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Complexo de Pecém: Ceará sai na frente com o hidrogênio verde (Marília Camelo/Exame)
Redação Exame
Publicado em 3 de dezembro de 2023 às 12h43.
Última atualização em 3 de dezembro de 2023 às 17h15.
Na semana passada, quando foi aberta a Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas (COP 28), o plenário da Câmara aprovou projetos que apoiam a transição energética dos combustíveis fósseis para alternativas mais limpas. Entre elas, o hidrogênio verde e a regulamentação da energia eólica em alto mar.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda, comemorou a aprovação do projeto do hidrogênio verde na Câmara, mas revela em entrevista à Exame na COP, esperar que o texto seja aprovado no Senado “sem os penduricalhos”. “Será possível transformar aquilo em uma lei muito importante”, diz.
Em entrevista à Exame, Hugo Figueiredo, presidente do Complexo de Pecém, no Ceará, comemora o interesse das empresas em assinar memorandos de entendimento em projetos de hidrogênio verde. Segundo o executivo, nos últimos 15 dias antes de receber a reportagem foram três empresas chinesas.
Durante a COP28, Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), falou sobre a importância do aumento da oferta de hidrogênio verde no país, com o Ceará na vanguarda e o Rio Grande do Sul se posicionando como potencial produtor. Para Mercadante, trata-se de uma competição saudável. “Quanto mais gente estiver produzindo melhor para a Brasil, para a economia e para o planeta”, diz.
Sem muitos detalhes, Mercadante diz que há vários projetos de hidrogênio verde, alguns em implantação e outros a serem financiados pelo BNDES. Ele lembra que o Brasil tem mais de uma rota e mais de uma metodologia.
“Como é uma matriz de energia muito limpa, nós temos um ganho de competitividade extraordinário para produzir hidrogênio verde. Grandes empresas brasileiras, e não só brasileiras, estão entrando pesado na produção de hidrogênio verde”, cita.
Assista a reportagem completa sobre o potencial do hidrogênio verde produzida pela equipe Exame na COP28:
Mas qual é a razão de tanto interesse? Figueiredo explica que, além da infraestrutura, o Complexo de Pecém recebe um “potencial de energia renovável extraordinário”. “Temos aqui no Ceará energia solar abundante, além de energia eólica onshore e offshore abundante”, explica.
Roseane O. de Medeiros, secretaria estadual de Relações Internacionais, comemora a nova fase do estado. “Com essas vantagens, deixamos de ser invisíveis até mesmo para o Brasil. Quando se fala de Nordeste, até mesmo para o brasileiro, só se pensa em turismo e praia”, diz.
Governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT) não disfarça o otimismo quanto aos projetos de energia limpa no estado, em especial os de hidrogênio verde. Ele explica que seu estado e o Rio Grande do Norte tem a chamada ‘margem equatorial’, com o que é apontado como o melhor local de produção de energia do vento do mundo por conta do fator de capacidade. Com operações no mar, essa capacidade chega a 62%. Já no mar esse número oscila entre 38% e 45%.
“Além disso, nosso mar não é tão profundo, o que faz com que não seja tão complicado colocar a torre. Temos ainda um porto com boa condição de fazer a exportação de hidrogênio verde”, cita Freitas.
Segundo o governador, hoje há um projeto em discussão no estado para avançar com a integração da população de menor renda.
“Estamos sugerindo e alguns já aceitaram que a energia solar seja produzida por pequenos. Temos no sertão do Ceará 80% do território com capacidade de produção de energia solar com muita pobreza. Estamos chamando isso de renda do sol, transformando essa produção, além de um projeto econômico, colado ao social para alavancar uma operação econômica à nossa base social”, detalha Freitas.
Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Ricardo Cavalcante, alerta para a necessidade de soluções como o hidrogênio verde também serem destinados aos consumidores brasileiros.
“É preciso atender a sua população. Não tem sentido pegar a sua energia e exportar, e as pessoas onde você mora não terem aquele direito”, alerta Cavalcante.
O representante da FIEC acredita que as condições de produção de energia limpa atuais e o seu potencial colocarão o Brasil em uma situação privilegiada. Ele cita que a o Brasil tem 85,6% de capacidade instalada de fontes renováveis, contra 38% da média mundial. “Se isso estivesse nas mãos dos EUA, o resto do mundo estaria acabado, não dava para ninguém”, compara.
No caso específico do hidrogênio verde, segundo o governador do Ceará, o que se vê hoje é uma oportunidade não só para o Ceará e o Nordeste, mas para o Brasil. O líder do executivo conta que teve acesso a estudos internacionais que mostram que o hidrogênio verde brasileiro vai custar em torno de 20% do valor do que pode ser produzido fora.