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Furacão Melissa: mudanças climáticas agravaram crise em quatro vezes

Pesquisa do Imperial College London mostra que aquecimento global intensificou ventos em 7% e multiplicou danos econômicos na Jamaica

Os pesquisadores estimam que em um mundo com 2°C de aquecimento, os ventos seriam ainda mais fortes e os danos seriam maiores

Os pesquisadores estimam que em um mundo com 2°C de aquecimento, os ventos seriam ainda mais fortes e os danos seriam maiores

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 31 de outubro de 2025 às 06h00.

Hospitais à beira do colapso pelas enchentes. Centenas de milhares de pessoas sem luz e sem comunicação. Cerca de 400 mil desabrigados em um país onde 70% da população vive a menos de 5 km do mar. O cenário na Jamaica após a passagem do Furacão Melissa na terça-feira, 28, é devastador — e a ciência acabou de provar que isso não teria acontecido sem as mudanças climáticas.

Um estudo divulgado esta semana por cientistas do Imperial College London é categórico: o aquecimento global causado pela atividade humana tornou um furacão como Melissa quatro vezes mais provável. Mais que isso: as mudanças climáticas intensificaram os ventos da tempestade em 7%, transformando o que já seria um desastre em uma catástrofe histórica para a região.

Melissa atingiu a Jamaica como um fenômeno de Categoria 5, com ventos de até 297 km/h e chuvas de até 76 centímetros. Foi o furacão mais poderoso da história jamaicana e o mais forte a atingir as ilhas caribenhas em décadas.

A conta: US$ 22 bilhões

A AccuWeather estima os danos totais e perdas econômicas em US$ 22 bilhões — incluindo destruição de casas e empresas, interrupção do comércio e da logística, perdas no turismo, impactos nas operações portuárias, quedas prolongadas de energia e danos à infraestrutura. Outra estimativa, da Enki Research, calcula os danos diretos a ativos físicos em US$ 7,7 bilhões, o equivalente a 37% do PIB jamaicano (US$ 20 bilhões em 2024).

Melissa forçou milhões a evacuar, derrubou árvores, submergiu ruas, destruiu lojas e casas. As ilhas vizinhas de Haiti e República Dominicana também foram atingidas, com destruição de plantações, escassez de alimentos e inundações. O número total de mortes ainda é desconhecido. Melissa teve uma pressão mínima de 892 hPa ao longo de sua trajetória — uma das tempestades mais fortes já registradas no Atlântico.

Entre 25 e 26 de outubro, o furacão passou por uma intensificação extrema e rápida: os ventos aumentaram 112 km/h em apenas 24 horas, algo nos extremos do que já foi observado. As mudanças climáticas tornaram duas vezes mais provável que tempestades tropicais se intensifiquem em furacões de grande porte. A pesquisa utilizou o modelo IRIS (Imperial College Storm Model) para comparar o clima atual com um mundo sem mudanças climáticas.

Efeito das mudanças climáticas

Em um mundo sem aquecimento global, um furacão do tipo Melissa teria atingido a Jamaica uma vez a cada 8.000 anos. No clima atual, com 1,3°C de aquecimento, esse tipo de evento agora é esperado uma vez a cada 1.700 anos — quatro vezes mais provável.

Ralf Toumi, professor e diretor do Grantham Institute — Climate Change and the Environment do Imperial College London, afirmou que essas tempestades "se tornarão ainda mais devastadoras no futuro se continuarmos superaquecendo o planeta queimando combustíveis fósseis", conta.

Segundo o professor, a Jamaica teve bastante tempo e experiência para se preparar para essa tempestade, mas há limites para o quanto os países podem se antecipar e se adaptar. "A adaptação às mudanças climáticas é vital, mas não é uma resposta suficiente ao aquecimento global. A emissão de gases de efeito estufa também tem que parar."

Os pesquisadores estimam que em um mundo com 2°C de aquecimento, os ventos seriam ainda mais fortes e os danos seriam maiores.

Injustiça climática

Emily Theokritoff, pesquisadora do Grantham Institute do Imperial College London, destacou a gravidade da situação. "Isso ilustra como a injustiça climática se desenrola: pequenos estados insulares em desenvolvimento têm muito pouca responsabilidade pela crise climática, mas suportam alguns de seus piores impactos", explica.

Para a pesquisadora, à medida que nos aproximamos da COP30, este é um lembrete tanto da lógica econômica de reduzir as emissões quanto da moral de ampliar rapidamente o financiamento internacional para perdas e danos e adaptação nos países mais vulneráveis.

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