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Exército fracassou na Amazônia, diz Observatório do Clima

Desde maio, Forças Armadas fazem operação para conter o desmatamento, mas o volume de queimadas em agosto foi o maior do ano

Em agosto, foram registrados 29.307 focos de queimadas, o maior volume do ano e o segundo maior da década (Ueslei Marcelino/Reuters)

Em agosto, foram registrados 29.307 focos de queimadas, o maior volume do ano e o segundo maior da década (Ueslei Marcelino/Reuters)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 1 de setembro de 2020 às 16h47.

Última atualização em 1 de setembro de 2020 às 22h09.

Para o Observatório do Clima, rede formada por 50 organizações que atuam na mitigação das mudanças climáticas, o Exército Brasileiro fracassou na tentativa de conter o desmatamento na Amazônia. Isso porque dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), responsável pelo monitoramento da floresta por satélites, apontam para um recorde de queimadas em agosto. Foram registrados 29.307 focos de calor, o maior volume do ano e o segundo maior da década. 

Há três meses, o Exército conduz uma operação na região para conter o desmatamento, que vem batendo recordes há um ano. O vice-presidente, Hamilton Mourão, que é militar, assumiu o comando do Conselho Amazônia, criado para coordenar as ações federais de proteção e desenvolvimento da floresta. Mourão já havia alertado que, provavelmente, os números de 2020 não mostrariam avanço. O resultado é esperado para o próximo ano. 

Desde maio, quando o Exército iniciou a operação, o número de queimadas totalizou 39.187, pouco acima do registrado no mesmo período do ano passado, de 38.952. Desde julho, também vigora a moratória das queimadas, que proíbe qualquer tipo de incêndio na floresta, mesmo em áreas já desmatadas. Ainda assim, 2020 registra um aumento de 34% nos alertas de desmatamento, em relação a 2019. 

“O teatro militar montado pelo general Hamilton Mourão na Amazônia para iludir os investidores não conseguiu enganar os satélites”, afirmou Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Tudo isso porque as pessoas que estão no poder se recusam a implementar políticas públicas de combate ao desmatamento e ao fogo, que não apenas já existiam, como deram certo no passado.”

Ideologia de lado, pragmatismo acima de tudo

Mourão tem defendido uma abordagem mais ampla para o problema do desmatamento e da falta de desenvolvimento na Amazônia. Em live transmitida pela EXAME, em julho, ele afirmou que a região deve ser compreendida a partir da sua enorme complexidade. Há uma falta crônica de infraestrutura, o que deixa boa parte do seu território sem integração com o restante do País. 

“Os europeus não têm a dimensão disso”, afirmou o vice-presidente. “O nosso projeto inclui a repressão ao desmatamento. Mas só isso não basta. É preciso considerar o zoneamento ecológico, com a regularização fundiária, a infraestrutura e a bioeconomia”.

Existem, atualmente, 120 mil propriedades não regularizadas na região, de acordo com Mourão. Sem a possibilidade de financiamento, esses fazendeiros optaram por atividades predatórias. Como resultado, a produtividade é muito baixa. “Na média, o Brasil coloca 8 ou 9 cabeças de gado por hectare de terra. Na Amazônia é uma cabeça por hectare”, afirmou.

Brasileiros estão preocupados

A situação na Amazônia preocupa a população. Uma pesquisa realizada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) aponta que o brasileiro é um defensor da preservação do meio ambiente. O trabalho entrevistou 1.500 pessoas, entre os dias 11 e 19 de agosto. Para 90% dos entrevistados, a situação na Amazônia, com o aumento recente do desmatamento, é preocupante. 

Mais da metade (55%) considera o cenário atual muito preocupante e 60% apontam a Floresta Amazônica como o ecossistema mais ameaçado do país. Esse percentual é especialmente relevante considerando que 94% dos entrevistados consideram que a preservação da Amazônia é essencial para a identidade nacional. 

As lideranças indígenas são encaradas positivamente, com 73% de aprovação, o maior índice entre os grupos e entidades que melhor defendem a floresta. Em seguida, aparecem os militares, com 69%. Mais de dois terços dos entrevistados são contra a redução das reservas índigenas na região. 

Já o governo e os madeireiros aparecem empatados como os maiores responsáveis pela alta no desmatamento. Fazendeiros e garimpeiros também são apontados como culpados pela destruição da floresta. A perda da diversidade é considerada a consequência mais grave do desmatamento. Também foram destacadas as mudanças climáticas e do regime de chuvas no Brasil. 

A EXAME procurou o Exército, por meio da sua assessoria de comunicação. Até o momento, não houve resposta. A matéria será atualizada com o posicionamento da instituição. 

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