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Entre promessas e temporais, Petrópolis expõe urgência da adaptação climática no Brasil

Selecionada pela iniciativa federal de resiliência climática, a cidade enfrenta nova emergência dias após o anúncio do programa

A cidade de Petrópolis em fevereiro de 2022, quando enfrentou deslizamentos decorrentes do temporal à época. Cenário se repetiu no último final de semana.  (Florian PLAUCHEUR/AFP)

A cidade de Petrópolis em fevereiro de 2022, quando enfrentou deslizamentos decorrentes do temporal à época. Cenário se repetiu no último final de semana. (Florian PLAUCHEUR/AFP)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 7 de abril de 2025 às 17h02.

Última atualização em 7 de abril de 2025 às 17h17.

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Menos de três anos após a tragédia de 2022 que deixou mais de 100 mortos, Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, enfrenta nova situação de calamidade. No último sábado, 5, após fortes chuvas atingirem o município desde sexta-feira, a prefeitura local declarou estado de emergência.

A chuva excepcional provocou deslizamentos, alagamentos, queda de árvores e postes, além de deixar mais de 3,3 mil pessoas sem luz em algumas regiões.

Segundo dados dos pluviômetros do Cemaden Nacional, em apenas 24 horas, o município registrou mais de 300 mm de chuva na localidade de São Sebastião, um dos distritos mais afetados. Este volume representa 50% mais do que o esperado para todo o mês.

Outros pontos críticos incluíram o Independência, com 296,81 mm, o Alto da Serra, com 295,81 mm, e Chácara da Flora, com 248,2 mm de precipitação.

Na manhã desta segunda-feira, 7, o governo federal reconheceu oficialmente a situação de emergência, permitindo que o município possa solicitar recursos para ações de defesa civil, como compra de cestas básicas, água mineral, kits de limpeza e contratação de pessoal para atendimento emergencial.

Políticas de adaptação: entre o planejado e o urgente

Nos últimos anos, diversas localidades brasileiras têm sofrido com desastres relacionados a chuvas intensas e outros eventos extremos mais frequentes e intensos.

O cenário atual em Petrópolis, que trouxe à memória a tragédia de fevereiro de 2022, resgatou também o que especialistas já apontavam na época: o evento como um alerta sobre os impactos das mudanças climáticas.

Apenas cinco dias antes das novas inundações na região, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) havia anunciado o programa Cidades Modelo Verdes Resilientes, que prevê a estruturação de 100 projetos voltados para a mitigação e adaptação dos municípios para o enfrentamento da mudança climática.

Petrópolis está entre as 50 cidades selecionadas para a fase inicial do programa. Durante o lançamento da iniciativa, o governo destacou que cada município contará com suporte técnico para desenvolver duas ações climáticas de grande impacto.

A primeira, voltada para a mitigação, visando reduzir as emissões responsáveis pela crise climática, e outra focada na adaptação, permitindo que os municípios se preparem e respondam melhor aos desafios impostos pelos efeitos da crise climática.

Para apoiar a implementação do Programa Cidades Verdes Resilientes, foram anunciados investimentos anuais de R$ 1,6 bilhão por meio do Pró-Cidades, do Ministério das Cidades, e R$ 10 bilhões provenientes do Fundo Clima, do Ministério do Meio Ambiente.

Porém, casos como o de Petrópolis demonstram que, para além das iniciativas de médio e longo prazo, são necessárias respostas imediatas para lidar com a crescente vulnerabilidade.

Adaptação como agenda de negócios

Professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista em adaptação climática, Mariana Nicolletti atentou em um artigo publicado em junho de 2024, sobre como a adaptação às mudanças de clima não pode ser tratada somente como uma questão ambiental, por ser também uma urgente agenda de negócios.

"A lacuna de investimentos, políticas e ações de prevenção de riscos resulta em uma espiral de vulnerabilidades socioeconômicas, impactos e aumento de desigualdades", escreveu a especialista.

Mariana ressaltou ainda que "por outro lado, investir na prevenção é um bom negócio, tanto para governos quanto para empresas", salientando a importância de um compromisso conjunto pela adaptação.

Outra autoridade no tema, Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, trouxe o mesmo alerta em outubro do mesmo ano: "Adaptação é a primeira linha de defesa".

Com base no exemplo do Rio Grande do Sul, Natalie lembrou que embora o estado tenha sido atingido por uma catástrofe climática sem precedentes no Brasil no início de 2024, investimentos prévios em políticas e medidas de adaptação e infraestrutura resiliente poderiam ter amenizado muitos dos efeitos das enchentes.

Este princípio vale também para localidades como Petrópolis. "Cidades mais resilientes são aquelas que investem apostando que os eventos virão, que não vamos conseguir contê-los e que precisaremos lidar com eles", explicou Natalie.

O custo da inação versus o investimento em prevenção

A presidente do Talanoa destacou ainda que, no caso de fortes chuvas, tecnologias relativamente simples com capacidade de absorver água podem resultar em adaptações inteligentes e efetivas — como a bem-sucedida iniciativa da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, que implementou sensores nos bueiros para indicar pontos de alagamento e onde seria necessária uma limpeza pelo acúmulo de rejeitos.

Embora a geografia e topografia de Petrópolis representem desafios adicionais, soluções adaptadas poderiam ser implementadas considerando as particularidades locais.

"No Brasil, o desafio se intensifica com o histórico de baixos investimentos em infraestrutura resiliente. Faltou maior envolvimento de governos e iniciativas privadas", concluiu Natalie.

De acordo com a Comissão Global sobre Adaptação, cada US$ 1,8 trilhão investido em adaptação entre 2020 e 2030 poderia resultar em benefícios equivalentes a US$ 7,1 trilhões.

Entretanto, os investimentos em adaptação climática estão muito aquém do necessário — não somente localmente, mas em todo o mundo —, chegando a apenas US$ 63 bilhões entre 2021 e 2022, quando seriam necessários US$ 212 bilhões anualmente até 2030 para os países em desenvolvimento se adaptarem adequadamente.

Agora, no Brasil, enquanto os planos de longo prazo são desenvolvidos, os moradores de Petrópolis e outras cidades vulneráveis permanecem à mercê de eventos climáticos cada vez mais frequentes e intensos, evidenciando a urgência de ações concretas que transformem a adaptação climática de conceito em realidade.

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