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Embora tóxica quando levada radicalmente, a estratégia de incentivar a busca pelo lucro, torna possível realizar as transformações estratégicas e de gestão necessárias para adotar o ESG (RoadLight/Pixabay/Divulgação)
Rodrigo Caetano
Publicado em 21 de janeiro de 2021 às 09h16.
Lucro versus geração de valor para todos. Esse tem sido o dilema de boa parte dos líderes quando confrontados a respeito de suas estratégias socioambientais. Há quem ainda duvide da possibilidade de aliar uma cultura de resultados com estratégias ESG. Uma nova pesquisa, realizada pela consultoria WayCarbon e pela escola de negócios Fundação Dom Cabral (FDC), mostra que, na realidade, empresas com foco no lucro tendem a se dar melhor do que seus pares quando adotam a sustentabilidade como estratégia.
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O trabalho ouviu 34 CEOs e executivos de grandes corporações. O objetivo foi avaliar a resiliência das companhias durante a pandemia. “Ficou claro para nós que as empresas que não entraram em ‘modo de sobrevivência’ se saíram melhor na crise”, afirma Henrique Pereira, CEO da WayCarbon, uma consultoria especializada em implementar estratégias de transição para a economia de baixo carbono.
A pesquisa foi qualitativa e identificou três grandes tendências que devem permear a gestão das companhias de alta performance, daqui para a frente: a liquefação das fronteiras organizações, a ampliação dos critérios de sucesso e o imperativo do propósito e da cultura organizacional. “Ninguém estava preparado para enfrentar o que vivemos em 2020”, escreve Heiko Spitzeck, diretor do núcleo de sustentabilidade da FDC, no relatório. “A pandemia trouxe muitos impactos, mas um, indiscutivelmente, duradouro: a ressignificação.”
Spitzeck relaciona o momento atual a um dos capítulos do livro “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Arthur Clarke (a obra foi escrita em conjunto com sua versão para os cinemas, filme dirigido por Stanley Kubrick). O livro descreve a ascensão humana, diz o pesquisador, um animal que evoluiu, dominou o planeta, desenvolveu ferramentas e aprendeu a perpetuar o conhecimento. O homem, diferentemente de outros animais, não conhece apenas o presente, ele adquire o passado e vislumbra o futuro. “Na odisseia da pandemia, entendemos que nem o presente pode ser conhecido”, afirma o diretor da FDC.
O cenário exige das empresas uma atitude proativa em relação a mudanças. O receio de perder tudo paralisa a administração, que se apega ao que “sempre deu certo”. É um erro, apontam os especialistas. “Estes são os momentos em que você precisa de uma tomada de decisões ágil”, diz Pereira. “Veja o caso da Ambev, que tem um processo de aprovação interna facilitado. Em dias, a empresa montou uma estratégia de logística para produzir e distribuir álcool em gel em todo o país.”
Essa agilidade vem da cultura de resultados. Embora tóxica quando levada radicalmente, a estratégia de incentivar a busca pelo lucro, incorporada a um propósito maior e a metas de geração de valor para todas partes envolvidas, torna possível realizar as transformações estratégicas e de gestão necessárias para tirar proveito de todo o potencial do ESG.
Riscos sistêmicos
Outra mudança importante relacionada à pandemia está na percepção dos riscos. Grandes empresas perceberam o quanto estão expostas a situações potencialmente catastróficas, como a quebra de um fornecedor indispensável. “A verdade é que as cadeias de suprimentos são muito concentradas”, diz Pereira. “Às vezes, tudo depende de um só fornecedor.”
Quando se faz uma análise mais abrangente do negócio, percebe-se a importância da geração de valor coletivo. No fundo, segundo Pereira, adotar uma estratégia ESG é focar em resultado. O contrário, ou seja, a não incorporação da cultura do valor coletivo, traz riscos, engessa e, potencialmente, resulta em prejuízo para as corporações. “O mundo está mais complicado e tudo acontece mais rápido”, afirma. “Resiliência é estar confortável em tomar decisões lidando com a incerteza.”
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