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Guia visa impulsionar o etnoturismo na Amazônia Legal, região que abriga mais da metade dos 1,7 milhões de indígenas do Brasil (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de ESG
Publicado em 31 de dezembro de 2024 às 12h00.
O etnoturismo, ou seja, o turismo de imersão na cultura e vivências de populações tradicionais e locais, como povos indígenas, tem se mostrado uma ferramenta eficaz para geração de renda e preservação cultural. Em meio ao crescimento dessa economia, o Instituto Samaúma, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) lançaram um guia de fortalecimento destas iniciativas.
Chamado Guia de Boas Práticas para Empreendimentos de Turismo de Base Comunitária em Terras Indígenas, o documento foi desenvolvido a partir de uma extensa pesquisa que incluiu povos indígenas, organizações regionais, representantes do terceiro setor, iniciativa privada e órgãos governamentais.
O documento estabelece etapas para garantir a evolução e desempenho dessa economia. A primeira é o diagnóstico, que só deve ser realizado quando solicitado pela própria comunidade. Nesta fase, são avaliadas as necessidades locais, potencialidades e desafios a partir do protagonismo indígena.
A segunda etapa foca na anuência da comunidade, garantindo o consentimento formal, livre e informado das atividade em seus territórios. Este processo inclui reuniões de esclarecimento, apresentação detalhada dos impactos e benefícios do projeto, tempo para deliberação interna e documentação formal do consentimento. Por fim, deve ser elaborado um plano de visitação de forma participativa, tendo como base o diagnóstico inicial.
Vari Shanenawa, antropóloga etnográfica, explica que o etnoturismo ajuda a disseminar a relação entre os povos indígenas e as florestas. "O povo não indígena entende que nós precisamos da terra, mas é muito superior a isso. Precisamos porque necessitamos da floresta, é isso que garante o equilíbrio do planeta. Nós nos entendemos como guardiões da floresta", explica.
Durante a elaboração do guia, foram realizadas visitas técnicas em seis territórios indígenas: Yaripo Ecoturismo Yanomami (Amazonas), Aldeia Afukuri (Mato Grosso), Comunidade Indígena Kauwe (Roraima), Aldeia Vista Alegre do Capixauã (Pará), Comunidade Raposa 1 (Roraima) e Aldeia Shanenawa (Acre).
O material também inclui uma programação de conteúdos para formação das comunidades interessadas em desenvolver o Turismo de Base Comunitária, abrangendo desde fundamentos básicos até temas específicos como legislação, marketing, hospitalidade e gestão de segurança.
"É essencial garantir uma divisão justa de benefícios e o respeito ao modo de vida local. A gestão comunitária e a transparência dos acordos com parceiros são fundamentais para o desenvolvimento saudável dos empreendimentos de turismo indígena", afirma Lana Rosa, líder de equipe do Instituto Samaúma.
O guia integra um projeto mais amplo que visa impulsionar o etnoturismo na Amazônia Legal, região que abriga mais da metade dos 1,7 milhões de indígenas do Brasil, segundo o Censo 2022 do IBGE. O lançamento ocorreu durante evento realizado entre 3 e 6 de dezembro na Terra Indígena Katukina-Kaxinawá, no Acre, reunindo membros do governo, lideranças indígenas e organizações do setor.