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ESG, 21 anos: é hora de consolidar e ampliar as conquistas

"Apesar da ascensão e consolidação do ESG como um elemento central no mundo dos negócios, nos últimos dois anos o noticiário vem apresentando um quadro menos entusiasmado, que sugerem uma nova fase na sua trajetória", conta Janaina Vilella

Janaina Vilella, diretora de Comunicação e ESG da B3: "O ESG não apenas segue consistente, como também está em uma nova etapa de evolução" (B3/Divulgação)

Janaina Vilella, diretora de Comunicação e ESG da B3: "O ESG não apenas segue consistente, como também está em uma nova etapa de evolução" (B3/Divulgação)

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Publicado em 7 de janeiro de 2025 às 10h09.

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Por Janaina Vilella*

Em 2025, completam-se 21 anos desde que foi cunhada a sigla que viria a chacoalhar o jeito de fazer negócios em todo o mundo: o ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança Corporativa).

O surgimento do conceito se deu em um relatório do Banco Mundial e do Pacto Global intitulado “Who care wins” (“Ganha quem se importa”), que respondia a uma provocação do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, para quem era necessário encontrar uma forma de integrar essas três dimensões ao mercado de capitais.

Desde então, o ESG passou por uma ascensão colossal: transbordou os fóruns de debates, ganhou as salas de reunião e conquistou o interesse dos tomadores de decisão, de investidores, reguladores e da sociedade de maneira geral. Dessa forma, deixou de ser uma aspiração para ser um conjunto de práticas concretas que movimenta os mercados.

Os números falam por si: a indústria global de investimentos ESG já alcança um estoque da ordem de trilhões de dólares e conta com alguns dos maiores gestores de recursos do planeta – o que mostra que não é mais um assunto de nicho, e sim um tema incontornável para todos que buscam alocar seus recursos de forma estratégica.

Além disso, a sociedade, os governos e os órgãos multilaterais esperam cada vez mais que as empresas demonstrem um compromisso real com o tema. Essa foi uma das mensagens principais da última Conferência das Partes da ONU (COP), que trata de mudanças climáticas: as empresas precisam entender que o setor privado não é apenas um participante, mas um protagonista indispensável na transição para um mundo mais sustentável.

Para onde vai o ESG?

Apesar da ascensão e consolidação do ESG como um elemento central no mundo dos negócios, nos últimos dois anos o noticiário vem apresentando um quadro menos entusiasmado, que sugerem uma nova fase na sua trajetória.

Entre os principais pontos de atenção estão a diminuição dos lançamentos de fundos ESG, a desaceleração dos fluxos de capital nesses veículos de investimento e campanhas contrárias por parte de quem deseja manter as coisas como sempre foram – do fomento a fontes de energia poluidoras a práticas que inibem a diversidade no mercado.

O movimento contrário ao avanço da sustentabilidade até já ganhou um nome: é o greenlash. Ele surge quando iniciativas de impacto positivo encontram dificuldades em avançar por conta de grupos céticos, que veem nessas práticas custos desnecessários ou barreiras ao crescimento econômico.

O cenário mais turbulento para o ESG, naturalmente, leva muitas pessoas a se perguntarem qual é o futuro do movimento. Será que se esgotou? Será que adotar boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa é uma distração incompatível com boas taxas de retorno financeiro?

A resiliência do ESG

Como alguém que atua todos os dias no epicentro do mercado de capitais brasileiro, e que, portanto, está em contato permanente com empresas e investidores, tenho convicção de que é o oposto: o ESG não apenas segue consistente, como também está em uma nova etapa de evolução. Hoje, ele é mais exigente, mais maduro e mais institucionalizado.

Ficou para trás um tempo em que o ESG era uma novidade crua, sem limites claros nem instituições definidas, em que era possível surfar a onda livremente, sem compromisso sério.

Nesse novo momento, o ecossistema de negócios, que inclui empresas, reguladores e a própria sociedade, já não vê o ESG como uma agenda opcional ou exógena, mas como o novo normal – e por isso, começa a criar parâmetros claros que incorporam o conceito às práticas exigidas ou esperadas de todos os participantes de mercado.

A União Europeia, por exemplo, aprovou uma medida que exige das empresas a divulgação de relatórios detalhados sobre suas práticas ambientais, sociais e de governança, seguindo um padrão rigoroso que torna as publicações mais profundas e comparáveis.

No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também está avançando nesse sentido. A partir de 2026, empresas listadas, fundos e companhias securitizadoras terão de reportar seus riscos e oportunidades de sustentabilidade de acordo com o padrão do International Sustainability Standards Board (ISSB), órgão ligado ao IFRS Foundation, responsável pelo padrão contábil mais adotado pelas empresas de capital aberto do mundo.

Outro exemplo do amadurecimento é o avanço das taxonomias. Se antes havia confusão sobre o que realmente poderia ser considerado ESG, agora instituições nacionais e internacionais estão criando classificações que identificam com clareza quais iniciativas pertencem a essa categoria. Esse é um passo fundamental para separar o que é compromisso real com a sustentabilidade de iniciativas que, por vezes, apenas pegam carona no ESG sem gerar impacto efetivo. Nesse novo tempo, mais do que parecer, é preciso ser uma empresa comprometida com o mundo em que está inserida.

Essas e outras medidas similares são altamente técnicas, mas desencadeiam revoluções silenciosas nas práticas de mercado que contribuem para dar fôlego e perenidade às conquistas anteriores.

ESG mais maduro e em evolução

Apesar das críticas e das pressões, o ESG segue forte porque não é uma tendência passageira baseada em voluntarismo ou condições transitórias. É, isso sim, uma agenda enraizada em questões estruturais que afetam diretamente a viabilidade dos negócios globalmente.

Enquanto persistirem essas questões (como as mudanças climáticas, a demanda da sociedade por diversidade e respeito aos direitos humanos, a exigência de mecanismos anticorrupção etc.), o movimento continuará relevante para o sucesso e para a perenidade das empresas e dos investimentos.

O ESG, afinal, é um elemento que contribui para a geração de retorno financeiro e para a redução do risco e da volatilidade. É o que mostra a experiência. No Brasil, por exemplo, o ISE B3 (Índice de Sustentabilidade Empresarial) superou o Ibovespa B3 em 11 de seus 18 anos completos de vida.

Diante de tudo isso, não surpreende que o tema continue ganhando importância e espaço no mercado. Um estudo da Bloomberg Intelligence chegou à conclusão de que os volumes devem crescer ainda mais ao longo da década e chegar a US$ 40 trilhões até o ano de 2030, mesmo considerando o crescimento 70% mais lento e o sentimento polarizado observados recentemente.

Depois de 21 anos, podemos afirmar que o percurso do ESG é como o do próprio mercado: dinâmico, descentralizado e por vezes caótico, mas com tendência de evolução. Nesta nova fase, menos barulhenta, porém mais profunda e consistente, é fundamental que os líderes empresariais compreendam o ciclo de amadurecimento pelo qual o tema está passando. Não é hora de recuar, mas sim de consolidar e ampliar as conquistas.

*Janaina Vilella é diretora de Comunicação e Sustentabilidade da B3, a bolsa de valores do Brasil

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