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Crítica a Gates: Haddad diz ouvir quem "entende do riscado"
Jornalista
Publicado em 4 de novembro de 2025 às 15h30.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda, rebateu declaração do bilionário Bill Gates sobre mudanças climáticas. “Eu presto atenção nos cientistas, em quem entende do riscado”, disse durante o evento Bloomberg Green at COP30, em São Paulo, nesta terça-feira (4).
O titular da pasta fez referência ao conteúdo de um memorando de Gates, publicada em 28 de outubro, em que o fundador da Microsoft, até então conhecido pelo ativismo ambiental em defesa da redução das emissões de carbono, argumentou que os recursos devem ser, segundo ele, desviados da pauta contra as mudanças climáticas.
“As vantagens competitivas do Brasil são aderentes à agenda climática. Então, independentemente do que o Bill Gates acha, o Brasil tem energia limpa e barata. Não tem sentido a gente trocar por energia suja e cara”, declarou Haddad.
Encontro bilateral com vice-presidente europeia
O ministro citou iniciativas que colocaram o Brasil entre evidência no uso de fontes limpas, como no caso dos biocombustíveis desenvolvidos e produzidos no país, a exemplo do etanol, em uso há mais de 40 anos.
Já Gates vai em outra direção em seu texto: "Embora as mudanças climáticas tenham consequências graves —especialmente para as pessoas nos países mais pobres— elas não levarão à extinção da humanidade", publicou o bilionário. "As pessoas poderão viver e prosperar na maioria dos lugares da Terra no futuro próximo."
Haddad aproveitou a provocação para reclamar do lobby do setor elétrico. "O setor que mais tem lobby no Brasil é o setor elétrico, é o cara do carvão, é o cara do gás. Tem interesses por todo lado, mas estamos conseguindo dar passos e podemos avançar mais em relação a isso", afirmou.
Como mostra o relatório BloombergNEF, divulgado na segunda-feira (3), os investimentos anuais em energias renováveis nos mercados emergentes quase triplicaram após o Acordo de Paris ser assinado. Em 2015, foram US$ 49 bilhões. No ano passado, a soma chegou a US$140 bilhões.
Por outro lado, a soma repassada aos países mais pobres não chega a 1% dos US$ 4 trilhões investidos nos últimos dez anos – 40% dos recursos foram para a China continental e as economias desenvolvidas ficaram com 42%. Já os países em desenvolvimento receberam 18% do financiamento global.
Mais uma vez, Haddad falou da possibilidade de o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), poder chegar a US$ 10 bilhões em recursos privados até 2026.
O novo mecanismo, segundo o ministro, é "o carro-chefe" da presidência brasileira para a COP30, que começa na próxima segunda-feira (10), em Belém.
"Para usar uma imagem fácil de entender, [o TFFF] é como se fosse um banco da floresta. Esse fundo capta a uma taxa de juros baixa, empresta uma taxa de juros maior e com a diferença, com o lucro, remunera por hectare as florestas tropicais dos países aderentes à proposta de combater o desmatamento", declarou Haddad.