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Hillary Clinto, à esquerda de John Kerry, em palco na COP28, em Dubai (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de ESG
Publicado em 4 de dezembro de 2023 às 14h50.
Última atualização em 5 de dezembro de 2023 às 09h21.
De Dubai*
Pela primeira vez em 28 Conferências das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP28), as mulheres tiveram um espaço de destaque em uma das plenárias principais. Durante o dia dedicado às pautas de gênero, Hillary Clinton, ex-secretária de Estado dos Estados Unidos e ex-candidata democrata à Presidência, participou de rodas de conversa com mulheres de diferentes partes do mundo sobre a evidente necessidade de avanços e os caminhos para a equidade.
"A chave para avançarmos na equidade de gênero é a escalabilidade. Vemos aqui iniciativas locais de mulheres que comandam suas famílias e comunidades, mas que não conseguem apoio financeiro para que os projetos alcancem mais pessoas", disse Clinton.
Para ela, ter um espaço na plenária, como hoje, é algo ambíguo. "Finalmente estamos assumindo que precisamos de equidade de gênero. Mas, ao mesmo tempo, estamos dizendo que as mulheres são as mais afetadas pelo clima e as que menos têm condições justas de trabalho, ao ponto de precisarmos deste espaço para pensar num futuro justo".
Assim, ela fez um apelo para que todos pensem nas questões de gênero nas práticas de negócios do dia a dia. "Espero que, coletivamente, possamos pensar em algumas das soluções para mitigar esses problemas. Não é possível falar, por exemplo, em segurança alimentar, sem abordar como as mulheres que lideram operações agrícolas em todo o mundo tenham acesso ao crédito, à água, aos melhores serviços de logística, entre outros", disse.
Clinton lembrou, por exemplo, de organizações como a Clean Cooking Alliance, que promove tecnologias de cozinha com baixa emissão em países em desenvolvimento. "Fizemos avanços com a organização, mas precisamos chegar num momento em que todas as mulheres do mundo tenho acesso às mesmas tecnologias. Penso que, para isto, é preciso estar perto das empreendedoras, ampliando o potencial financeiro delas".
Ao final, John Kerry, enviado especial do Clima dos Estados Unidos, subiu ao palco também para lembrar que os homens precisam participar das conversas de gênero. "Promover a equidade de gênero é garantir futuros sustentáveis. É preciso admitir que, infelizmente, a disparidade ainda está em todos os lugares, como no acesso à educação e à saúde, assim como no desafio dos desastres naturais. Agora, é hora da ação para que as pautas de financiamento na adaptação do clima estejam comprometidas com a interseccção de gênero".
Outras mulheres trouxeram exemplos de como trabalham a pauta ou de como percebem o que é preciso avançar. Uma delas foi Kara Hurst, vice-presidente de sustentabilidade da Amazon, que participou da criação e desenvolvimento do Fundo para a Equidade de Gênero Climática (CGEF), há um ano. "Temos três organizações apoiadas, sendo: um centro de aceleração liderado por mulheres na Nigéria par a expansão de tecnologias climáticas; uma aceleradora na África do Sul que apoia mulheres fundadoras de empresas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM); e uma incubadora no Quénia que se concentra em mulheres empreendedoras que trabalham em soluções agrícolas inteligentes para o clima", afirmou.
Já Sima Bahous, diretora executiva da ONU Mulheres, acredita no futuro da equidade por meio, também, dos investimentos em agricutura familiar. "As mulheres são grande parte das chefias na agricultura familiar, mas, ao mesmo tempo, estamos falando de regiões onde há disputas por terras. Melhorar a forma como produzimos alimentos e garantimos esses espaços é melhorar a vida de cada uma delas, e a coletiva sobre como produzimos alimentos".
Ainda nesta segunda-feira, 4, foi lançada durante a COP28 uma parceria para apoiar o empoderamento econômico das mulheres e a transição climática justa, aprovada por 60 países. A nova parceria tem três pilares fundamentais: dados de melhor qualidade para apoiar a tomada de decisões no planeamento da transição, fluxos financeiros mais eficazes para as regiões mais afetadas pelas alterações climáticas, e educação, com competências e capacitação para apoiar o envolvimento individual nas transições.
A implementação, contudo, deve ser revista na COP31, prevista para acontecer em 2026. Além disto, o Brasil ainda não está na lista dos países que participaram do acordo.