(manusapon kasosod/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 26 de setembro de 2022 às 10h29.
Muito se tem dito, e é uma absoluta verdade, sobre os negócios sendo licenças sociais. Sem o consentimento, sem o acolhimento da sociedade, os negócios não se estabelecem.
Acredito inclusive que a ideia vai muito mais fundo, e vou explicar.
A governança se estabeleceu mais fortemente quando os negócios da era industrial passaram a demandar mais capital e a estrutura da propriedade foi se estratificando, demandando portanto que se estabelecesse com clareza uma estrutura que carregasse o mandato fiduciário, apoiando os interesses de todos os acionistas.
Assim, o vetor de maior demanda sobre as decisões do sistema de governança era o capital e, em alguma extensão, o trabalho também, durante muito tempo o fator associado ao capital e organizado em sindicatos.
Na medida em que o trabalho foi sendo substituído nos ciclos de automação e digitalização, ele perdeu o pouco que ainda tinha de pressão sobre o sistema de governança, passando a ser um vetor em igualdade de condições com outras partes interessadas.
E o capital? No mundo em que o principal bem de produção passou a custar ao redor de US$ 2 mil, preço de um computador pessoal, na margem, a demanda por capital para financiar não mais ativos fixos da era industrial ficou decrescente.
Cresceu então a importância dos outros demandantes, os stakeholders como um todo, cuja moeda é a lealdade aos negócios que valorizam suas licenças.
Todos os outros agentes, e é importante mencionar a “nova consciência” dos investidores, sabem que se a lealdade de “stakeholders” for sendo negada aos negócios eles certamente perderão valor.
Então, nos dias de hoje, o vetor de maior demanda sobre o sistema de governança é a sociedade “at large”.
O que ela demanda? Que as empresas sejam conduzidas de forma sustentável. Que devam sim gerar bons resultados econômicos, mas que a forma como geram possibilite que eles se repitam no tempo, porque agindo assim manterão a lealdade das partes interessadas.
Mudou então a demanda principal e deve mudar a cultura que estava instalada nos negócios. A mudança de cultura requer uma clara mensagem a todos sobre o porquê a empresa existe, porém, mais do que isso, sobre como e no que ela acredita seja a melhor forma de obter resultados sustentáveis.
Para isso, mais do que em qualquer outro momento, fazer com que os artefatos que influenciam a cultura, a forma de agir, sejam usados para operar a transformação.
A forma como as empresas remuneram seus colaboradores é um artefato de alto poder de transformação.
Muito importante também é a forma como as empresas desenvolvem todo o conjunto daqueles que contribuem para consecução de seus objetivos.
Como a empresa comunica o que ela valoriza e como ela reconhece as evidências de atitudes que contribuem na direção desejada são ferramentas igualmente eficazes.
Finalmente, o que a empresa celebra são os resultados econômicos, ou dá igual importância às conquistas e avanços obtidos na direção de um propósito que vai além e que inclui a contribuição de todos para a realização da prosperidade para todos, que é, ao cabo e ao final, a razão maior de a humanidade ter decidido se organizar em torno de empresas.