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Marcelo Behar, enviado climático da COP30: "Após três COPs seguidas com o mote do petróleo, esperamos uma COP da natureza no Brasil" (Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 29 de agosto de 2025 às 14h30.
Última atualização em 1 de setembro de 2025 às 11h01.
"Com o potencial florestal do Brasil, vamos ter uma receita para conservação nunca vista antes no mundo". A afirmação é de Marcelo Behar, enviado especial de bioeconomia da COP30.
Advogado e especialista em políticas públicas, o executivo passou por empresas como a Natura e atualmente coordena o Fórum de Governança Climática da FGV-SP, além de integrar conselhos de organizações ambientais como o WWF-Brasil e Instituto Ethos.
É com a ajuda de Behar, que precisa andar a agenda de potencial estimado em R$ 765 bilhões por ano até 2032, conforme estudo publicado pelo ICC Brasil no início deste mês.
E o caminho, conforme revelou nesta entrevista para EXAME, passa por uma estratégia trilionária estruturada em cinco frentes para posicionar o Brasil como plataforma global de soluções baseadas na natureza.
O coração deste plano é o ambicioso Fundo de Florestas Tropicais (TFFF), que acredita ser a principal entrega neste sentido, durante a conferência do clima de Belém do Pará, quando o governo deve formalizar o anúncio e fazer os primeiros aportes.
Países como Noruega, Reino Unido e Alemanha já sinalizaram interesse em fazer parte, assim como a China e os Emirados Árabes Unidos.
O fundo representa um novo modelo de financiamento climático que recompensa financeiramente os países que preservam suas florestas tropicais e espera captar US$ 125 bilhões.
"A proposta é uma medida de proteção da natureza, com um ativo financeiro em que o rendimento vai para a manutenção das áreas verdes, independentemente do estoque de carbono", destacou o executivo.
Segundo ele, o diferencial é pagar um "valor muito maior do que pagamos hoje" por floresta conservada (U$ 4 por hectare) e também destinar 20% dos recursos diretamente para o uso sustentável por comunidades tradicionais.
O especialista também garante que o TFFF não depende do mercado de carbono regulado e deve começar a operar já em novembro.
A menos de 80 dias da COP30, a bioeconomia é um conceito consolidado no G20 do Rio de Janeiro e deve ser agenda prioritária do Brasil devido a suas vantagens comparativas únicas e abundância em recursos naturais.
A oportunidade é bilionária: este modelo que utiliza recursos renováveis para produção econômica pode movimentar de US$ 100 a US$ 140 bilhões (R$ 765 bilhões) por ano até 2032.
"Após três COPs seguidas com o mote do petróleo, esperamos uma COP da natureza no Brasil. Será um momento de virada, em que vamos apresentar soluções inovadoras para o mundo, especialmente no campo da bioeconomia, com produtos que o mundo precisa, mas não tem na escala que deveria", projeta Behar.
O plano brasileiro se estrutura em cinco pilares interconectados, todos dentro do guarda-chuva da bioeconomia: florestas, agricultura regenerativa, sociobioeconomia, biotecnologia e finanças sustentáveis. Entenda:
O foco é na conservação das florestas, especialmente da Amazônia, e no desenvolvimento de soluções econômicas sustentáveis. A ideia é garantir a preservação ambiental enquanto se cria valor econômico com baixo impacto sobre o clima e a biodiversidade.
A floresta amazônica concentra 80% da biodiversidade mundial, enquanto 95% da humanidade consome apenas 17 espécies - "uma "dieta pobre" que a bioeconomia pode revolucionar com milhares de espécies disponíveis", citou Marcelo.
"Se cortássemos a Amazônia inteira neste momento, a emissão seria igual à americana de todos os anos desde 1850", analisou o especialista ao refletir sobre a importância de mantermos o bioma em pé.
A estratégia envolve a transição para uma agricultura regenerativa, que foca na fixação de carbono e recuperação da qualidade do solo. O Brasil já é um líder global e busca melhorar as práticas agrícolas para aumentar a sustentabilidade com produtividade e combater sua maior fonte de emissões.
Esta frente foca nas comunidades tradicionais que vivem nos biomas brasileiros, como indígenas, povos quilombolas e ribeirinhos. A prioridade é melhorar as condições de vida dessas populações, ao mesmo tempo em que se preserva a biodiversidade e se utiliza o conhecimento ancestral para desenvolver novos produtos e soluções.
Segundo Marcelo, estas pessoas locais conhecem profundamente o território e os usos dos bioativos. "A ideia é expandir o que já produzimos, trabalhando em conjunto de forma respeitosa e garantindo que elas sejam remuneradas pelo seu conhecimento", explicou.
A biotecnologia aplicada à bioeconomia envolve o uso de tecnologias para criar novos produtos e soluções sustentáveis. Isso pode incluir desde biocombustíveis até novos materiais e produtos derivados da natureza, como roupas feitas de celulose, que ajudam a reduzir o impacto ambiental.
A última frente envolve a criação de mecanismos financeiros que incentivem o investimento em projetos de bioeconomia e sustentabilidade. O foco está em alinhar as métricas de financiamento climático e natural com as práticas financeiras tradicionais, incentivando investimentos que gerem retorno econômico e ao mesmo tempo preservem a natureza.
O plano será apresentado no Parque da Bioeconomia, que será inaugurado em 7 de outubro em Belém, funcionando como vitrine das soluções brasileiras para o mundo.
Outra peça-chave para o executivo é o avanço do mercado de carbono regulado como uma estratégia para impulsionar a bioeconomia no Brasil e com potencial de render até US$ 2 trilhões anuais até 2030.
Segundo Marcelo, a integração entre os dois pode gerar soluções sustentáveis que não só promovem a conservação ambiental, mas também geram valor econômico. Além disso, oferece uma fonte vital de financiamento para projetos voltados a descarbonização e o desenvolvimento sustentável.
"Precisamos criar métricas claras que alinhem a produção de riqueza e a redução das emissões. O mercado de carbono deve ser uma ferramenta que faça com que a bioeconomia cresça de maneira sustentável", afirmou, evidenciando que, sem a estruturação eficaz, muitas das soluções propostas pela não seriam viáveis a longo prazo.
Apesar dos desafios geopolíticos, Marcelo se mantém otimista em relação à COP30. Ele acredita que, mesmo com a guerra tarifária imposta por Trump, o evento pode ser uma virada para a agenda climática global, oferecendo ao Brasil uma plataforma para apresentar soluções inovadoras em bioeconomia e avançar no mercado de carbono.