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A adaptação climática no setor elétrico foi tema de painel durante o evento EXAME renováveis (Eduardo Frazão)
Repórter de ESG
Publicado em 30 de janeiro de 2025 às 12h36.
Última atualização em 30 de janeiro de 2025 às 12h46.
As concessionárias de energia enfrentam desafios para prever e responder a tempestades, inundações e períodos de seca, e a necessidade de investimentos em infraestrutura e adaptação se torna cada vez mais urgente. Este foi o tema de um painel durante o evento EXAME renováveis na quarta-feira, 29, com a presença de especialistas e executivos da área.
Marcos Madureira, presidente executivo da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), destacou o impacto da crise climática no setor. “Nos últimos anos, o Rio Grande do Sul teve mais de um evento climático extremo por mês”, afirmou.
O executivo mencionou que o sistema elétrico tem sido afetado por secas, queimadas, ventos intensos e inundações e que uma das mazelas é a previsão, que pode demorar de 1 a 2 horas — o que dificulta a mobilização de equipes.
Com uma rede de distribuição de cerca de 4 milhões de quilômetros, as concessionárias lidam com desafios estruturais para manter o fornecimento de energia. Para minimizar os impactos, o setor discute novas soluções. “A automação da rede elétrica pode evitar que consumidores sejam desligados e garantir mais estabilidade ao sistema”, disse Madureira.
O financiamento dessas adaptações, no entanto, é um desafio. Sandoval Feitosa, diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), afirmou que a agência está aberta a debater investimentos e formas de remuneração.
Segundo ele, o setor elétrico investe cerca de R$ 22 bilhões por ano, mas será necessário mais capital para garantir a resiliência do sistema. “As distribuidoras não possuem recursos abundantes para lidar com múltiplos eventos extremos no ano”, ressaltou.
Além da necessidade de novos aportes, Feitosa chamou a atenção para o peso dos subsídios na conta de luz. Em 2024, o valor dessas isenções foi de R$ 45 bilhões. “Quase 20% de todo o custo da distribuição vem dos incentivos financeiros para diferentes setores”, afirmou. O executivo defendeu a reavaliação destes subsídios para grandes consumidores e irrigação agrícola.
A matriz elétrica brasileira, composta por mais de 90% de fontes renováveis, também apresenta gargalos e especificidades diante do cenário imposto pela nova realidade do clima.
O setor depende fortemente de fontes hidrelétricas e a seca expõe fragilidades: a geração pode ser comprometida pela redução dos níveis dos reservatórios, o que pode obrigar o setor a acionar usinas térmicas mais poluentes. Além disso, fontes limpas como a eólica e solar também são impactadas: mudanças na regularidade dos ventos e da incidência solar diminuem a produção destas usinas que dependem do recurso natural.
A mudança climática também agrava problemas de infraestrutura: tempestades e fortes ventos podem causar quedas de energia por danos a linhas de transmissão e distribuição, ondas de calor podem aumentar o consumo de eletricidade e levar a uma sobrecarga da rede e apagões e inundações comprometem redes subterrâneas — mais comuns em centros urbanos.
Alexandre Uhling, diretor para Assuntos Socioambientais e Sustentabilidade no Instituto Acende Brasil, ressaltou a dependência das hidrelétricas, que representam 60% da eletricidade gerada no país. “Isso torna o sistema vulnerável a períodos de estiagem”, afirmou. Um dos caminhos apontados seria a diversificação da matriz e armazenamento de energia para reduzir riscos.
A integração entre distribuidoras, governos e órgãos de defesa civil é uma das soluções para fortalecer o setor, disseram os especialistas.
“As empresas precisam atuar em conjunto com prefeituras para evitar problemas como quedas de árvores que afetam as redes elétricas”, disse Uhling. Para ele, ações coordenadas de planejamento urbano e manutenção da infraestrutura são essenciais para tornar o sistema elétrico mais resistente e resiliente aos eventos extremos.