo, garantir uma mão-de-obra qualificada e local.
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A empresa também contratou uma consultoria para um trabalho de longo prazo, que vai avaliar os efeitos das mudanças climáticas no regime de chuvas e das cheias dos rios. No ano passado, a hidrovia Paraguai-Paraná, uma das principais rotas da companhia, passou por um evento atípico, uma baixa muito grande que inviabilizou a navegação. “É algo que acontece a cada 90 anos, mas precisamos saber se vai se repetir e em quanto tempo”, diz Schettino.
No campo das emissões, a Hidrovias do Brasil trabalha no desenvolvimento do primeiro empurrador elétrico do mundo. Os empurradores são as embarcações que movimentam as barcaças, movidos a diesel. No momento, a empresa se concentra em barcos de manobra, que atuam próximo aos portos, pois a autonomia das baterias não comporta viagens longas.
Outra iniciativa é a utilização de um navio híbrido, a diesel e GNV, para o transporte de cabotagem (navegação costeira). Os supercomboios também reduzem as emissões, pois comportam mais carga com um aumento mínimo de uso de combustível.
Apesar do grande potencial hidroviário, a verdade é que o Brasil nunca priorizou esse tipo de transporte. Há diversos motivos para isso. O principal, talvez, seja o desenvolvimento desigual entre a região costeira e o interior do país. Essa concentração da economia nas áreas de influência litorânea acabou gerando uma distorção no transporte de cargas.
O que se criou foi um sistema ineficiente, muito dependente do transporte rodoviário. “Não faz sentido sair do Mato Grosso e ir até Paranaguá transportando grãos. É muito mais caro”, aponta Schettino. “Um dos nossos papeis é induzir esse debate. Não concorremos com outros modais, complementamos. Mas, precisamos que se priorize a construção da infraestrutura para viabilizar as hidrovias”. Não dá pra ser ESG sozinho.
Atingir 50% das metas de redução do NET ZERO 30 até 2025;
Alcançar uma operação carbono neutro em 2030
Publicar anualmente o Relato Integrado da companhia considerando os mais altos níveis de exigência de entidades nacionais e internacionais, dando publicidade integral do seu conteúdo;
Ser referência na iniciativa privada em transparência nas relações institucionais.
Garantir que 100% dos clientes de grãos do sistema norte sejam signatários e façam adesão formal à moratória da soja;
Garantir que tenhamos 100% dos fornecedores estratégicos homologados nos critérios de ESG
Garantir a efetividade de 100% dos nossos sistemas de controles ambientais;
Garantir destinação sustentável para 100% dos resíduos gerados em nossas operações
Ser reconhecida pela sociedade pelas contribuições ao desenvolvimento nos territórios de atuação, alcançando no mínimo 80% de favorabilidade em pesquisa reputacional com as partes interessadas;
Implementar 100% dos planos de gestão de riscos e impactos socioambientais críticos priorizados
Ser reconhecida como empresa que promove saúde, segurança e bem-estar dos colaboradores, alcançando no mínimo 80% de favorabilidade junto às partes interessadas por meio de pesquisa reputacional independente