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Entenda sobre a integração elétrica na América Latina

Um novo mercado regional começa a se desenvolver nos países andinos, inspirado por iniciativas na Europa e América Central

Barragem de Itaipu na fronteira entre Brasil e Paraguai (diegograndi/envato)

Barragem de Itaipu na fronteira entre Brasil e Paraguai (diegograndi/envato)

Gabriel Cunha
Gabriel Cunha

Colunista

Publicado em 9 de setembro de 2024 às 17h00.

Última atualização em 9 de setembro de 2024 às 17h07.

A Europa é um exemplo de região profundamente integrada em termos de setor elétrico. A Dinamarca, que possui uma demanda de energia da ordem de 4.000 megawatts (MW), tem uma interconexão elétrica com a vizinha Alemanha, cuja capacidade é 2.500 MW, ou seja, mais de 60% de sua demanda. A interconexão é utilizada para exportar geração eólica da Dinamarca e geração hidrelétrica dos países nórdicos e para importar geração solar da Alemanha. Este é um grande benefício da integração elétrica: o aproveitamento de diferenças de matriz energética entre os países para construir um efeito portfólio.

Entre os países do Cone Sul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), também há um grande benefício potencial de aproveitar efeitos portfólio da integração elétrica. Este tema foi muito explorado, particularmente entre as décadas de 1970 e 1990, quando foram construídas três “hidrelétricas binacionais” na região.

As usinas hidrelétricas de Itaipu (Brasil/Paraguai), Yacyretá (Argentina/Paraguai), e Salto Grande (Argentina/Uruguai) são peças-chave desta integração, complementando as linhas de transmissão que interconectam a região.

A interconexão do Cone Sul certamente tem um papel importante na prática, porém, ainda é incipiente em termos de cooperação institucional e robustez dos marcos normativos (regulatórios, operacionais, e de mercado). Isto é particularmente evidente na comparação com outras iniciativas na própria América Latina, como o Mercado Elétrico Regional (MER), da América Central, e a nascente regulamentação do Mercado Elétrico Andino.

O Mercado Andino ainda é mais uma promessa do que realidade, pois atualmente envolve apenas uma interconexão operacional com capacidade de 500 MW entre Colômbia e Equador. Entretanto, no ano passado foi aprovado crédito para a construção de uma linha de transmissão interconectando Equador e Peru, e em maio de 2024 foi aprovada uma resolução multinacional estabelecendo as regras operacionais e comerciais do mercado regional e definindo atribuições para o operador regional. Considerando que a complexidade de operar sistemas elétricos com alta penetração de renováveis é cada vez maior, a ausência de um acordo amplo como este no Cone Sul pode ser um fator limitante para a remoção de fricções do mercado de forma a extrair o máximo valor da integração.

O MER, da América Central, é um mercado regional já funcional, cujas regras operativas entraram em vigência em 2013 e com uma linha de transmissão que conecta os seis países da região. O MER permite que os operadores nacionais possam se comunicar usando uma linguagem comum, viabilizando intercâmbios bidirecionais importantes.

Com a transição energética mundial, muitas vantagens podem ser extraídas de acordos de cooperação robustos direcionados para o benefício mútuo dos países interconectados. Viabilizar esses acordos não é uma tarefa simples, e é importante não subestimar os desafios envolvidos, mas certamente há lições importantes que podem ser extraídas das experiências internacionais, tanto da Europa como da própria América Latina.

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