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Especial Trajetórias: Josimara Baré, a indígena e gestora de fundos

À frente do Fundo Indígena Rutî, a administradora de empresas está ajudando a garantir autonomia financeira e a proteção dos territórios indígenas de Roraima

Josimara Baré: A COP30, que será realizada no Brasil, pode ser um marco para a luta indígena. (Josimara Baré/Divulgação)

Josimara Baré: A COP30, que será realizada no Brasil, pode ser um marco para a luta indígena. (Josimara Baré/Divulgação)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 24 de março de 2025 às 19h23.

Última atualização em 25 de março de 2025 às 10h18.

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Filha de uma liderança indígena forte da região do Rio Negro, Josimara Baré cresceu entre dois mundos: sua comunidade, na Terra Indígena Cue Cue Marabitana, e a cidade. “Desde cedo, vivi essa dualidade, entendendo a importância de preservar nossas tradições enquanto me adaptava aos desafios do mundo urbano”, explica.

Numa trajetória ainda incomum entre índigenas, a jovem estudou Administração na Universidade do Estado do Amazonas, se tornando assim, uma das primeiras mulheres da sua família a concluir o ensino superior. Desde então, tem se dedicado ao fortalecimento do seu povo, equilibrando as competências técnicas da formação com os saberes e necessidades de povos originários.

Foi em 2021, quando começou a trabalhar com um projeto pioneiro de financiamento Fundo Indígena do Rio Negro, que teve o primeiro contato com a experiência que começaria a moldar seu caminho para a liderança que assume agora.

O objetivo da época era estruturar um mecanismo que garantisse a autonomia financeira das comunidades tradicionais. “Embarquei em um universo totalmente desconhecido, sem imaginar o impacto que essa jornada teria na minha vida e na de tantos outros”, conta.

Foram três anos nessa coordenação, auxiliando na estruturação de um modelo inovador e, principalmente, que se mostrasse eficiente. O principal obstáculo era dar escala ao projeto, garantindo que a mesma experiência pudesse ser aplicada em outros territórios e apoiar o máximo possível de pessoas.

Nasce o Fundo Rutî

Anos depois, no segundo semestre de 2024, surgia a oportunidade de assumir a liderança do Fundo Indígena Rutî, vinculado ao Conselho Indígena de Roraima (CIR), organização com mais de 50 anos de atuação na luta pelos direitos dos povos tradicionais do Estado.

Josimara explica que ao aceitar, muito mais que se ver diante de um desafio profissional novo, sentiu que assumia também um processo de resgate de direitos históricos. “A união entre técnica, tradição e sensibilidade nos permite criar estratégias únicas para o fortalecimento do movimento. Contudo, esse equilíbrio nos dá um grande diferencial”, conta.

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Com a missão de desburocratizar o acesso a recursos e garantir autonomia financeira para as comunidades roraimenses, o Fundo Indígena Rutî atua em um modelo de gestão compartilhada, que   busca garantir maior transparência e segurança na execução.

Ainda em fase piloto, o Fundo deve apoiar 25 projetos neste ano, com um investimento inicial de R$ 2,275 milhões. “Nosso objetivo é que, no futuro, cada vez mais comunidades possam prosperar e ter autonomia financeira e de gestão de seus territórios”, explica a administradora.

A primeira chamada será aberta neste mês, com foco em projetos de agropecuária sustentável e produtos indígenas e a meta de alcançar as 35 terras indígenas de Roraima.

Reparação histórica

A importância de se direcionar recursos diretamente para os povos indígenas, segundo Josimara, vai além de uma questão financeira. "Não somos carentes, somos povos que sempre souberam gerir seus territórios”, diz.

Para ela, esse financiamento é uma reparação histórica e também uma forma de fortalecer o papel da população no combate às mudanças climáticas.

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A índigena destaca ainda a importância da presença das mulheres na gestão desses fundos, algo que, para ela, traz uma visão estratégica única. "Somos flexíveis, sensíveis e abertas a novas formas de fazer as coisas. Nossa presença na gestão desses recursos é crucial para garantir que os projetos sejam moldados pela sabedoria ancestral", explica.

COP30, a COP da Amazônia

No último mês, Josimara participou da Conferência Global de Fundos Liderados por Indígenas, no Quênia, onde participou de discussões sobre a importância dessas ferramentas para garantir autonomia financeira e fortalecer as comunidades.

"A articulação global entre os povos tradicionais é fundamental para garantir que os territórios sejam preservados e as culturas protegidas", reflete, a partir do que vivenciou na Conferência. Analisando o contexto brasileiro, ela afirma que visualizou uma maturidade significativa do país quanto ao financiamento direto para povos originários.

Para a COP30, que será realizada no Brasil em novembro, sua expectativa é que o evento seja um marco para a luta indígena e para a promoção de uma agenda climática mais justa. “Temos um papel importante nesse debate, pois somos os principais protetores das florestas e dos ecossistemas que regulam o clima do planeta”, conta.

Contudo, ela alerta, a participação precisa ser estratégica e bem articulada. Josimara espera que os povos brasileiros estejam não somente bem representados, como incluídos nas mesas onde as decisões são tomadas. E que o financiamento climático chegue finalmente, diretamente às comunidades, sem intermediários.

“Esta não é apenas uma luta dos povos indígenas, é uma luta de toda a humanidade. Que futuro queremos? Para qual futuro estamos nos preparando?”.

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