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Especial Trajetórias: Katleen Conceição, da exclusão à referência nacional em pele negra

Seguindo os passos do pai,dermatologista tornou-se pioneira no Brasil ao importar conhecimentos internacionais para atender demanda crescente

Katleen Conceição: "Pela falta de estudo e especialização sobre a pele negra e os seus diferenciais, muitos dermatologistas avaliam superficialmente os problemas comuns a negros." (Katleen Conceição/Divulgação)

Katleen Conceição: "Pela falta de estudo e especialização sobre a pele negra e os seus diferenciais, muitos dermatologistas avaliam superficialmente os problemas comuns a negros." (Katleen Conceição/Divulgação)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 20 de março de 2025 às 14h00.

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Apesar da presença majoritária da população negra no Brasil, o mercado e os estudos nem sempre refletiram essa diversidade. A medicina, em particular, carece historicamente de estudos e especializações que atendam adequadamente as particularidades da pele negra. Essa realidade foi identificada por Katleen Conceição, a primeira dermatologista brasileira especializada em pele negra, após sua pós-graduação.

A paixão de Katleen pela dermatologia começou na juventude, influenciada pelo trabalho do pai, também dermatologista. "Ele é minha maior referência, então iniciei minha jornada a partir do incentivo dele", explicou. Após concluir sua graduação, ela se especializou em Medicina Estética e, em menos de seis meses, já se destacava como professora do curso, auxiliando outros médicos a integrar a estética no atendimento.

Foi nesse contexto que a demanda por atendimento especializado em pele negra começou a crescer, e Katleen passou a perceber que os demais médicos estavam, muitas vezes, encaminhando pacientes negros para ela, acreditando que fosse especializada nesse campo.

“Percebi que os outros dermatologistas tinham dificuldades em tratar questões específicas da pele negra”, afirma. O ponto de virada veio quando, em 2006, ela participou de um congresso da Academia Americana de Dermatologia, em São Francisco.

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Lá, Katleen descobriu uma sociedade que se dedicava exclusivamente ao estudo da pele pigmentada – a Skin of Color Society – e se impressionou com o nível de desenvolvimento dos estudos e tecnologias voltadas para peles como a dela. “Quando percebi o quanto nós não éramos estudados aqui no Brasil, que não tínhamos essa visão tão específica para a pele negra, decidi me aprofundar”, disse.

De volta a minha terra

Ao voltar para o Brasil, Katleen começou a incorporar esses conhecimentos em sua prática. Passou a entender grandes personalidades negras, como as famílias das atrizes Taís Araújo e a Isabel Fillardis, além do cantor Thiaguinho. Assim, logo ficou conhecida como uma referência no tratamento da pele negra brasileira.

A médica se associou à Sociedade Brasileira de Dermatologia e à Sociedade Americana de Dermatologia para Pele Negra. Há quatro anos, Katleen criou um programa de especialização em dermatologia para pele negra na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, primeiro serviço do setor no Brasil.

O curso não é exclusivo para médicos negros, mas busca abrir o olhar de todos os profissionais para essa população, tratando de patologias específicas e cuidados diferenciados. Atualmente, o programa já está na quinta turma, e se dedica a mudar a abordagem da dermatologia no Brasil a partir da educação racial na saúde.

Katleen explica que justamente pela falta de estudo e especialização sobre a pele negra e os seus diferenciais, muitos dermatologistas avaliam superficialmente os problemas comuns a negros, sem tratar a raiz dos problemas. A partir das pesquisas, a médica se tornou a primeira no Brasil a trabalhar com o laser específico para pele negra. “Testei muito no meu corpo para entender a dinâmica e a física por trás dos equipamentos”, afirma.

Reconhecimento

Com mais de 350 mil seguidores nas redes sociais, Katleen enxerga seu impacto e contribuição para a dermatologia brasileira. “Outros médicos negros também se inspiram muito em mim. Assim como o meu pai foi uma referência para mim, acho importante ter outros médicos que sejam referência para os alunos e jovens”, afirma.

Ela explica que a importância de debater os cuidados específicos da pele negra deriva muitas vezes do difícil acesso à serviços especializados por parte dessa população. “A maior parte da população só consegue acessar a saúde pública, que ainda não tem esse olhar para pessoas negras. Acho importante que cada vez mais profissionais estudem e olhem as diferenças dessa população”, afirma.

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